terça-feira, 24 de abril de 2007

O Gênese, segundo George Gamow

George Gamow (1904-1968), físico russo nascido na cidade de Odessa e professor da Universidade George Washington, foi um dos formuladores da teoria do Big Bang, tendo sido autor da hipótese (1946) de que o Universo, no seu início abrasador, era formado por uma colossal sopa de nêutrons, à qual deu o nome de "ylem". A fusão desses nêutrons (nucleossíntese) no Big Bang deu origem aos átomos mais leves (hidrogênio, hélio e lítio). Notou-se, porém, a ausência do elemento de peso cinco nessa fase inicial, o que inviabilizava a continuação da nucleossíntese para a obtenção de elementos mais pesados: um obstáculo que foi posteriormente contornado por Fred Hoyle (1915-2001), físico inglês da Universidade de Cambridge, com a teoria de que a nucleossíntese teve prosseguimento nas estrelas. Em outra oportunidade (1948) Gamow postulou a existência da radiação cósmica de fundo, um ruído da explosão primordial que acompanha o Universo na sua expansão eternidade adentro, que existiria atualmente no espectro das radiações de microondas, à temperatura, segundo seus cálculos, de 5 graus absolutos. Em 1965 Penzias e Wilson, com sua gigantesca antena de Crawford Hill, Nova Jersey, detectaram por acaso a radiação cósmica de fundo, à temperatura precisa de 2,7 graus absolutos.
Gamow, que era espirituoso e brincalhão, foi o autor de uma versão do Gênese, incluída na sua autobiografia, My Word Line:


"No princípio Deus criou a radiação e o ylem. E o ylem era sem forma ou número, e os núcleons corriam loucamente sobre a face da profundidade abissal.

E Deus disse: "Que haja a massa dois." E houve a massa dois. E Deus viu o deutério, e o deutério era bom.

E Deus disse: "Que haja a massa três." E houve a massa três. E Deus viu o trítio, e o trítio era bom.

E Deus continuou chamando número após número até chegar aos elementos transurânicos. E então, contemplando a sua obra, Deus viu que ela não era boa. No entusiasmo da contagem deixara de criar a massa cinco, e, se assim ficasse, nenhum elemento mais pesado poderia ter sido formado.

Deus ficou muito desapontado e quis contrair o Universo novamente e começar tudo de novo. Mas isso seria simples demais. E então, sendo todo-poderoso, Deus quis corrigir aquele engano da forma mais impossível.

E Deus disse: "Que haja o Hoyle." E houve o Hoyle. E Deus, olhando para Hoyle, ordenou-lhe que produzisse elementos pesados do jeito que lhe aprouvesse.

E Hoyle decidiu fabricar elementos pesados nas estrelas e espalhá-los mediante explosões de supernovas. Ele tinha, porém, de obter as mesmas quantidades que teriam resultado da nucleossíntese do ylem, se Deus não tivesse esquecido de chamar a massa cinco.

E assim, com a ajuda de Deus, Hoyle fez os elementos desse modo, mas era tão complicado que, hoje em dia, nem Hoyle, nem Deus, nem ninguém mais pode determinar exatamente como foi feito. Amém."


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