segunda-feira, 23 de abril de 2007

Hipácia de Alexandria, mártir da ciência

Hipácia (370- 415), filha do professor Teon, da Universidade de Alexandria, foi educada por seu pai para ser uma mulher perfeita.Tornou-se filósofa, matemática e astronôma, para além de ser considerada a maior oradora de seu tempo. A ela atribui-se a invenção do astrolábio e do planisfério, que são instrumentos usados na Astronomia, e de um hidrômetro, usado na Física. Seu talento para ensinar Astronomia, Filosofia e Matemática atraía admiradores de todo o império romano, tanto pagãos como cristãos. Consta que era constantemente procurada por matemáticos de todo o mundo para encontrar a solução de problemas que não conseguiam resolver. Obcecada pela Matemática e pelo processo de demonstração lógica, exercia grande influência nos meios filosóficos alexandrinos, tentando unificar o pensamento matemático de Diofante com o neoplatonismo de Plotino.
- Pensar errado é melhor do que não pensar, afirmava Hipácia para seus alunos.
Sua devoção à ciência foi o motivo de sua trágica morte, pois Cirilo, o patriarca de Alexandria, começou a perseguir os seguidores de Platão, aos quais chamava de “hereges”, e colocou Hipácia no topo da lista de pessoas indesejáveis. Hipácia representava uma ameaça por defender a Ciência e o Neoplatonismo, para além de ser mulher, e muito bonita, o que exacerbava todos os ânimos e aumentava a intolerância contra ela. Numa época em que se procedia à marginalização das mulheres nas funções do poder, uma pagã assumia o símbolo da sabedoria e concorria com as autoridades religiosas da sua cidade. Como admitir que uma mulher pregasse em suas aulas que o Universo era regido por leis matemáticas? Insuflados pelo patriarca, fanáticos tresloucados investiram contra ela, no ano de 415, num dos episódios mais lamentáveis da história da humanidade, que foi assim descrito pelo historiador inglês Edward Gibbon:

"Num dia fatal, na estação sagrada de Cuaresma, Hipácia foi arrancada de sua carruagem, despida e arrastada nua para a igreja, onde foi desumanamente massacrada pelas mãos de Pedro, o Leitor, e sua tropa de fanáticos selvagens e impiedosos. A carne foi esfolada de seus ossos com ostras afiadas e seus membros, ainda palpitantes, foram atirados às chamas".

Acredita-se que a obra de Hipácia tenha incluído importantes estudos sobre a Aritmética de Diofante, as Cônicas de Apolônio e o Almagesto. Nada, porém, chegou até nós, talvez como conseqüência da destruição da biblioteca de Alexandria, no ano 642, pelos árabes do General Amr Ibn Al As, que conquistaram o Egito sob o comando do Califa Omar.
A partir do episódio de Hipácia, Alexandria perderia o seu esplendor e o Ocidente iria mergulhar no obscurantismo e nele permanecer durante vários séculos.

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