quinta-feira, 12 de abril de 2007

Controvérsia sobre Shakespeare(em três partes)


Controvérsia sobre Shakespeare (final)

A obra shakesperiana utiliza um vocabulário que se estima alcançar 21 mil palavras (alguns chegam a falar em 25 mil palavras), maior do que a de qualquer outro escritor inglês; Milton, por exemplo, construiu toda a sua obra com 7 mil palavras, ao passo que um inglês razoavelmente culto usa entre 3 mil e 4 mil palavras. Daí o fato de alguns Heréticos, chamados de Grupistas, defenderem que há muitas mãos, mentes e vocabulários na obra shakesperiana, cuja autoria haveria de ser multicompartilhada.
Francis Bacon teria escrito pelo menos os Sonetos, Rapto de Lucrécia, Vênus e Adônis e Trabalhos de Amor Perdido, não lhe faltando, para esta última obra, sobejos conhecimentos sobre a corte de Navarra, o esporte da falconaria, os constructos legais e o jargão de Cambridge.
William Stanley, o Conde de Derby, afirmam outros, teria escrito a Tempestade, pois era versado em filosofia mística e rosa-cruz, estava integrado à tradição esotérica que estabeleceu as bases do Renascimento, conhecia profundamente a República, de Platão, e, por força de suas atribuições administrativas, era familiarizado com Calf of Man, a ilha perdida na imensidão do mar da Irlanda, que se supõe ser o local que inspirou a obra.
Segundo Sigmund Freud, que via desabafos e confissões autorais nas tramas shakespearianas, o Conde de Oxford, ou seja, Edward de Vere, escreveu o Hamlet, tratando-se de um nobre que, como Hamlet, perdeu o pai muito cedo, viu a mãe recasar-se sem aturar nojo nenhum, conheceu muito bem a Dinamarca e, a exemplo de Hamlet, matou um criado quase por acidente. Além do mais, teve três filhas, fato que, para Freud, habilita-o para autor do Rei Lear.
Outro escritor preferido dos Heréticos é Christopher Marlowe, que teria simulado a própria morte, para enganar os inimigos, escondendo-se sob o nome de Shakespeare. A autoria shakespeariana de Marlowe teria sido comprovada por Thomas Mendenhall, presidente da Associação Americana para o Progresso da Ciência. Para Mendenhall os escritores da língua inglesa tendem a apresentar textos com o mesmo número de palavras de duas letras, de três letras, de quatro letras etc, por mil palavras escritas. Cada escritor tem o seu padrão, pessoal e exclusivo, de freqüência de palavras com determinado número de letras. Chamado a usar seu método para comparar textos de Bacon e Shakespeare, Mendenhall descartou que tivessem sido escritos pela mesma pessoa, pois Bacon usava mais palavras de duas letras, de três letras e mais de sete letras do que Shakespeare, e menos palavras de quatro, de cinco e de seis letras. Mendenhall decidiu então usar o seu método para comparar textos de Shakespeare e Marlowe e obteve um resultado surpreendente, pois, segundo ele, os testes indicaram que se tratava de textos produzidos pela mesma pessoa. Mendenhall publicou seus gráficos e conclusões na revista “The Popular Science Monthly”, de dezembro de 1901, como parte do artigo “A Mechanical Solution to a Literary Problem”. Marlowe, afirmam os Heréticos ditos Marlowianos, escreveu A Comédia dos Erros, Tito Andrônico, Romeu e Julieta, Ricardo II, Ricardo III e Henrique VI, ele que estudou seis anos e meio em Cambridge .
Charles Dickens, grande escritor inglês do Século XIX, declarou certa vez: “A vida de Shakespeare é um fino mistério, e todo dia tremo de medo de que venha a ser esclarecido."
Henry James (1843-1916),
autor de alguns dos romances, contos e críticas literárias mais importantes da literatura de língua inglesa, foi mais contundente que Dickens e afirmou: "Suspeito que o divino William- o homem de Stratford- é a maior e mais bem sucedida fraude imposta a este mundo desatento."
A autoria de Shakespeare está longe de ser resolvida, por absoluta falta de provas e de argumentos conclusivos, com uma pletora de autores e obras a favor e outra contra William Shakespeare. Uma controvérsia empedernida, mas apaixonante. Citando Dumas, sem mencionar se pai ou se filho, disse James Joyce no Ulisses: "Depois de Deus, quem mais criou foi Shakespeare".
Tenha ou não nascido em Stratford-upon-Avon.

Nenhum comentário: