quinta-feira, 31 de maio de 2007

RETALHOS DO QUOTIDIANO (parte 16/26)

Eu sou o Al Pacino

Faça de conta que você está num barzinho do Leblon e a moça mais bonita da General San Martin lhe pergunta se você curte o Al Pacino e o que é Termodinâmica. Isso mesmo, você vai dar essa aula para a moça mais bonita da San Martin, segurando o giz como quem segura um copo de uísque.

- Sim, sim, também curto o Al Pacino.

A aula da minha vida, o uísque da minha vida, a moça da minha vida. E eu, bem, eu sou o Al Pacino, que vai dar a aula para a moça da San Martin.

Treinando os três princípios

Lembre-se, Carlinhos idiota, nada de integrais ou de logaritmos neperianos, nem de médias harmônicas ou de transformadas de Laplace.
O Primeiro Princípio da Termodinâmica garante a conservação da energia, é preciso que isso fique muito claro. Não posso esquecer, na hora, de mencionar que o Universo é um sistema fechado e portanto de energia constante, distribuída no petróleo, na luz do sol, nas plantas, nas barragens - energia nuclear, energia mecânica, energia química, energia elétrica... Energia por toda parte, mudando de uma forma para outra.
O Segundo Princípio limita as transformações entre calor e trabalho, pois é impossível que uma máquina térmica isolada e independente transfira calor de um corpo frio para um corpo quente, isto é, o moto contínuo de primeira espécie é inviável, assim agora e assim eternidade adentro. O Segundo Princípio pressupõe a morte térmica do Universo, pelo aumento incessante e irreversível de entropia, até o nivelamento completo das temperaturas do Universo.
Mas há também um Terceiro Princípio da Termodinâmica, pelo qual não é possível atingir o zero absoluto utilizando uma seqüência finita de processos termodinâmicos. Ou, dizendo melhor, é impossível alcançar a temperatura correspondente ao zero absoluto.

Montaigne

Claro que, ao citar Mayer e Carnot, devo dizer como foi que eles morreram, de acordo com as informações que venho recolhendo nas minhas pesquisas da Biblioteca Nacional. Para avaliar se uma pessoa foi feliz, isto é, se valeu a pena ter vivido, é preciso saber como foi que ela morreu, e quem ensina isso é Montaigne. Se tais coisas não ficarem esclarecidas, isto é, se não se conhece o lado humano e doloroso dos físicos, os alunos podem pensar que a ciência se faz num céu de brigadeiro, sem pessoas, sem alma, sem angústia e sem sofrimento. Que a Física surge do nada, como a noite, a chuva, as manhãs de outono, o vento leste, ou pelas artimanhas de alguma máquina, bastando ligá-la na tomada ou alimentá-la de petróleo num posto de gasolina.

Ricardo III

Vou seguir esse roteiro. Problema, se houver, será responder às perguntas da banca, inesperadas, surpreendentes e ameaçadoras. Mas isso está fora do meu controle. Seja como for, lembre-se de que o professor é um ator num palco, fazendo o Ricardo III. Cinco salários mínimos! Cinco salários mínimos! Meu reino por cinco salários mínimos!

- Concluo, senhoras e senhores, depositando-lhes toda a verdade: eu sou o Al Pacino!
(continua)

Um comentário:

Anônimo disse...
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