segunda-feira, 7 de maio de 2007

Dogma do círculo

Platão (428 ou 427 a. C. - 347 a. C.) é um dos mais importantes pensadores gregos. O filósofo do século XX Alfred North Whitehead declarou certa vez que toda a filosofia não passava de uma nota de rodapé a ser anexada à obra de Platão.
Platão criou sua Academia em 387 a.C. num olival situado num subúrbio de Atenas, que havia pertencido ao herói Akademus. Na porta de entrada da Academia, o filósofo mandou colocar um aviso, de nítida inspiração pitagórica:

Não entre aqui quem não saiba geometria".

Aristóteles ingressou na Academia de Platão quando tinha 17 anos, e nela as mulheres só eram admitidas se aceitassem vestir-se como homens.
Platão usava a técnica de buscar o saber
pelo debate e pelo questionamento, no estilo dialético de Sócrates. Além de interesse na Filosofia, na qual então se incluía a Matemática, Platão tinha paixão pela Política. Predominavam na Academia o raciocínio e as idéias abstratas, e até os estudos políticos de Platão eram baseados na utopia, não na realidade social.
Não sem razão, a geometria de Platão limitava-se às figuras perfeitas, que podiam ser traçadas com régua e compasso, como o círculo, o quadrado, o triângulo e os poliedros regulares. Desse modo eram ignoradas as formas do mundo real, que era “mecânico” e “ilusório”.

Os corpos celestes só podiam ser esferas (sólidos perfeitos) a descrever círculos (curvas perfeitas), em movimentos de velocidade uniforme. Eis o que se lê no
Timeu, um tratado teórico, na forma de diálogo, que contém as concepções de Platão sobre a natureza do mundo físico.:

Deus deu ao mundo uma forma compatível com sua divindade. Ou seja, deu-lhe a forma de uma esfera, porque os seus pontos se encontram a igual distância do centro - a mais bela das formas, pois há mil vezes mais beleza no semelhante do que no diferente... Foi assim que imprimiu ao mundo um movimento circular e constituiu um céu circular, obrigado a arrastar-se num movimento circular, de velocidade uniforme.

As idéias cosmológicas de Platão configuram o chamado “dogma do círculo”, que prevaleceu por cerca de vinte séculos, servindo como ponto de partida fundamental para a edificação do sistema de Cláudio Ptolomeu, com sua teoria geocêntrica, e persistiu com Nicolau Copérnico, cujo sistema heliocêntrico preconizava que os planetas descreviam movimentos circulares em torno do Sol.
O "dogma do círculo" resistiu até o século XVII, quando
Johannes Kepler demonstrou de forma definitiva que os planetas não descrevem círculos, mas órbitas elípticas, das quais o Sol ocupa necessariamente um dos focos.
Platão lecionou até 347 a.C., o ano da sua morte. A Academia, a ele sobrevivendo, funcionou mais nove séculos, até 529, quando o imperador romano Justiniano ordenou seu fechamento, declarando-a uma casa do “saber pagão”. Era o início da Era das Trevas, que iria perdurar por cinco séculos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito interessante a questão do círculo. Porém não entendi o comentário sobre Era das trevas?

Remo Mannarino disse...

Caro Luiz: Tudo que posso dizer é que a Era das Trevas (ou Idade das Trevas) corresponde ao que os historiadores chamam de alta Idade Média (que foi de 476, ano da queda do último imperador romano do Ocidente, até o ano 1000, aproximadamente)
A expressão "Era das Trevas" deriva do fato de que os bárbaros destruíram toda a cultura antes acumulada (por gregos, romanos, e pelas grandes civilizações antigas - como a dos egípcio babilônios).
Caracterizou-se o período pelo retrocesso do Estado; declínio das cidades; agricultura dominada pela nobreza militar; classe camponesa em estado de servidão; monopólio religioso do saber.