segunda-feira, 7 de maio de 2007

A "vergonha" de Pero Vaz de Caminha

A primeira impressão civilizada que se conhece a respeito das índias brasileiras foi a transmitida pelo escrivão Pero Vaz de Caminha, na carta que dirigiu a Dom Manuel I em primeiro de maio de 1500. Nas diferentes passagens da carta, Caminha não esconde sua fixação nas “vergonhas” das moças índias, com seus insistentes e bem-humorados trocadilhos com a palavra "vergonha":

(...) "Entre eles, andavam também três ou quatro moças, bem novas e graciosas, com cabelos muito pretos, pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que não tínhamos nenhuma vergonha de as olhar muito bem.”

(...) "E uma daquelas moças era toda pintada de baixo acima daquela tintura; e de fato era tão bem-feita e tão redonda, e sua vergonha (que ela não tinha) tão graciosa, que muitas mulheres da nossa terra, vendo-lhes tais feições, sentiriam vergonha por não serem como ela."

(...) "Também andavam, entre eles, quatro ou cinco mulheres moças, nuas como os homens, as quais não pareciam mal. Entre elas andava uma com uma coxa (do joelho até o quadril) e a nádega toda pintada daquela tintura preta; e o resto, de sua cor natural. Outra trazia os joelhos com as curvas assim pintadas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência descobertas, que nisto não havia vergonha alguma."

Quando a esquadra de Pedro Álvares Cabral partiu do Brasil, deixou com os índios dois degredados que haviam sido trazidos com a expedição, um dos quais se chamava Afonso Ribeiro. Os dois infelizes puseram-se a chorar com tal veemência e desespero que os índios ficaram perplexos e comovidos. Enquanto isso, dois grumetes (ou cinco, segundo alguns historiadores) abandonaram espontaneamente a esquadra, embrenhando-se terra adentro. Deles nunca mais se ouviu falar, mas os dois degredados foram resgatados vinte meses depois por outra expedição portuguesa, da qual fazia parte Américo Vespúcio. No final da carta, Pero Vaz de Caminha pede a Dom Manuel pela volta do genro, Jorge de Osório, um marginal que estava exilado na Ilha de São Tomé, atual Gabão, na África, depois de condenado por ter assaltado uma igreja e ferido um padre. Por isso muitos dizem que a carta de Caminha é a certidão de nascimento do pistolonato no Brasil.
Caminha seguiu com a frota de Cabral para a feitoria portuguesa de Calicute, nas Índias, a fim de assumir seu posto de tesoureiro. Em 16 de dezembro de 1500, porém, os árabes desfecharam um violento ataque contra a feitoria de Calicute, de que resultou a morte de Caminha. Ao saber do ocorrido, Dom Manuel decidiu atender o pleito do seu escrivão, dando por encerrado o exílio de Jorge de Osório.




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