sexta-feira, 18 de maio de 2007

ALAN TURING, COMPUTADOR E HOMOSSEXUALISMO

Máquina de Turing

Foi na década de 1930 que o matemático inglês Alan Mathison Turing ( 1912-1954) pensou pela primeira vez na possibilidade de máquinas que fossem capazes de fazer computações infinitas, para, desse modo, resolver as chamadas questões matemáticas indecidíveis.
Questões indecidíveis são as proposições existentes na Matemática das quais não se sabe se são falsas ou se são verdadeiras. Um exemplo de questão indecidível é a chamada Conjectura de Goldbach, pela qual todo número par maior que 2 pode sempre ser escrito como a soma de dois números primos. Alguns exemplos: 30 é igual à soma de 13 e 17, dois números primos; 66, a soma de 43 e 23, igualmente números primos; 112, a soma de 11 e 101, também números primos. Todos os números pares testados até hoje seguem a Conjectura de Goldbach, mas ninguém conseguiu demonstrar se ela é verdadeira, ou não, para todos os números pares, que são infinitos e portanto não susceptíveis de serem todos testados.

A máquina de Turing, se possível construí-la, poderia ser programada, no caso do exemplo, para testar indefinidamente os números pares, só interrompendo seus cálculos se encontrasse algum número par que não atendesse à Conjectura de Goldbach, em cujo caso esta deixaria de ser considerada indecidível e passaria à categoria de falsa.
O conceito da máquina de Turing foi por ele depois ampliado para abranger toda e qualquer tarefa matemática, deixando de ser uma exclusividade das questões indecidíveis. A cada problema, uma máquina de Turing individual, com um procedimento próprio, ou seja, um algoritmo específico. Poderíamos assim ter uma máquina de Turing para calcular números primos, outra para fatoração ou radiciação, outra para jogar xadrez etc.

Dando continuidade a esses estudos teóricos, em 1947 Turing teve a idéia de uma máquina de Turing “universal”, que agregaria todas as máquinas de Turing individuais. A máquina universal seria instruída, em cada caso, pelo fornecimento de um código numérico que lhe indicaria qual das máquinas de Turing individuais deveria ser usada no caso em questão.
As elucubrações teóricas de Alan Turing levariam a um progresso fantástico na direção das máquinas reais, e o próprio Turing ajudaria a criar os primeiros computadores.

Computador

De fato, Alan Turing não ficou só na teoria. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele recebeu a incumbência da Escola de Cifras e Códigos, do Governo Britânico, de construir uma máquina que decifrasse os códigos secretos nazistas. Ele deveria estudar milhares de mensagens cifradas geradas diariamente pelo comando alemão, que a este fim usava uma máquina conhecida como Enigma, que embaralhava os textos a transmitir de acordo com bilhões de possibilidades escolhidas aleatoriamente. Decifrar esses códigos parecia uma tarefa impossível.
Turing não se intimidou, encarou o desafio como uma possibilidade de construir uma máquina de Turing real e liderou a construção do Colossus, um dispositivo eletrônico, de 1.500 válvulas, que utilizava símbolos perfurados em fitas de papel, com capacidade de processamento de 25.000 caracteres por segundo, que no decorrer de sucessivos aperfeiçoamentos passou a decifrar os códigos alemães gerados pelo Enigma, quaisquer que eles fossem, em apenas alguns minutos.

O Colossus tinha memória, processador de informações e capacidade de decisão, configurando um autêntico computador.
Depois da guerra, Turing encabeçou a construção dos primeiros computadores para fins pacíficos, o ACE (Automatic Computing Engine), em 1945, e o MADAM ( Manchester Digital Machine), em 1948, sendo este o primeiro computador com programa armazenado internamente.
Nas horas de lazer Turing se divertia ensinando o MADAM a jogar xadrez e a escrever cartas de amor.

Turing acreditava, com efeito, que no futuro as máquinas poderiam ser programadas para fazer a mímica do ser humano. Sua idéia central era a de que as máquinas podiam aprender, segundo procedimentos que as levassem a se auto-aperfeiçoarem, até atingir um estado de “inteligência”.
Turing teve de enfrentar uma série de restrições filosóficas a essas idéias, que envolviam questões relacionadas a ética, capacidade emocional, solidariedade, afeição, livre arbítrio etc, que classificou pejorativamente de “oposição sentimental.” Foi quando Turing sugeriu uma experiência mental que se tornaria famosa: a de colocar uma máquina atrás de uma parede e submetê-la a um interrogatório por pessoas que não soubessem a natureza da entidade que estavam interrogando. Se, ao fim e ao cabo, os inquisidores não descobrissem que estavam questionando uma máquina, teríamos de aceitar a equivalência da "inteligência" da máquina com a inteligência do ser humano.
- Quando converso com outra pessoa, justificava ele, não julgo seu lado intelectual e emocional pela sua aparência humana, mas pelas respostas que ela me dá, tanto quanto a máquina que está do outro lado da parede.

Violação de leis britânicas de homossexualidade

Depois da guerra Alan Turing passou a ser vigiado pelo Serviço Secreto Britânico por causa da sua condição de homossexual. As autoridades temiam as inconfidências que poderia fazer o homem que mais conhecia os códigos de segurança da Inglaterra ou que ele pudesse se tornar vulnerável à chantagem. Nesse rationale não se levavam em conta nem a sua dedicação nem o inestimável serviço que prestara como decifrador de códigos de guerra alemães ou criando computadores.
Turing já se acostumara a ser seguido e a ser permanentemente monitorado, quando, em 1952, foi preso e humilhado em público, sob a esdrúxula acusação de "violação das leis britânicas de homossexualidade". Julgado por "vícios impróprios", Turing reconheceu-se culpado e foi condenado a submeter-se a terapias à base de estrogênio, um hormônio feminino que o tornou impotente e teve o grotesco efeito colateral de lhe fazer crescer os seios. Gênio cuspido e escarrado, em todas as acepções.
Humilhado e deprimido, Turing cometeu suicídio, comendo uma maçã envenenada com cianeto,
em 7 de Junho de 1954.
Quando morreu tinha apenas 41 anos
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