quarta-feira, 2 de maio de 2007

Biblioteca de Alexandria (em duas partes)


A Biblioteca de Alexandria (primeira parte)

A Biblioteca de Alexandria
reuniu a maior coleção de escritos e o maior acervo cultural e científico de toda a Antiguidade. Sua história começa com a dominação helênica do Egito, a partir de 332 a. C., quando Alexandre, então com 21 anos, expulsou os persas que havia dez anos dominavam o país e coroou-se rei, na milenar cidade de Mênfis.
Ao visitar logo depois uma vila de pescadores chamada Racótis, na costa do Mediterrâneo, Alexandre examinou seus mananciais de água doce e sua proximidade com o rio Nilo e decidiu construir ali um porto de mar profundo, para servir às atividades tanto de sua armada quanto de sua frota mercante, que fosse parte de uma cidade que deveria se constituir numa nova e resplandescente capital do Egito.
Era a sua Alexandria.
Lançada a pedra fundamental da cidade em 7 de abril de 331 a. C., Alexandre confiou o seu projeto ao grande arquiteto grego Deinócrates e retomou suas aventuras pelo mundo, falecendo, repentinamente, em 323 a. C. Seus amigos macedônios e gregos dividiram entre si o mundo que ele conquistara. Seu corpo foi resgatado e sepultado em Alexandria, numa luxuosa tumba que recebeu o nome de Soma, por seu sucessor Ptolomeu I Sóter, um macedônio que se coroou rei em 306 a. C., inaugurando a dinastia dos Ptolomeus. Que se estenderia até 30 a. C., quando Cleópatra, a última dos Ptolomeus, foi derrotada por Otávio, na batalha de Actio, e o Egito passou ao domínio romano.
Ptolomeu I decidiu atrair para Alexandria os intelectuais do mundo grego e aceitou de um destes, Demétrio Falereu, a sugestão de erigir na cidade um centro de cultura semelhante aos que existiam em Atenas, Pérgamo e Cirene e criou um museu e uma biblioteca, que tiveram decisiva importância na preservação do pensamento grego e romano
.
Ptolomeu I foi logo adquirindo 500 mil pergaminhos para a nova biblioteca, que se situava no bairro real, próxima do museu, ao lado do qual surgiu a primeira universidade do mundo. Emissários foram enviados aos centros acadêmicos do Mediterrâneo e do Oriente Médio para comprar, copiar, pedir emprestado ou, se necessário, furtar as obras dos cientistas e literatos. Bibliotecas inteiras foram adquiridas, incluindo boa parte dos livros que pertenceram a Aristóteles; estrangeiros eram revistados e tinham seus livros confiscados, recebendo-os de volta depois de copiados para a biblioteca, de cujo acervo constaram os manuscritos originais de Ésquilo, Eurípedes e Sófocles. Nela ficaram guardados os rolos de papiro da literatura grega, egpícia, assíria e babilônica.
Os dois primeiros sucessores de Ptolomeu Sóter, a saber, Ptolomeu II Filadelfo e Ptolomeu III Evergeta, ampliaram os investimentos na biblioteca, que chegou a possuir cerca de 700 mil volumes, segundo Aulo Gélio, um gramático latino do século II .
Os sábios emigravam de toda parte para Alexandria, atraídos pela reputação da universidade, mas principalmente para consultar os milhares de livros que a biblioteca colocava à sua disposição. Entre eles, Euclides, natural de Racótis, que, tendo estudado em Atenas com um discípulo de Platão, fundou em Alexandria uma escola de matemática. Por volta de 300 a. C., Euclides escreveu "Os Elementos", o livro-texto mais bem-sucedido da história da humanidade e maior best seller mundial depois da Bíblia, desenvolvendo, pelo método dedutivo e uma criteriosa seleção de postulados, a sua impecável geometria euclidiana. Esse método vitorioso, o de desenvolver teorias a partir de postulados, vem sendo adotado desde então por físicos, como Newton, matemáticos, como Bertrand Russell e Alfred North Whitehead, ou filósofos, como Espinosa.
Outro cientista importante que se transferiu para Alexandria foi Hierófilo de Calcedônia, que revolucionou a medicina com sua técnica de exames post mortem, o primeiro médico que dissecou o olho, seguiu os seios nasais até o torcular herophilie, assim chamado em sua homenagem, e provou que o cérebro era o centro do sistema nervoso, e não o coração, como supusera Aristóteles. Não sem razão, com Hierófilo, Alexandria transformou-se durante séculos num centro mundial de excelência médica.
(continua)


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