Biblioteca de Alexandria(final)
A lista de moradores ilustres de Alexandria inclui Eratóstenes (276-194 a.C.), que criou um crivo para descobrir números primos, estabeleceu os alicerces da geografia científica e fez medições da circunferência terrestre com extraordinária precisão; Eratóstenes foi o bibliotecário-chefe de Alexandria durante mais de 40 anos, um cargo muito cobiçado pelos intelectuais do mundo antigo.
Vale também mencionar Arquimedes (287 a.C. - 212 a.C.) , o siciliano de Siracusa que foi considerado o maior engenheiro da Antiguidade, famoso por ter corrido pelado pelas ruas de Siracusa, a gritar “eureka!” (“achei!”), depois de descobrir o princípio da física que leva o seu nome: todo corpo mergulhado num fluido fica inapelavelmente sujeito a um empuxo vertical, de baixo para cima, igual ao peso do fluido deslocado. Dele são também alguns estudos fundamentais da hidrostática, as invenções de dispositivos para levantar pesos, máquinas bélicas, o parafuso d´água, além de estudos sobre a alavanca e o estabelecimento de relações geométricas diversas.
Em Alexandria também viveram Diophante, o pai da álgebra; os poetas Teócrito, Zenódoto e Calímaco; o cientista Aristarco de Samos, que formulou a teoria heliocêntrica do nosso sistema planetário dezoito séculos antes de Copérnico; Apolônio de Perga, o geômetra que estudou as cônicas e criou os termos “elipse”, “parábola” e “hipérbole”; Aristófanes de Bizâncio, o gramático grego que revisou Homero, Píndaro, Hesíodo e outros grandes dramaturgos gregos; Hiparco de Nicéia, que inventou a trigonometria, calculou a duração do ano solar, descobriu a precessão dos equinócios e catalogou 850 estrelas, listando-as por magnitude, longitude e latitude; Cláudio Ptolomeu (que não tinha nenhum parentesco com os Ptolomeus que governavam o Egito), autor da teoria geocêntrica do nosso sistema planetário, que, equivocada embora, prevaleceu durante 14 séculos; Galeno, o maior médico da Antiguidade, após Hipócrates; Plutarco, autor de Vidas Paralelas, a obra que mais influenciou a moderna literatura, até mesmo Shakespeare, e serviu de inspiração para os grandes líderes da Revolução Francesa; Plotino, o expoente do neo-platonismo; Hipácia, mártir do início do século V, a matemática e filósofa que foi cruelmente arrastada pelas ruas de Alexandria e teve o corpo queimado por fanáticos religiosos.
A Biblioteca de Alexandria atravessou muitos séculos e por pouco não se tornou milenar. No meio dessa trajetória, em 49 a. C., foi atingida por um incêndio provocado pelas tropas de Júlio César, que atacaram Alexandria, então sob o reinado de Cleópatra.
Poucos anos depois, Cleópatra conseguiu de seu amante, Marco Antônio, a doação de 200 mil rolos de pergaminhos da biblioteca de Pérgamo, o que de certa forma compensava a perda de 40 mil volumes provocada pelo incêndio. Infelizmente, porém, Cleópatra decidiu transferir boa parte do livros para o Templo de Serápis, o que, quatro séculos depois, teria graves conseqüências: em 389 o imperador romano Teodósio ordenou ao bispo Teófilo que destruísse todos os monumentos pagãos de Alexandria, entre os quais o Templo de Serápis, dedicado a uma divindade protetora da saúde. Com a destruição do templo, perdeu-se grande parte dos livros.
A Biblioteca de Alexandria, apesar dos percalços, conseguiu funcionar até 642 quando o Egito foi conquistado pelos árabes do general Amr Ibn Al As, que atuava em nome do Califa Omar. Amr autorizou que os livros da biblioteca fossem usados como combustível das caldeiras que aqueciam os banhos da cidade. Consta que João, o Gramático, um ex-padre obcecado pela cultura, tentou persuadir Amr a não queimar os livros e foi por este encaminhado ao Califa Omar.
Omar, porém, não se sensibilizou com seus argumentos, manifestando-lhe o seguinte entendimento:
- Os livros contrários ao Corão devem ser destruídos, porque hereges; e, igualmente, os que lhe são favoráveis, porque desnecessários.
Terminava desse modo a trajetória da Biblioteca de Alexandria, uma das mais bem-sucedidas iniciativas a serviço da humanidade. Sem a sua biblioteca, Alexandria iniciou um longo e penoso processo de decadência, que alcançou seu grau mais extremo com a cessação de suas atividades comerciais, em decorrência da descoberta da rota marítima para as Índias, pela via do Cabo da Boa Esperança.
Alexandria só voltaria a recuperar a sua condição de grande cidade a partir do início do século XIX, quando as forças de Muhammad Ali expulsaram do Egito os franceses de Napoleão e recuperaram-na do domínio inglês. A partir daí a cidade refez-se muito bem no plano material, sem entretanto retornar ao esplendor cultural e científico da época da biblioteca, que teve a responsabilidade de preservar a cultura grega, no que ela teve de mais importante em termos de ciência, filosofia, literatura e arte.
quinta-feira, 3 de maio de 2007
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Um comentário:
A Era Negra que se plantou, não deixando para o homem da época o discernimento da preservação, destruindo o que os precursores de Luz deixaram para nós fazendo que retrocedessemos no tempo prejudicando nossos conhecimentos.Poderíamos estarmos mais adiantados! Uma historia triste! Gina Grajaú.
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