quarta-feira, 25 de julho de 2007

RETALHOS DO QUOTIDIANO (parte 24/26)

King´s College: Quatro Prêmios Nobel de Física

Para além dos nossos momentos inesquecíveis, ficaram-me da Laura apenas um resumo da teoria da relatividade e um arrazoado que produziu sobre Shakespeare. Confortou-me a idéia de que daquela data em diante ela pesquisaria sobre tudo isso na própria Inglaterra, sem ter de consumir boa parte do seu salário na importação de livros a câmbio desfavorecido.
Uma semana após sua partida, ela me escreveu, dando conta de que estava se sentindo muito bem no Departamento de Física do Kings College, que tem reputação internacional e recebe profissionais de todas as partes do mundo. Seu trabalho seria inicialmente numa pesquisa sobre resistência de materiais, que interessava à cadeira de Mecânica Vibratória, da qual inicialmente seria assistente e, depois, professora adjunta.

A carta terminava mencionando quatro professores do Kings College laureados no século XX com o Prêmio Nobel de Física, a saber, Charles G.. Barkla, em 1917, pelos seus trabalhos sobre raios-X; Owen Richardson, em 1928, pelo seu trabalho sobre emissão termiônica; Edward Appleton, em 1947, pelo seus estudos sobre a atmosfera; e Maurice Wilkins, em 1962, que dividiu o prêmio com James Watson e Francis Crick, pela determinação da estrutura do DNA.
Das próximas vezes, acrescentou, poderíamos nos comunicar por email, quando ela tivesse se organizado minimamente e dispusesse de um computador. Respondi imediatamente, garantindo-lhe que ficaria torcendo para que fosse para ela o quinto Prêmio Nobel do King’s College, o que, sobre aumentar o prestígio da Universidade de Londres, haveria de deixar mais alegre e mais aquecido este meu peito solitário.

L’oiseau vole

Todos os desenlaces deveriam ser serenos e gentis, assim, pois as partes ficam com saudades recíprocas e nenhum ódio no coração. Tudo bem... Mas, resumindo tudo numa única e dolorosa palavra, eu estava só mais uma vez. Com a Cecília, vencera - nos o tédio; com a May, nem sei direito, tudo ruiu no âmbito de uma confusão para lá de inexplicável; com a Laura, separou - nos o vôo do pássaro, na busca do seu destino.
L’oiseau vole, como no conto do Maupassant.

Liberado da Física


Logo vi que não poderia acumular meus encargos de professor com as tarefas do Departamento de Física e, um mês depois de iniciada a minha carreira na Economia, procurei de Sitter e lhe pedi para congelar meu curso no Departamento de Física, até que minha situação se definisse.


- Sinto que você vai abandonar a Física.

- Somente se me tornar professor da Economia. Preciso de uma pista de pouso, para o caso de interromper o meu vôo.

- Recebi do reitor instruções para facilitar a sua vida, pois a universidade tem interesse nesse vôo. Quando quiser voltar, o departamento estará à sua disposição.

Foi assim, de modo civilizado, que de Sitter me liberou, sem se opor a um eventual retorno para retomada do meu curso, assim interrompido, se fracassasse a tentativa no outro departamento.
(continua)

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