Nossas certezas fundamentais
Até o início do século XX os físicos tinham um método, a observação, e um conjunto de leis, a mecânica clássica de Newton, que explicavam perfeitamente o Universo, categorizado como uma realidade objetiva. Tanto que em 27 de abril de 1900 o físico escocês Lord Kelvin, muito conhecido por haver introduzido o conceito de temperatura absoluta, comunicou às autoridades britânicas que a Física já conhecia praticamente tudo o que havia de importante no Universo. Aos físicos do futuro caberia, de fato, descobrir os pormenores complementares de uma estrutura conhecida, não mais que isso.
Se não tivesse falecido em 1907, o bravo Lord Kelvin iria se decepcionar muito com o que se descobriu a seguir, demonstrando de maneira impiedosa a fragilidade do seu enunciado. Einstein, com sua relatividade especial, já em 1905, provou que somos enganados pelos nossos sentidos, o que colocava em cheque as nossas observações, e, com a relatividade geral, em 1915, reformou a teoria newtoniana, cuja lei da gravitação apenas quantifica corretamente o que Newton percebera de modo incorreto, pois a matéria não atrai matéria. O que ela faz é deformar o espaço, que, assim deformado, indica o caminho a ser seguido pela própria matéria.
Ainda em 1905, o próprio Einstein reconheceu a natureza dual da luz, que é ao mesmo tempo onda e partícula, sem saber que estava inaugurando o caminho da mecânica quântica, a qual se rege pela indeterminação e pela complementaridade.
Baqueavam, de uma só vez, o dogma da infalibilidade da mecânica newtoniana e o poder absoluto das nossas observações.
Ou isto ou aquilo
As propriedades do elétron e das outras partículas, tal como as percebemos, são apenas uma criação do nosso ato de observar e de medir. David Bohm, um físico americano falecido em 1992, criou uma teoria segundo a qual uma partícula elementar, como o elétron, não é um objeto, mas um processo. Desse processo, percebemos sua "ordem explicada”, mas quase nunca sua “ordem implicada”. Na “ordem explicada”, que leva à lógica de Aristóteles, se A contém B, então B deve estar dentro de A. Na “ordem implicada”, porém, se A contém B, então, ao mesmo tempo, A está contido em B. Pois, no processo, tudo se une, a parte de fora com a de dentro, matéria e mente, e o que nós percebemos como partículas, átomos e moléculas são exteriorizações de processos, simetrias e suas constantes transformações.
Daí a complementaridade, ou isto ou aquilo, isto sendo a “ordem explicada” e aquilo, a ordem “implicada”, mutuamente excludentes para as nossas percepções.
Teoria das teorias
Inconformado com a incompatibilidade entre a relatividade e a física quântica, Einstein passou as últimas décadas de sua vida buscando uma teoria, a teoria do tudo ou teoria das teorias, que unisse as quatro forças fundamentais da natureza, a saber, gravidade, eletromagnetismo, força forte e força fraca. Ele tinha a esperança de fazer prevalecer sua visão de mundo, que comporta realismo local e determinismo, e não um sistema quântico dual e regido pelas probabilidades.
Einstein não conseguiu construir essa teoria do tudo, e a tarefa ainda hoje mobiliza milhares de físicos no mundo inteiro.
A unificação que tanto se busca das quatro forças da natureza parece ser um exercício restrito à teoria, sem possibilidade de demonstrações práticas, uma vez que as pressões e temperaturas necessárias à pretendida unificação, próximas daquelas que prevaleceram logo após o Big Bang, exigiriam um acelerador de partículas de dimensões inimagináveis, talvez maior do que a própria Terra.
Joga ou não joga?
- Deus não joga dados, protestou Einstein, ao perceber as implicações do caminho que ele indicara em 1905, no momento da constatação da natureza dual da luz.
sexta-feira, 13 de julho de 2007
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