segunda-feira, 26 de março de 2007

Trabalho vegetativo

Em 1957 o professor Cyril Northcote Parkinson publicou na Inglaterra “A Lei de Parkinson”, um livro irônico e divertido, que introduziu, no terreno da Administração Empresarial, o que se convencionou chamar de “Escola do Absurdo”.
Segundo Parkinson o ocioso não tem tempo para nada, pois tem de ocupar-se, e muito, para preencher seu tempo disponível. Um enunciado que soa contraditório, mas que no fundo é pertinente. O livro dá o exemplo de uma vovó que se ocupa o dia todo para escrever um bilhete para alguém que mora numa cidade vizinha. Uma hora será gasta buscando os óculos; outra, procurando papel e caneta; duas horas, fazendo a redação; vinte minutos, tentando encontrar o endereço; uma hora e meia, decidindo como irá se deslocar até o correio; e por aí vai.
No final do processo, a boa velhinha estará exausta e aborrecida com os procedimentos que a tarefa lhe exigiu. No entanto, alguém de fato atarefado não gastaria nesse bilhete mais do que cinco minutos.
Nas empresas tudo se passa de maneira semelhante, valendo então a Lei de Parkinson, que tem um enunciado curioso, mas simples e direto: “O trabalho aumenta para preencher o tempo disponível.”
A Lei de Parkinson é uma lei de crescimento vegetativo do trabalho, pois há uma tendência natural de aumentar o tempo disponível e, pois, o trabalho para preenchê-lo. Nas grandes empresas, essa lei decorre de dois fatores:

(1) o número de empregados de uma empresa ou organização tende a aumentar em progressão geométrica, independentemente dos níveis correntes de produção;

(2) os diversos chefes criam trabalhos uns para os outros.

Uma razão para aumentar o tempo disponível está relacionada com o candidato a chefe, que está sempre disposto a ter subordinados, desde que não sejam seus rivais. Tudo começa quando quer tirar férias ou ter a faculdade de ausentar-se do local de trabalho, mesmo por um motivo justo, como ir ao médico, freqüentar algum curso ou comparecer a palestras e reuniões de trabalho, sem ser impedido pelo fato de trabalhar sozinho. Ele almeja ter pelo menos dois subordinados, pois ficará com a vantagem de ser o único a entender a totalidade do serviço assim repartido, além do que o subordinado único seria um candidato potencial ao seu lugar de chefe.
Admitidos os dois subordinados, com o passar do tempo, e pelos mesmos motivos, cada um almejará a contratação de mais dois subordinados, de maneira a ter-se a possibilidade de, ao fim e ao cabo, serem sete pessoas executando a tarefa que antes era confiada a apenas uma.
O número de pessoas de uma organização tende, por esse mecanismo, a elevar-se geometricamente, quer a produção aumente, diminua ou permaneça constante, seja na administração pública, seja na administração privada.
A conseqüência é mais tempo disponível e, pois, mais trabalho a ser criado para preenchê-lo.

Caberá aos chefes inventarem trabalho uns para os outros, o que explica os despachos, citações, emendas, acréscimos, lembretes e observações, e as sucessivas idas e vindas dos processos que fundamentam as decisões. Pois assim é o produto freqüente do trabalho gerado para preencher tempo disponível.

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