segunda-feira, 12 de março de 2007

Santo Sudário

Seria a mortalha de Jesus Cristo a peça de linho, de 1,10 m por 4,35m, que se encontra guardada numa capela da Catedral de Turim? Os sudaristas afirmam que sim, e os céticos garantem que não, duas correntes, antagônicas, cujos argumentos se baseiam em razões exaustivas e convincentes. Essa relíquia, conhecida pelos nomes de Síndone, Sabana, Mandylion, Santo Sudário ou simplesmente Sudário, foi fotografada pela primeira vez em 1898, por Secondo Pia, que obteve, como imagem, o negativo, em frente e verso, do corpo de um homem morto, inteiramente nu, com barba e cabelos longos, lembrando o Cristo crucificado.
O Sudário teria sido levado no Século I para Edessa, na Turquia, onde recebeu o nome de Mandylion, e lá permaneceu até 944, quando os bizantinos o transportaram para Constantinopla. A peça desapareceu de Constantinopla em 1204, levada para a Europa talvez pelos Templários, e ressurgiu na França, nas mãos do cruzado Geoffroy de Charny, que em 1356 o fez guardar na Igreja de Lirey. Em 1453 Margarita de Charny doou-o a Ana de Lusignano, esposa de Ludovico de Savóia, que o manteve guardado na Igreja de Chambéry. Em 1694 o Sudário foi levado definitivamente para Turim, onde se encontra guardado na Capela do Arquiteto Guarino Guarini, anexa à catedral de Turim. Em 1983 a Casa de Savóia doou o Santo Sudário ao Vaticano, que, não obstante, manteve-o em Turim.
Os céticos acreditam que a peça não passa de uma falsificação do Século XIV. Em 1988 fragmentos do Sudário foram submetidos ao teste do carbono 14, por três universidades, a saber, Oxford, na Inglaterra, Arizona, nos Estados Unidos, e Zurich, na Suíça, que indicaram tratar-se de objeto com origem entre os anos de 1260 e 1390. Walter McCrone, um dos mais famosos microscopistas do mundo, afirmou não haver encontrado nenhum vestígio de sangue no Sudário, além do fato de que não há nele nenhuma indicação de aloé e mirra, que teriam untado o corpo de Cristo, segundo o Evangelho de São João.
Por seu turno, os sudaristas, também conhecidos como redentoristas, procuram desqualificar esses testes, alegando que os mesmos se basearam em amostras contaminadas, porque deterioradas pela presença de carbono e fumo, decorrente de um incêndio sofrido pelo Sudário em 1532. Os químicos americanos Alan Adler e John Heller encontraram hemoglobina nos fragmentos do Sudário e contestam a afirmação de McCrone de que a imagem corresponde a uma tinta formada por pigmentos ocre e vermelho, tratando-se, pelo contrário, do escurecimento das fibras do tecido por causa da hidratação da celulose. A mancha corresponde, assim, a sangue coagulado sobre a pele de um homem ferido, que não seria possível obter por meios artificiais. Pólens de flores que crescem na região do Mar Morto na época da Páscoa foram encontrados no Sudário, que, adicionalmente, contém resíduos de pólen da França e da Turquia.
Muitos se dedicam profissionalmente aos estudos sobre o Sudário, sendo conhecidos como sindonologistas, cada um com sua especialização, que pode ser em anatomia, química, biologia, fotografia, computação gráfica ou palinologia. Há cerca de 400 grupos de sindonologistas, um dos quais, o STURP (Shroud of Turin Research Project - Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim), formado por 40 cientistas, emitiu em 1983 um relatório contendo o resultado de 100 mil horas de estudo, com a afirmação de que suas pesquisas não atestam "nenhum indício de que a relíquia seja falsa".
O Papa João Paulo II visitou o Sudário em Turim em 1988 e, contornando a controvérsia com grande habilidade, declarou, na ocasião, que “a Igreja confia aos cientistas a tarefa de investigar e responder adequadamente às questões relacionadas com o manto que, segundo a tradição, cobriu o corpo do Redentor, quando foi descido da cruz. O homem refletido no Sudário é a imagem do sofrimento humano, que nos convida à reflexão sobre o mistério da dor e de suas causas. Para os que crêem, o Santo Sudário é o espelho do Evangelho.”

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