Mudança de Paradigma
Até o início do século XVII, ou seja, antes de Galileu, a ciência fazia-se quase sempre com submissão ao misticismo e aos textos sagrados. As respostas às questões deviam ser procuradas na Bíblia, nos documentos da Igreja ou nos textos ungidos de Aristóteles e São Tomás de Aquino. Caso neles não se achasse a resposta, a pergunta certamente não deveria ter sido formulada.
Com o telescópio, que soube aperfeiçoar e logo apontou para o firmamento, Galileu descobriu as luas de Júpiter, observou as fases de Vênus, as crateras da Lua e as manchas solares, tudo em desacordo com a visão aristotélica de que a Terra era imóvel e plantada no centro de um Universo perfeito. O filósofo Giulio Libri recusou-se a olhar pelo telescópio de Galileu, sob a alegação de que “isso é um instrumento da falsidade, que faz as coisas parecerem como não são.”
As questões de Galileu com o Santo Ofício podem ter ido além da sua insistência na concepção heliocêntrica, haja vista que esta foi estabelecida por Copérnico, um clérigo, e que vários cardeais já a aceitavam naquele tempo. O problema real era deixar que a verdade fosse descoberta por um pensador e observador individual, e profano, que, para complicar, insistia em escrever em italiano, não em latim.
Pois a vulgarização dessas coisas só servia para abalar a fé das pessoas comuns.
Acusado em 1633 de duvidar de que “Deus fixou a Terra sobre suas fundações, para que não se movesse nunca mais”, conforme está registrado na Bíblia, Galileu foi submetido a um longo julgamento pelo Santo Ofício, que o condenou ao silêncio e ao isolamento.
Uma página negra, sem dúvida, mas com conseqüências importantes: o processo contra Galileu acabou ensejando um duro golpe no prestígio da Igreja. Pois a ciência tornou-se independente e foi se afastando cada vez mais da religião, chegando a recusar sua adesão ao Big Bang. Em 22 de novembro de 1951 o Papa Pio XII fez um discurso na Academia Pontífice de Ciência, no qual endossou o modelo cosmológico do Big Bang, comparando-o ao Fiat Lux do Gênese. Pelos seus líderes mais importantes a comunidade científica simplesmente repudiou o apoio papal, enfatizando com determinação que modelos científicos nada têm a ver com concepções religiosas. Ou seja, Galileu venceu a parada, ainda uma vez.
Ele que se tornaria o mais conhecido dos cientistas, além de símbolo da luta contra o obscurantismo.
quinta-feira, 22 de março de 2007
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