sexta-feira, 30 de março de 2007

Marie Curie, a mulher do século XX

Nascida na Polônia e batizada com o nome de Maria Sklodowska, trabalhou como governanta até os 24 anos, juntou o dinheiro da passagem e decidiu estudar em Paris. Naquele ano de 1891, a Sorbonne era freqüentada por 1.800 estudantes, dos quais apenas 23 eram mulheres, quase todas estrangeiras.
O casamento de Maria com o cientista Pierre Curie, a partir do qual passou a ser conhecida como Marie Curie, deu lugar a uma excepcional parceria científica, que valeu a ambos o Prêmio Nobel de Física, de 1903, pelos seus trabalhos em radioatividade.
Atropelado por uma charrete, Pierre Curie faleceu em 1906, o que não impediu Marie Curie de dar prosseguimento aos seus trabalhos pioneiros na área da radioatividade, com os quais conquistou também o Prêmio Nobel de Química, de 1911, pela descoberta do polônio e do rádio.
Marie Curie foi a primeira pessoa a ser contemplada duas vezes com o Prêmio Nobel. A outra foi o químico americano Linus Pauling, que ganhou o Nobel de Química em 1954 e o Nobel da Paz em 1962, por sua oposição ao uso de armas atômicas. Mas
Marie foi a única a ser laureada duas vezes por trabalhos na área científica.
Foi também a primeira mulher a dar aula na Sorbonne, nos 600 anos da instituição,
quando sucedeu ao marido na cadeira de Física Geral, a partir de 1906.
A filha de Marie Curie, Irene, e o marido desta, Fréderic Joliot, foram laureados com o Prêmio Nobel de Química, de 1935, pelos seus trabalhos sobre a produção artificial de radioatividade.
Cinco Prêmios Nobel na mesma família!

quinta-feira, 29 de março de 2007

Idiotas de estrada

"Idiotas de estrada gostam de urinar em morrinhos de formigas. Apreciam de ver as formigas correndo de um canto para outro, maluquinhas, sem calças, como as crianças. Dizem eles que estão infantilizando as formigas. Pode ser."


Manoel de Barros, Guardador de Águas, 1989

quarta-feira, 28 de março de 2007

Constatação

"Este é tempo de partidos, tempo de homens partidos."


Carlos Drummond de Andrade (Amar-amaro)

RETALHOS DO QUOTIDIANO (parte 6/26)

Correspondi à confiança

Concluído o estágio nos Estados Unidos, iniciei uma fase de conquistas e afirmações pessoais, tanto no plano profissional como no afetivo, pois Cecília e eu cumprimos o nosso planejamento e nos casamos tão logo retornamos ao Rio de Janeiro. Por determinação da WED fiz ainda um curso de um semestre na Fundação Getúlio Vargas, no qual entrei engenheiro civil, sabendo construir prédios, obras hidráulicas, estradas e viadutos, e saí engenheiro de produção, preparado para examinar projetos de investimentos, orientar a tomada de decisões em regime de incerteza e discutir cláusulas contratuais de joint-ventures com companhias internacionais de energia. Nesse mister, muito me valeram as aulas a que assisti na Universidade do Texas. Dummy variables!
Afirmo sem medo de errar que correspondi à confiança da WED, pois logo me integrei às atividades da companhia, assumindo a liderança de alguns dos seus principais projetos de energia e mineração.
Minha atuação era de natureza prospectiva. Competia-me descobrir a oportunidade, estimar os custos e as receitas de cada projeto potencial, orientar a decisão a ser tomada pelo conselho de administração, buscar sócios, participar das licitações e negociar os acordos.
Primeiro calculávamos os resultados virtuais dos eventos possíveis,
a respectiva probabilidade de ocorrência e, enfim, o valor monetário esperado do projetos. Depois, efetuávamos as negociações dos contratos, que eram assinados com agências do governo ou, quase sempre, com companhias que se associavam às nossas joint-ventures. No decorrer dos meses, com a experiência adquirida, chegamos a desenvolver uma linha de atuação, a filosofia da competência, para não errar nas negociações, pois os estrangeiros vinham cheios de estratagemas, frases feitas, dossiês pessoais e providências facilitadoras. Aquele negócio de Sun Tzu, prazos enganosos, falsos orçamentos, cláusulas de palha e quetais, que a gente conhecia exclusivamente para nossa defesa, pois não se encaixava no nosso repertório.
Todos os pontos deveriam estar negociados antes da assinatura de qualquer protocolo, ou seja, se a negociação não estivesse toda fechada, não haveria solenidade comemorativa de nenhuma natureza, nem encontro dos negociadores estrangeiros com os nossos diretores.
Também exercitávamos a flexibilidade, com o objetivo de acomodar, caso houvesse, pretensões justas da outra parte, sem comprometer os nossos interesses. Decidi também que nós nos prepararíamos à exaustão, antes de qualquer negociação, excluindo definitivamente a figura do negociador desprevenido e despreparado.
E, mais, ficou estabelecido que cultuaríamos a discrição, não mentindo, não demonstrando auto-suficiência, nunca ironizando as posições da outra parte e nunca comentando aspectos da negociação com pessoas não envolvidas nas mesmas.

Funcionou. Funcionou, sim, muito bem. Pois tudo era planejado. Tenho para mim, depois dessa experiência, que o planejamento precede e determina o êxito.

Uma vez concluídas as negociações, a execução das obrigações contratuais cabia a outro departamento, que para meu orgulho e felicidade nunca se queixou de nenhum defeito substantivo em nenhuma cláusula construída por mim ou negociada sob minha supervisão.
Uma enorme sensação de bem-estar invadia-me o peito, pois provava para mim mesmo que era capaz de conduzir um projeto, liderar pessoas e ver os frutos do meu trabalho.
Um diretor chegou a dizer que eu negociava "como um lorde-chanceler”, o que me deixou orgulhoso, e até envaidecido, mas o que me movia, para além de meu amor por Cecília, era a obsessão do trabalho bem feito.
Cecília fazia uma exuberante carreira paralela. Nossa parceira familiar sólida e generosa era fundamental para nossas conquistas e êxitos profissionais. Pois nós nos amávamos, para dizer numa palavra tudo. Eu me divertia com a idéia de que Cecília poderia substituir-me na WED, apta que estava para estimar custos e receitas, traçar perfis de lucro e calcular juros e taxas de rentabilidade interna. Ela sabia tudo de dummy variables e de raposas que saltam sobre cães preguiçosos. E podia refutar todos os ardis que lhe opusessem na negociação das cláusulas contratuais. Mas a recíproca não era verdadeira, pois eu nada entendia de moda e de desfiles.
(continua)

segunda-feira, 26 de março de 2007

Indecidibilidade

"Deus existe, pois a Matemática é consistente; o Diabo também, dado que não podemos prová-lo."

André Weil (1906-1998), matemático francês
Trabalho vegetativo

Em 1957 o professor Cyril Northcote Parkinson publicou na Inglaterra “A Lei de Parkinson”, um livro irônico e divertido, que introduziu, no terreno da Administração Empresarial, o que se convencionou chamar de “Escola do Absurdo”.
Segundo Parkinson o ocioso não tem tempo para nada, pois tem de ocupar-se, e muito, para preencher seu tempo disponível. Um enunciado que soa contraditório, mas que no fundo é pertinente. O livro dá o exemplo de uma vovó que se ocupa o dia todo para escrever um bilhete para alguém que mora numa cidade vizinha. Uma hora será gasta buscando os óculos; outra, procurando papel e caneta; duas horas, fazendo a redação; vinte minutos, tentando encontrar o endereço; uma hora e meia, decidindo como irá se deslocar até o correio; e por aí vai.
No final do processo, a boa velhinha estará exausta e aborrecida com os procedimentos que a tarefa lhe exigiu. No entanto, alguém de fato atarefado não gastaria nesse bilhete mais do que cinco minutos.
Nas empresas tudo se passa de maneira semelhante, valendo então a Lei de Parkinson, que tem um enunciado curioso, mas simples e direto: “O trabalho aumenta para preencher o tempo disponível.”
A Lei de Parkinson é uma lei de crescimento vegetativo do trabalho, pois há uma tendência natural de aumentar o tempo disponível e, pois, o trabalho para preenchê-lo. Nas grandes empresas, essa lei decorre de dois fatores:

(1) o número de empregados de uma empresa ou organização tende a aumentar em progressão geométrica, independentemente dos níveis correntes de produção;

(2) os diversos chefes criam trabalhos uns para os outros.

Uma razão para aumentar o tempo disponível está relacionada com o candidato a chefe, que está sempre disposto a ter subordinados, desde que não sejam seus rivais. Tudo começa quando quer tirar férias ou ter a faculdade de ausentar-se do local de trabalho, mesmo por um motivo justo, como ir ao médico, freqüentar algum curso ou comparecer a palestras e reuniões de trabalho, sem ser impedido pelo fato de trabalhar sozinho. Ele almeja ter pelo menos dois subordinados, pois ficará com a vantagem de ser o único a entender a totalidade do serviço assim repartido, além do que o subordinado único seria um candidato potencial ao seu lugar de chefe.
Admitidos os dois subordinados, com o passar do tempo, e pelos mesmos motivos, cada um almejará a contratação de mais dois subordinados, de maneira a ter-se a possibilidade de, ao fim e ao cabo, serem sete pessoas executando a tarefa que antes era confiada a apenas uma.
O número de pessoas de uma organização tende, por esse mecanismo, a elevar-se geometricamente, quer a produção aumente, diminua ou permaneça constante, seja na administração pública, seja na administração privada.
A conseqüência é mais tempo disponível e, pois, mais trabalho a ser criado para preenchê-lo.

Caberá aos chefes inventarem trabalho uns para os outros, o que explica os despachos, citações, emendas, acréscimos, lembretes e observações, e as sucessivas idas e vindas dos processos que fundamentam as decisões. Pois assim é o produto freqüente do trabalho gerado para preencher tempo disponível.

sexta-feira, 23 de março de 2007

Filosofia

Hora de comer - comer!
Hora de dormir - dormir!
Hora de vadiar - vadiar!

Hora de trabalhar?
- Pernas pro ar que ninguém é de ferro!

Ascenso Ferreira, em "Catimbó e Outros Poemas"

quinta-feira, 22 de março de 2007

Mudança de Paradigma

Até o início do século XVII, ou seja, antes de Galileu, a ciência fazia-se quase sempre com submissão ao misticismo e aos textos sagrados. As respostas às questões deviam ser procuradas na Bíblia, nos documentos da Igreja ou nos textos ungidos de Aristóteles e São Tomás de Aquino. Caso neles não se achasse a resposta, a pergunta certamente não deveria ter sido formulada.
Com o telescópio, que soube aperfeiçoar e logo apontou para o firmamento, Galileu descobriu as luas de Júpiter, observou as fases de Vênus, as crateras da Lua e as manchas solares, tudo em desacordo com a visão aristotélica de que a Terra era imóvel e plantada no centro de um Universo perfeito. O filósofo Giulio Libri recusou-se a olhar pelo telescópio de Galileu, sob a alegação de que “isso é um instrumento da falsidade, que faz as coisas parecerem como não são.”
As questões de Galileu com o Santo Ofício podem ter ido além da sua insistência na concepção heliocêntrica, haja vista que esta foi estabelecida por Copérnico, um clérigo, e que vários cardeais já a aceitavam naquele tempo. O problema real era deixar que a verdade fosse descoberta por um pensador e observador individual, e profano, que, para complicar, insistia em escrever em italiano, não em latim.
Pois a vulgarização dessas coisas só servia para abalar a fé das pessoas comuns.

Acusado em 1633 de duvidar de que “Deus fixou a Terra sobre suas fundações, para que não se movesse nunca mais”, conforme está registrado na Bíblia, Galileu foi submetido a um longo julgamento pelo Santo Ofício, que o condenou ao silêncio e ao isolamento.
Uma página negra, sem dúvida, mas com conseqüências importantes: o processo contra Galileu acabou ensejando um duro golpe no prestígio da Igreja. Pois a ciência tornou-se independente e foi se afastando cada vez mais da religião, chegando a recusar sua adesão ao Big Bang. Em 22 de novembro de 1951 o Papa Pio XII fez um discurso na Academia Pontífice de Ciência, no qual endossou o modelo cosmológico do Big Bang, comparando-o ao Fiat Lux do Gênese. Pelos seus líderes mais importantes a comunidade científica simplesmente repudiou o apoio papal, enfatizando com determinação que modelos científicos nada têm a ver com concepções religiosas. Ou seja, Galileu venceu a parada, ainda uma vez.
Ele que se tornaria o mais conhecido dos cientistas, além de símbolo da luta contra o obscurantismo.

quarta-feira, 21 de março de 2007

RETALHOS DO QUOTIDIANO (parte 5/26)

Nenhumação recíproca

O passado, sei isso de Aristóteles, nem Deus consegue alterar. Oito anos não são oito meses, muito menos oito dias ou oito horas. Tempo suficiente para qualquer pessoa mudar do primeiro ao último átomo. Ao fim e ao cabo, éramos outros, não outros quaisquer e ocasionais, mas outros consumados, consumadíssimos. Nossas conquistas profissionais e materiais passaram a não representar mais que uma higiene, a não nos garantir nenhum prazer nem estabilidade. Uma higiene que de certo modo até nos desunia. Além disso, os prazeres da cama vão diminuindo lenta e progressivamente, e tenho para mim que não há comunhão de almas e união estável que não sejam garantidas a doses de paixão e de volúpia.
Tédio, quem sabe o tédio não seja exatamente isso?

No início, lá atrás, eu queria um filho, mas Cecília me dissuadiu, pois filhos não se compatibilizavam com a dinâmica dos negócios, que sempre se opõem à normalidade da vida familiar; bastava ver que éramos obrigados a constantes viagens ou a compromissos intermináveis e exaustivos. Recentemente, porém, ela mudou de idéia, e foi a minha vez de vetar a iniciativa. Ela, uma mulher especialmente inteligente, não se deu conta da irresponsabilidade que seria gerar um filho num casamento que definhava, anódino e desaquecido.
- Devemos continuar pensando com calma sobre esse assunto, Cecília. Vivemos num ritmo muito profissional, que teria de se alterar de forma importante antes de introduzir mais alguém no nosso espaço.
Progressão é progressão, e um dia o custo ultrapassa o benefício.
Pois é, Cecília me veio com aquela história de Montgomery Clift e Shelley Winters, um amor que teve de fenecer para ensejar outro amor, muito maior e renovado; eu merecia, assim também, encontrar a minha Elizabeth Taylor, pois a mim não me faltavam os atributos para um merecido lugar ao sol.
Foi assim, civilizadamente assim, que ela me comunicou que o nosso casamento já não lhe interessava.

Eu me esquivei de produzir uma ironia, a de lembrar que nessa história do lugar ao sol o personagem de Montgomery Clift terminou sendo arrastado para a cadeira elétrica. Achei, isto sim, que estava sendo protegido pela sorte, pois separar-me era tudo o que eu então desejava, e, pelo que conheço de mim, se minha tivesse sido a iniciativa, mais um remorso eu teria para administrar. Ela ficou com a nossa casa no Itanhangá, o único bem material que tínhamos em comum, e me indenizou com dinheiro bastante para um apartamento no Leblon.
- Pode ficar com a minha parte.
- Claro que não, Carlinhos.
Uma derradeira convivência ainda nos tocou, mas sem nenhuma animosidade ou irritação. Que nem fariam sentido na nossa história, da qual a separação foi apenas um capítulo necessário. Estranho, porém, foi continuar transitando mais quarenta dias pelos caminhos da casa, pois nenhum cenário permanece neutro, nem impune, em face de um amor exaurido. Até a arte perde o sentido, as cores se esmaecem e, para dizer a verdade, nunca vi a menor graça naquela cortina da sala de visitas, lilás, isso mesmo, lilás, e em momento algum estive de acordo com a moldura que ela escolheu para o Böcklin que arrematamos no leilão da Bartolomeu Mitre.
Não soube mais da Cecília, que alguns meses depois do nosso último contato vendeu a casa do Itanhangá e mudou-se para Paris.
Nem mesmo um telefonema ou um protocolar cartão de despedida.
Um deixou de existir para o outro, aquele estágio na relação entre duas pessoas que poderia se chamar de nenhumação recíproca.
(continua)

terça-feira, 20 de março de 2007

Aníbal responde a Formião

Certa vez o filósofo Formião, que era um teórico atrevido e pretensioso, decidiu discutir arte militar com o grande general cartaginês Aníbal, célebre por suas batalhas contra os romanos. Nos Lusíadas, Camões nos dá a versão poética da resposta que, segundo Cícero, Aníbal teria dado a Formião:

A disciplina militar prestante
Não se aprende, senhor, na fantasia,
Sonhando, imaginando ou estudando,
Senão vendo, tratando e pelejando.

Camões, Os Lusíadas, Canto X, 153.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Experiência Mental de Einstein

Interpretação do famoso experimento mental - “gedanken”, em alemão - formulado por Albert Einstein, quando tinha apenas 16 anos.

Suponhamos um observador, com um espelho na mão à sua frente, deslocando-se em linha reta à velocidade da luz.
Se o observador visse sua imagem no espelho, teríamos de reformular as leis da mecânica clássica. Por quê? Porque, pela mecânica clássica, o rosto do observador teria a mesma velocidade dos raios de luz, que desse modo nunca poderiam abandoná-lo para alcançar o espelho, dado que a velocidade da luz resultante seria nula.
Se o observador não visse sua imagem no espelho, teríamos de abandonar o princípio da relatividade, pelo qual nenhuma experiência isolada permite distinguir repouso de movimento retílineo uniforme. Não vendo a imagem, só por isso, o observador poderia reconhecer que estava dotado de movimento retilíneo uniforme.
Em suma: nenhuma imagem no espelho significaria luz parada, isto é, velocidade da luz relativa, prevalecendo a mecânica clássica; a imagem do observador no espelho significaria luz em movimento, isto é, velocidade da luz absoluta, prevalecendo o princípio da relatividade.
Ou se reformulava a mecânica clássica, de Newton, ou se abandonava o princípio da relatividade, de Galileu. Ganhou a contenda o velho Galileu, pois luz parada não existe para nenhum observador, qualquer que seja a sua velocidade, pois isso implicaria um campo eletromagnético em repouso, o que é impossível, pela teoria de Maxwell.
Desse modo, a mecânica clássica, de Isaac Newton, teve de ceder sua hegemonia à teoria especial da relatividade, de Albert Einstein, pela qual:

(a) A velocidade da luz no vácuo é constante, para todos os observadores e referenciais. Seu valor é um limite, pois não pode ser atingida por nenhum outro móvel.

(b) À velocidade da luz o tempo pára.

(c) À velocidade da luz, todo corpo tem massa infinita e dimensões nulas.

A teoria especial da relatividade recebeu esse nome, inadequado, por causa do princípio da relatividade, de Galileu, que acabou prevalecendo. A teoria da relatividade não afirma que tudo é relativo. Apenas postula que o espaço e o tempo, absolutos na mecânica clássica, são na verdade relativos. Em compensação, a velocidade da luz, antes considerada relativa, passou a absoluta.
Tudo isso por causa de uma experiência mental.
Uma vitória do pensamento humano. Gedanken!

Poeminha Anônimo

Uma garotinha chamada Vaduz
Podia viajar mais depressa que a luz.
Um dia Vaduz zarpou
E diversos mundos visitou.

Mas nessa Einstein dançou,
Pois na véspera Vaduz voltou.
Aquecimento Global e Protocolo de Kyoto

O excesso de dióxido de carbono na atmosfera, cuja concentração tem subido à razão de 0,4 por cento ao ano, poderá provocar um sobreaquecimento global de 2 a 6 graus Celsius nos próximos cem anos. O fenômeno é devido aos gases poluentes resultantes da combustão de petróleo líquido, gás natural e carvão e à destruição das florestas tropicais. Se nenhuma ação for tomada visando a inibir a emissão de dióxido de carbono para a atmosfera, as conseqüências poderão ser muito graves: drástica alteração do clima em todo o Planeta e elevação do nível da água do mar por causa do derretimento das calotas polares, com alagamento de ilhas e regiões litorâneas. Os ecossistemas serão afetados e muitas espécies animais e vegetais serão extintas, prevendo-se, em adição, a ocorrência de tufões, terremotos e importantes reduções da produção agrícola.
O Protocolo de Kyoto, negociado em 1997, foi assinado por 84 países e só entrará em vigor depois que for reconhecido em lei em pelo menos 55 países. Trata-se de um acordo internacional para reduzir as emissões de gases-estufa dos países industrializados e assegurar um modelo de desenvolvimento limpo aos países em desenvolvimento. Por esse acordo, os principais países poluidores obrigam-se a reduzir, entre 2008 e 2012, cerca de 5,2 % das suas emissões em relação aos níveis medidos em 1990.
Para a União Européia, foi estabelecida a redução de 8% com relação às emissões de gases em 1990. Para os Estados Unidos, foi prevista a diminuição de 7%; para o Japão, de 6%. Para os países em desenvolvimento, como o Brasil, China, Índia e México, esses níveis de redução ainda não foram estabelecidos. Além da redução das emissões de gases, o Protocolo de Kyoto estabelece outras medidas, como o incentivo ao uso da energia elétrica e do gás natural.
Infelizmente, porém, os Estados Unidos se retiraram do acordo em março de 2001. Trata-se do país que mais emite gases poluentes.

sábado, 17 de março de 2007

Bola na Arquibancada

"Por sua inaptidão para o trabalho, meu filho Charles Darwin será uma vergonha para si mesmo e para toda a família."


Robert Darwin (1766-1848), médico inglês

sexta-feira, 16 de março de 2007

RETALHOS DO QUOTIDIANO (parte 4/26)

Prognóstico falho

Nunca fui capaz de nenhum gesto heróico ou valentia, nem mesmo de uma bravata. Como o poeta, eu me abaixo da pedra, sempre que há uma possibilidade de pedra. Houve uma única exceção. Saindo de uma boate na madrugada inacreditável, percebi um automóvel que se aproximava, muito devagar, na nossa direção. Nem sei como pude ver, num átimo, que alguém do carro mirava contra Cecília; saltei sobre ela, protegendo-a com o meu corpo. Sofri um pesado impacto nas costas e caí, ferido, enquanto o carro desaparecia, cantando os quatro pneus. Um tijolo, sim, um tijolo, cujo motivo jamais saberei explicar. Senti no instante crucial que tudo nos unia. Nada dissemos, nem na hora, nem nunca. Eu teria dado a vida por ela, e acho que me provei isso. Com certeza ela teria feito o mesmo por mim.
Falhar nos prognósticos é a minha matéria e, sei lá, tenho uma propensão para a inconstância. Pois hoje, decorridos oito anos, somos um casal de... descasados. Isso mesmo, des-ca-sa-dos!
Não sei, com efeito, das razões objetivas da nossa separação, se é que existiram. Creio que isso é tarefa para psicólogos e psicanalistas, essa gente que entende de alma e sabe como sondar o que temos de impenetrável. Nos meus insights amadores, concluí muito prosaicamente que no casamento cada um entra com a sua quota de renúncia; são coisas banais, que incomodam, mas seguem toleradas porque o benefício da união é maior que os custos envolvidos. Ceder espaços, conviver com os pequenos defeitos recíprocos, não ter direito à solidão, discutir o que se quer fazer, e também o que não se quer fazer, são miudezas e futilidades que se acumulam ao longo do tempo e paulatinamente vão alterando a equação do casamento. Cecília se aborrecia quando voltávamos antecipadamente de Cabo Frio, na noite de sábado, para que eu não perdesse o meu tênis no domingo de manhã; reclamava das minhas reuniões de trabalho, todas as terças, a varar pela madrugada; e do chope, que eu tomava com os amigos nas noites de sexta-feira. Mas eu também não cedia? Perdi o filme do Ettore Scola para ver Antonio Banderas e, ora pois, a partida final do campeonato para esperar a tia Amália no aeroporto, e muitas vezes aturei intermináveis conversas sobre modas e percorri exposições que não me despertavam nenhum interesse. Ah, tive até de suportar certo estilista americano, que ficou espantado quando percebeu que o Rio de Janeiro está mais para Nova York do que para Floresta Amazônica.
- Floresta Amazônica?
- Sempre pensei que o Brasil fosse uma ilha cercada pelo rio Amazonas, infestada de índios e jacarés, mas cheia de cafezais, escolas de samba e mulheres de biquíni.
- Sim...
- Ao sul de Buenos Aires e ao norte de Copacabana.
A isso, tudo acumulado, eu chamo de ruptura por fadiga de material, pois não vejo outras razões. Na nossa contabilidade conjugal não relaciono nenhum cristal quebrado, nem mágoas ou ressentimentos fundamentais. Rousseau, se me acudisse com alguma de suas autorizadas explicações, talvez atribuísse essa separação improvável à independência financeira dos parceiros, pois só a necessidade consolida e mantém a família; a não-necessidade opõe-se à sua estabilidade, pois torna o desenlace fácil e operacional. Não descarto, porém, a hipótese de que eu esteja a malversar o desconcertante e alucinado Rousseau, cuja obra li, anos atrás, de forma descomprometida e superficial.
(Continua)

quinta-feira, 15 de março de 2007

Isaac Newton x Albert Einstein


Isaac Newton

Eis os versos do poeta inglês Alexander Pope (1688-1744), gravados no túmulo de Isaac Newton (1642-1727), na Abadia de Westminster, em Londres, Inglaterra:

Nature and Nature's law lay hid in night.
God sad “Let Newton be“ and all was light.

Em Português:

A natureza e suas leis jaziam dentro da noite.
Disse Deus “Que seja Newton” e a luz se fez.


Albert Einstein

John Squire (1884-1958), outro poeta inglês, propôs acrescentar àquele epitáfio de Newton os seguintes versos:

It did not last: the Devil howling “Ho!
Let Einstein be!” restored the status quo.

Em Português:

Não durou muito: o Diabo uivando “Oh!
Einstein seja feito!” restaurou o status quo.
Camada de Ozônio e Protocolo de Montreal

Circundando a Terra a uma altitude que varia entre 15 e 40 quilômetros, a camada de ozônio atua como um escudo que nos protege da luz ultravioleta do Sol. Se houver uma deterioração importante dessa camada, os raios ultravioletas destruirão o nosso sistema imunológico e, pois, a capacidade que temos de lutar contra as doenças. Provocarão, além disso, câncer de pele nas pessoas de pele clara, e somente nestas, pois as pessoas de pele escura têm um suprimento abundante de melanina, que as protege dos seus efeitos. Para aumentar o problema, essas radiações solares atacam e destroem o fitoplancto marinho, que é a base da cadeia alimentar que mantém a vida nos mares, e arruínam as plantas terrestres e as colheitas, para além de outros males, cujas conseqüências nem conhecemos em sua plenitude.
F. Sherwood Rowland e Mario Molina, professores da Universidade da Califórnia, provaram em seu laboratório, em 1974, que a camada de ozônio estava sendo seriamente danificada por causa do uso industrial do clorofluorcarboneto, o que, aliás, lhes rendeu o Prêmio Nobel de Química, de 1995. De fato, desde a década de 1970, os clorofluorcarbonetos, ou simplesmente CFCs, compostos artificiais inventados nos laboratórios dos Estados Unidos e da Alemanha, constituídos de carbonos ligados a átomos de cloro e de flúor, tornaram-se o principal fluido ativo dos refrigeradores e dos aparelhos de ar condicionado, em substituição à amônia e ao dióxido de enxofre, e preponderaram na indústria microeletrônica e na fabricação de espumas, produtos de limpeza, aerossóis e solventes químicos. Quando esses produtos são consumidos e as geladeiras e condicionadores de ar são postos a funcionar, o clorofluorcarboneto liberta-se para a atmosfera, espalhando-se ao redor do planeta. Um gás praticamente inerte, que, entretanto, tem grande capacidade de destruir o ozônio, sem ser destruído. Cada átomo de cloro liberado na estratosfera pode remover 100 mil moléculas de ozônio, antes de regressar à superfície da Terra, na forma de cloreto de hidrogênio. O buraco na camada de ozônio diminui durante o inverno, mas aumenta na primavera, sobretudo na Antártica e, de maneira menos importante, no Pólo Norte. A própria indústria, a princípio relutante, teve de reconhecer a gravidade do seu produto, cujos efeitos maléficos podem perdurar por algumas dezenas de anos.
Em 1978 o uso dos CFCs em aerossóis foi proibido nos Estados Unidos, Canadá, Noruega e Suécia, e algumas indústrias importantes começaram a desmobilizar suas fábricas de CFC, a partir da década de 1980. O primeiro acordo global foi alcançado pelo Protocolo de Montreal, de 1987, pelo qual 150 nações se comprometeram a reduzir o uso dos CFCs à metade, até o ano de 2000. Duas revisões desse acordo foram acertadas, em Londres e Copenhague, a última das quais em 1992, ficando estabelecido que todas as nações importantes do mundo se empenharão em reduzir a zero, até 2030, a produção de CFCs e de outros halocarbonetos, de propriedades semelhantes.
Desde 1995 não se produz mais o CFC em escala industrial, limitando-se a uma produção marginal, para fins médicos. A conseqüência é que já se observa uma redução sensível no buraco de ozônio sobre a Antártica, sendo esperada a total regeneração da camada de ozônio até o ano de 2050.

quarta-feira, 14 de março de 2007

Cemitério de Bolso

Do lado esquerdo carrego meus mortos.
Por isso caminho um pouco de banda.


Carlos Drummond de Andrade, 1954

terça-feira, 13 de março de 2007

RETALHOS DO QUOTIDIANO (parte 3/6)

Pequenas grandes vitórias

Passamos todo o dia vendo Ticiano, Tintoretto e Veronese, mas à noite decidimos sair daquele espaço entre a Praça de São Marcos e Rialto, o roteiro da segurança, e nos pusemos a caminhar aleatória e irresponsavelmente por estranhos becos e vielas, deixando para trás todas as referências e sotopórtegos. A inevitável conseqüência foi nos perdermos nos contornos recônditos da cidade, a qual, por sinal, sempre me pareceu um categórico labirinto. Na madrugada fria e silenciosa da Veneza aterradora não havia uma única pessoa circulando pelas ruas, que nos socorresse com alguma orientação; rodávamos à busca de um rumo, cada vez mais perdidos e desnorteados; lembrei-me então dos casais assassinados naquelas reentrâncias, o que eu vira repetidas vezes em filmes e documentários. Cecília ria, achando divertido e até romântico estarmos assim perdidos, sem entender por que eu me mantinha tão preocupado. Quando, sãos e salvos, desembocamos junto do nosso hotel, que ficava ao lado do Palácio dos Doges, ela apontou para a Ponte dos Suspiros e exclamou, cheia de alegria:
- Carlinhos, você é o meu Casanova!
Ri, muito aliviado, mas decidi contar-lhe o perigo que havíamos passado, ao alcance de maníacos que trucidavam casais que se perdiam na madrugada escura de Veneza.
- Veneza, como Veneza? Ora, Carlinhos, isso é lá em Florença!
Eu me enganara. Não era a primeira vez, nem seria a última.Veneza passou a ser uma espécie de senha, e, toda vez que eu errava, ela me advertia com autoridade:
- Lembre-se de Veneza.
Certa vez tive de dar uma palestra em Ouro Preto, e Cecília decidiu me acompanhar. Terminado o compromisso, ficamos na cidade para conhecer igrejas, ver obras do Aleijadinho, visitar o Museu de Mineralogia e percorrer os sítios históricos, como as casas de Tiradentes, Marília de Dirceu, Cláudio Manoel da Costa e Tomaz Antônio Gonzaga. Corremos algumas lojas, e Cecília se encantou com um colar de granada, que custava dez mil e novecentos reais. Quando eu preenchia o cheque, Cecília interrompeu a compra, movida por uma das suas intuições. Fomos a outras lojas e encontramos um colar em tudo semelhante àquele por escassos trezentos e vinte reais. Sua iniciativa implicou uma economia superior a dez mil reais, mais do que logo depois nos custou um mês de férias na Califórnia.
Granada tornou-se outra senha importante para os avisos recíprocos diante de um preço irrazoável.
- Granada.
- Sim, granada.
E o episódio das corridas de cavalo? Expliquei-lhe como era o jogo, cada cavalo correndo na sua turma, e tudo que eu sabia sobre pista, distância, cânter, o partidor australiano, rateio, duplas e placês. Ah, expliquei também sobre o totalizador das apostas. Eu estudava o programa e jogava, e Cecília, sem jogar, só observava. No último minuto das apostas do oitavo páreo, ela decidiu jogar mil reais em Full Advantage, um cavalo que não tinha nenhuma chance, segundo todos os retrospectos e prognósticos. Que muitas vezes falham, sim, falham, e esse foi o caso, pois Full Advantage ganhou a corrida facilmente. Cecília recebeu no guichê seis mil e oitocentos reais.
- Como você descobriu esse Full Advantage?
- Você se preocupou com o retrospecto dos cavalos, e eu, que não entendo nada disso, com o dinheiro.
- Com o dinheiro?
- Sim, com o dinheiro. Fiquei de olho no totalizador, ao longo de todos os páreos anteriores.
- Sim, a evolução das apostas...
- Tive a clara percepção de que há pessoas que sabem qual será o cavalo ganhador.
- Como assim?
- Ganha o cavalo cujas apostas crescem desproporcionalmente nos três minutos que antecedem à largada; quando vi crescer o volume jogado no Full Advantage, decidi assumir o meu risco.
- Coincidência, Cecília.
- Pode ser, mas funcionou.
Nesse dia perdi 700 reais, mas o saldo familiar foi positivo.
(Continua)

segunda-feira, 12 de março de 2007

Santo Sudário

Seria a mortalha de Jesus Cristo a peça de linho, de 1,10 m por 4,35m, que se encontra guardada numa capela da Catedral de Turim? Os sudaristas afirmam que sim, e os céticos garantem que não, duas correntes, antagônicas, cujos argumentos se baseiam em razões exaustivas e convincentes. Essa relíquia, conhecida pelos nomes de Síndone, Sabana, Mandylion, Santo Sudário ou simplesmente Sudário, foi fotografada pela primeira vez em 1898, por Secondo Pia, que obteve, como imagem, o negativo, em frente e verso, do corpo de um homem morto, inteiramente nu, com barba e cabelos longos, lembrando o Cristo crucificado.
O Sudário teria sido levado no Século I para Edessa, na Turquia, onde recebeu o nome de Mandylion, e lá permaneceu até 944, quando os bizantinos o transportaram para Constantinopla. A peça desapareceu de Constantinopla em 1204, levada para a Europa talvez pelos Templários, e ressurgiu na França, nas mãos do cruzado Geoffroy de Charny, que em 1356 o fez guardar na Igreja de Lirey. Em 1453 Margarita de Charny doou-o a Ana de Lusignano, esposa de Ludovico de Savóia, que o manteve guardado na Igreja de Chambéry. Em 1694 o Sudário foi levado definitivamente para Turim, onde se encontra guardado na Capela do Arquiteto Guarino Guarini, anexa à catedral de Turim. Em 1983 a Casa de Savóia doou o Santo Sudário ao Vaticano, que, não obstante, manteve-o em Turim.
Os céticos acreditam que a peça não passa de uma falsificação do Século XIV. Em 1988 fragmentos do Sudário foram submetidos ao teste do carbono 14, por três universidades, a saber, Oxford, na Inglaterra, Arizona, nos Estados Unidos, e Zurich, na Suíça, que indicaram tratar-se de objeto com origem entre os anos de 1260 e 1390. Walter McCrone, um dos mais famosos microscopistas do mundo, afirmou não haver encontrado nenhum vestígio de sangue no Sudário, além do fato de que não há nele nenhuma indicação de aloé e mirra, que teriam untado o corpo de Cristo, segundo o Evangelho de São João.
Por seu turno, os sudaristas, também conhecidos como redentoristas, procuram desqualificar esses testes, alegando que os mesmos se basearam em amostras contaminadas, porque deterioradas pela presença de carbono e fumo, decorrente de um incêndio sofrido pelo Sudário em 1532. Os químicos americanos Alan Adler e John Heller encontraram hemoglobina nos fragmentos do Sudário e contestam a afirmação de McCrone de que a imagem corresponde a uma tinta formada por pigmentos ocre e vermelho, tratando-se, pelo contrário, do escurecimento das fibras do tecido por causa da hidratação da celulose. A mancha corresponde, assim, a sangue coagulado sobre a pele de um homem ferido, que não seria possível obter por meios artificiais. Pólens de flores que crescem na região do Mar Morto na época da Páscoa foram encontrados no Sudário, que, adicionalmente, contém resíduos de pólen da França e da Turquia.
Muitos se dedicam profissionalmente aos estudos sobre o Sudário, sendo conhecidos como sindonologistas, cada um com sua especialização, que pode ser em anatomia, química, biologia, fotografia, computação gráfica ou palinologia. Há cerca de 400 grupos de sindonologistas, um dos quais, o STURP (Shroud of Turin Research Project - Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim), formado por 40 cientistas, emitiu em 1983 um relatório contendo o resultado de 100 mil horas de estudo, com a afirmação de que suas pesquisas não atestam "nenhum indício de que a relíquia seja falsa".
O Papa João Paulo II visitou o Sudário em Turim em 1988 e, contornando a controvérsia com grande habilidade, declarou, na ocasião, que “a Igreja confia aos cientistas a tarefa de investigar e responder adequadamente às questões relacionadas com o manto que, segundo a tradição, cobriu o corpo do Redentor, quando foi descido da cruz. O homem refletido no Sudário é a imagem do sofrimento humano, que nos convida à reflexão sobre o mistério da dor e de suas causas. Para os que crêem, o Santo Sudário é o espelho do Evangelho.”
O Binômio de Newton

O Binômio de Newton é tão belo como a Vênus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso.

óóóó---óóóóóó óóó---óóóóóóó óóóóóóóó

(O vento lá fora.)


Fernando Pessoa (Álvaro de Campos), 15-1-1928

domingo, 11 de março de 2007

RETALHOS DO QUOTIDIANO (parte 2/26)

Uma mulher especial

Cecília estaria sempre sob minha proteção econômica. Eu, que ganhava bem na WED, representava o seu seguro, a cujas coberturas a bem da verdade ela nunca precisou recorrer, pois fez nesses oito anos uma carreira vitoriosa, tanto do ponto de vista profissional como financeiro. Ela percebe as oportunidades e administra seus projetos de forma sempre competente, o que, aliás, explica amplamente por que uma arquiteta interessada em modas decidiu tomar cursos de estatística e de econometria no Department of Business da Universidade do Texas.

Cecília planeja, controla, coordena e comanda tudo, como se fosse um Ford, um Fayol, sei lá. Esforço e muito talento igual a êxito, eis uma lei que justifica muito bem os vencedores do mundo. Em pouco tempo ela passou a ganhar mais do que eu. Sempre haverei de reconhecer, com exemplos fartos, que Cecília é uma pessoa diferenciada, e ganhar dinheiro com maestria e dedicação é apenas uma das muitas manifestações da sua inteligência superior. Ela prepondera, esta palavra diz tudo, não importa se a causa é grande, influindo na conta bancária ou no destino das pessoas, ou se irrelevante, como na escolha de um guarda-chuva ou na elaboração de uma lista de convidados.
Com muito dinheiro afluindo de ambos os lados, compramos a mansão do Itanhangá e assumimos uma vida de muito conforto material, que incluía carros importados e constantes visitas à Europa. O importante, porém, é que nós nos bastávamos, pois tudo em volta parecia ser, e era, mero complemento na paisagem colorida da nossa existência.
Cecília sempre teve a minha admiração. Lembro-me, claro, da madrugada inesquecível de Veneza, do colar de Ouro Preto e da vitória do Full Advantage, aquela vez no Jóquei Clube.
Ah, tem também aquela história dos cobertores, inesquecível... Os que não morreram tentavam salvar suas miudezas, que a correnteza ia arrastando de maneira decidida. As pessoas, se quisessem ajudar, poderiam enviar dinheiro ou levar suprimentos e agasalhos ao depósito da Rua da Constituição, 147, lá no centro da cidade.
- Vamos ajudar essa gente, Carlinhos.
Cecília e eu compramos dez dúzias de cobertores, que levamos à Rua da Constituição. Tivemos uma recepção fria e burocrática, quase grosseira, e fomos instruídos a deixar os cobertores num pátio muito sujo, onde desordenadamente se amontoavam outros donativos. Tudo seria removido para um depósito central e distribuído aos flagelados, mas a seu tempo.
Um mês depois, superada a urgência da catástrofe, Cecília quis voltar à Rua da Constituição.
- Tenho ordens para abrir o depósito, disse ela ao vigia.
- Abrir o depósito? Ordens de quem?
- Do general Esperantino Tinoco.
Lá dentro estavam os nossos cobertores, embrulhados como os deixáramos no dia da tragédia. Por ordem do general Tinoco, nós os resgatamos e os encaminhamos a uma instituição de caridade.
- Não conheço esse general Tinoco, Cecília.
- Nem seria possível conhecê-lo, simplesmente porque ele não existe. Foi a minha maneira de pressionar o vigia.
- Ótima, essa. Por que será que pediram donativos e não os enviaram para as vítimas?
- Esse o ponto. Eles embolsaram o dinheiro piedoso, esquecendo-se do resto, pois não tinham intenção nenhuma de ajudar alguém; os suprimentos só entravam na história para dar credibilidade ao apelo.
- Agora entendo; os outros donativos não lhes interessavam.
- Mas há os chatos, como nós.
E, entre estes, os espertos, como Cecília.
(Continua)

sábado, 10 de março de 2007

RETALHOS DO QUOTIDIANO (parte 1/26)

Cecília

Era a primeira aula na Universidade do Texas. O professor Burford, comentando o teste de admissão, revelou que dois alunos haviam se confundido na interpretação da terceira questão. Pelo mesmo e prosaico motivo: dificuldades com o idioma inglês. Ambos brasileiros, ambos recém-chegados a Austin.
- Um deles é este aqui, disse Burford, apoiando a mão sobre o meu ombro, e ele se chama Carlos Auvergne de Carvalho. The quick brown fox jumps over the lazy dog e, não obstante, o senhor não sabe o significado de dummy variable. Veja só!
Um vexame que nem cheguei a padecer, pois o professor, deslocando-se para o outro lado da sala, apontou para a bela jovem de calça jeans e casaco branco. Foi naquele momento que a vi pela primeira vez.
- Cecília, Cecília Lafayette de Castro.
O aplauso de toda a turma era uma demonstração de solidariedade, que ela agradecia cheia de modéstia, mas com sorriso cativante. Sem dúvida, um tributo à sua extraordinária beleza, pois, se assim não fosse, teriam me aplaudido também, por que não?
Importante é que eu já não estava só naquele mundo estrangeiro, cujo sotaque eu decifrava com dificuldade e ouvido incompetente. No Union´s, o restaurante do campus universitário, ela me explicou que era arquiteta por formação, mas tinha a ambição de ser estilista.
- The quick brown fox jumps over the lazy dog, o que é isso?
- A ligeira raposa marrom pula sobre o cão preguiçoso. É uma frase que contém todas as letras do alfabeto inglês, usadas nos testes relacionados com as máquinas de telégrafo. Essa frase faz parte do show do Burford, que viu em nós, estrangeiros, o pretexto para dizer que o inglês se espalha galhardamente por aí, em todas as bibliotecas do mundo, usando não mais que escassas 26 letras. Daí a estranheza com alunos graduados que não sabem o que é dummy variable. Já pensou na tragédia que será alguém morrer sem saber o significado de dummy variable?
- Ou seja, isso de não saber inglês é pura negligência... Devemos reconhecer, todavia, que ele foi carinhoso conosco, pois, seja como for, fomos apresentados à turma.
- Sem dúvida... Mas, voltando à raposa, será que ele sabe português? São apenas 23 letras, se não estou enganada.
- Apenas 23, sim, mas suficientes para escrever os Lusíadas.
- E as crônicas do Rubem Braga...
- Mudando de assunto, Cecília, por que uma estilista tem de estudar estatística?
- Porque trabalha com moda.
- Um trocadilho?
- Onde você acha que os estatísticos foram buscar a sua noção de moda? A moda, a das roupas, tem tudo a ver com amostragem, média, mediana, momentos, desvio padrão...
- É, basta ter uma distribuição de freqüências.
- E você, por que está aqui, na Universidade do Texas?
- Bem, sou engenheiro recém-formado e cumpro um treinamento de três meses, a serviço da WED.
- WED?
- Sim, W-E-D, Western Energy Development.
Cecília e eu decidimos estudar juntos e, entre histogramas, regressões e números-índices, tive a percepção de que estávamos construindo uma parceria vitoriosa, que iria para além de uma primavera universitária no Texas. Acertei, pois logo estávamos namorando, e morando juntos, perfeitamente integrados um ao outro.
Terminado o curso, visitamos Nova Orleans, San Francisco e Nova York, antes de voltar para o Rio de Janeiro.
- Se você quiser, Cecília, podemos duas coisas.
- Acho que podemos mais do que duas coisas, Carlinhos.
- Sim, mas quero me referir a duas delas, muito específicas e fundamentais. A primeira é estabelecer um binômio para nós, lealdade e generosidade.
- Muito justo e pertinente. E a outra?
- É a gente se casar, assim que chegarmos ao Brasil.
(continua)
Efeito Borboleta

Edward Lorentz, um professor do Massachusetts Institute of Technology, o MIT, havia desenvolvido um conjunto de equações matemáticas para estudar a circulação atmosférica. Estávamos em 1960. Seu modelo foi construído de maneira que o computador calculava os valores das variáveis atmosféricas de um ponto no tempo, que serviam como dados de entrada para o cálculo dos valores do ponto seguinte; desse modo Lorentz obteve uma longa seqüência de resultados, que o computador foi imprimindo ponto a ponto, até que um defeito da máquina interrompeu o processo.
Sanado este problema, Lorentz decidiu não reiniciar os cálculos do ponto inicial, mas de um ponto intermediário, adotando para o mesmo os valores anteriormente calculados pelo computador. Observou, com surpresa, que na nova computação os valores obtidos para os pontos subseqüentes foram se afastando progressivamente daqueles encontrados no cálculo anterior, até que, afinal, tornavam-se absolutamente discrepantes.
- Como isso pôde ocorrer, se as equações eram as mesmas e os valores para iniciar a nova seqüência haviam sido calculados pelo próprio computador?
Após muito investigar, Lorentz descobriu que o computador imprimia seus valores com três casas decimais (0,506 era o valor relativo de uma variável ao início da segunda seqüência), mas na hora de calcular operava com seis algarismos após a vírgula (0,506127, no caso em questão). Havia uma diferença invisível, de 0,000127, entre as condições iniciais das duas seqüências que estavam sendo comparadas - no caso, uma diferença de 0,025%, que todos consideravam desprezível, até o computador. Foi assim que se descobriu que as condições iniciais nos fenômenos complexos, como os meteorológicos, podem ter influências importantes nos resultados, para além do que podemos imaginar à primeira vista.
A diferença aparentemente insignificante era significante demais!
Os sistemas não lineares têm a capacidade de ampliar superlativamente todos os desvios, impondo resultados erráticos, que parecem se subordinar ao acaso ou aos desígnios do caos e de seus estranhos atratores. Um sopro, por mais débil e insignificante, ao cabo de certo tempo pode ter um efeito devastador. Calculemos, por exemplo, o número que se obtém elevando 14,251 à oitava potência; a seguir, repitamos o cálculo arredondando o número, a ser elevado a essa potência, de 14,251 para 14,250. Um insignificante desvio de 0,001 ou 0,1%. Verificaremos, porém, que a diferença entre os dois resultados obtidos corresponde a 954.774, equivalente a quase um bilhão de vezes o desvio introduzido inicialmente. Nem sempre 14,251 é mais ou menos a mesma coisa que 14,250!
Lorentz escreveu um artigo sobre essa questão, que se tornou célebre:

“Previsibilidade: o bater de asas de uma borboleta no Brasil provoca um tornado no Texas?”

Por causa desse artigo, a influência das condições iniciais nos fenômenos não-linerares passou a ser conhecido como Efeito Borboleta. O passado não é uma fábrica de futuros, pois tudo que acontece é construído passo a passo, e de forma não linear, de modo que uma pequena alteração nas condições iniciais de um fenômeno pode implicar uma mudança importante no seu resultado final. As idéias de Lorentz se alinham com as do francês Henri Poincaré, que em 1900 dera início à teoria do caos, reconhecendo, desde então, que a maioria dos fenômenos se inter-relaciona mediante equações não-lineares, o que torna maior a incerteza do homem perante o Universo. O caos está presente extensivamente, seja na meteorologia, nas flutuações dos preços nas bolsas de valores, nas correntezas ou no crescimento das populações animais. Pois em quase tudo há realimentação interna, interação constante e toda sorte de perturbações não-lineares.