sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Miniconto

ONDE ESTÁ VELIONIS?


Estou enviando esta circular para você e outros amigos para pedir que me ajudem a localizar uma moça da qual sei apenas que se chama Velionis. Trata-se de uma desconhecida, que bateu à minha porta numa madrugada de agosto, pedindo-me um favor: que eu apostasse na sena do dia 2 de setembro, pois estava impedida de fazê-lo pessoalmente. E foi me passando os números e o dinheiro da aposta, sem mais explicar. Minha reação foi de perplexidade, claro, mas a moça se esgueirou, desaparecendo misteriosamente,  antes que eu pudesse dizer alguma coisa. Para complicar, e muito, o jogo foi contemplado com um prêmio de quase dez milhões de reais. Que tive de depositar na minha conta, pois a moça não apareceu nunca mais. Alguém me garantiu que "velionis” significa“falecida” em lituano, o que para mim não tem nenhuma importância.
Hei de localizá-la, custe o que custar. Ajudem-me, pois, a encontrar a Velionis!

sábado, 22 de dezembro de 2012

CONTOS DE 150 PALAVRAS (52)


A IMPORTÂNCIA DE NÃO SABER TABUADA



No seu livro “O Andar do Bêbado”, Leonard Mlodinow conta a história verdadeira de um homem que percorreu várias casas lotéricas antes de achar um bilhete que terminava com o número 48. Era a loteria nacional espanhola, e o bilhete por ele adquirido foi contemplado com a grande fortuna. Procurado,  o milionário  deu uma explicação que desconcertou paraguaios e baianos:

- Só servia um número terminado em 48.

- Por quê?

- Sonhei com o número 7, em 7 noites consecutivas. E 7 vezes 7 é 48.

Eis aí a coincidência da ignorância com a sorte: o homem ficou rico porque não sabia tabuada.  Um deboche para  os que acreditam em sonhos premonitórios, capazes de orientar sobre apostas nos jogos de azar. 

- Se forem 100 mil bilhetes  concorrendo na extração, são 100 mil histórias diferentes.

 - Nenhuma talvez tão bizarra.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

CONTOS DE 150 PALAVRAS (51)

MERCADOS

Um sonho muito estranho. Invadi o pregão da Bolsa de Valores, subi na mesa de operações, dei três batidas no microfone e, percebendo seu bom funcionamento, com a melhor das intenções disse exatamente o que se segue:

- Senhoras e senhores...

Tudo estacou, como num quadro de Ticiano, onde os rostos ficam à espreita, dominados pela dúvida e pela angústia. Os operadores silenciaram, e os computadores, inerciados pelos acontecimentos, pararam de vomitar cotações em tempo real. Os mercados de Nova York, Londres, São Paulo, Tóquio e Shangai permaneceram  estáticos/extáticos.


- Senhoras e senhores... Senhoras e senhores... 

Depus o microfone com a elegância requerida e me retirei do pregão, pensando o seguinte: se os especuladores aumentarem artificialmente o preço de todas as ações em dez por cento, o mundo capitalista vai ficar dez por cento mais rico.

sábado, 15 de dezembro de 2012

CONTOS DE 150 PALAVRAS (50)


A VÊNUS DE MILO

[A.jpg]

Não consegui acompanhar as aulas de matemática, das quais, apesar de muito esforço, ficou-me apenas um comentário do professor Eutrópio:

 - O  Binômio de Newton, de tão importante, é até citado na poesia de Fernando Pessoa. 

Parecia uma tirada inconsequente do Eutrópio, que era meio grosso e irônico, além de ter cara de quem não leu poesia nenhuma. É verdade que eu tampouco me importava com poesia e apenas conhecia, se tanto, o Mal Secreto e alguns trechos bem condoreiros do Navio Negreiro. Seja como for, abandonada a ideia de ser engenheiro e passados mais de vinte anos, fui outro dia à livraria e comprei as obras completas de Fernando Pessoa, o poeta que, em sonhos, sonhos criou. Encontrei o poema em Álvaro de Campos:


“O Binômio de Newton é tão belo como a Vênus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso.
óóóó óóóóóó óó óóóóóóó óóóóóóó (O vento lá fora.)”


Ou seja, vestibular de engenharia também é cultura.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

CONTOS DE 150 PALAVRAS (49)

O CÓDIGO DO NOVO MUNDO


Alguém pediu a Edgardo que escrevesse um código para ser observado num hipotético mundo novo.
- Um código?
- Que seria inscrito no monumento principal.
Código de Edgardo

"Guerra a todas as máquinas de calcular, aos índices de produtividade, à estatística e à inflação persistente, mas controlada;
Guerra às democracias, ao ângulo obtuso, ao número 18 e aos nomes de guerra;
Guerra à lei da gravitação universal, ao ano decretório, à tripanossomíase sul-americana e aos mecanismos de defesa do nosso ego atribulado;
Guerra ao crivo de Eratóstenes, ao Estreito de Dardanelos e ao esternoclideomastoideo;
Guerra às divisões celulares, à segunda divisão e às divisões blindadas;
Guerra ao anacoluto, ao estilo gótico e ao Tratado de Tordesilhas, revisto e ampliado;
Guerra a todas as guerras."


Guerra contra todas as guerras: esta guerra existirá, com certeza.
- Abaixo o Estreito de Dardanelos...


sábado, 8 de dezembro de 2012

CONTOS DE 150 PALAVRAS (48)


OS SETE SÁBIOS DA GRÉCIA ANTIGA

A lista dos sete sábios da Grécia assumiu sua composição definitiva ao tempo de Platão: Tales de Mileto, Periandro de Corinto, Pítaco de Mitilene, Bias de Priene, Cleóbulo de Lindos, Sólon de Atenas e Quílon de Esparta.
 
- Prefiro o Cleóbulo de Lindos
 
Conta a lenda que os pescadores de Mileto certa vez encontraram um vaso sagrado nas águas do Mar Egeu. Não havendo acordo sobre o destino que deveriam dar à peça, decidiram consultar a respeito o deus Apolo, no Oráculo de Delfos. A resposta de Apolo, transmitida pelas pitonisas, mandava entregar o vaso ao mais sábio dos homens. O escolhido foi Tales, que, não se considerando o mais sábio, enviou-o a Periandro, que, pelo mesmo motivo, passou a oferta adiante. E assim o vaso foi mudando de mãos, transitando pelos sete sábios. 

- O último deles, Sólon, encerrou a questão, ofertando-o a Apolo, "o mais sábio dos deuses".