quarta-feira, 29 de julho de 2009

TÉDIO

NENHUMAÇÃO RECÍPROCA

Depois de oito anos, Cecília e eu éramos outros, não outros quaisquer e ocasionais, mas outros consumados, consumadíssimos. Até que ela me veio com aquela história de Montgomery Clift e Shelley Winters, um amor que teve de fenecer para ensejar outro amor, maior e renovado; eu merecia, assim também, encontrar a minha Elizabeth Taylor, pois a mim não me faltavam os atributos para um merecido lugar ao sol.

Foi assim, civilizadamente assim, que ela me comunicou que nosso casamento já não lhe interessava. Uma derradeira convivência ainda nos tocou, sem nenhuma animosidade ou irritação. Que nem fariam sentido na nossa história, da qual a separação foi apenas um capítulo necessário. Estranho, porém, foi continuar transitando mais quarenta dias pelos caminhos da casa, pois nenhum cenário permanece neutro, nem impune, em face de um amor exaurido. Até a arte perde o sentido, as cores se esmaecem e, para dizer a verdade, nunca vi a menor graça naquela cortina da sala de visitas, lilás, isso mesmo, lilás, e em momento algum estive de acordo com a moldura que ela escolheu para o Böcklin que arrematamos no leilão da Bartolomeu Mitre. Nem mesmo um telefonema ou um protocolar cartão de despedida. Pois um deixou de existir para o outro, aquele estágio na relação de duas pessoas que, para Octávio Paz, poderia chamar-se de nenhumação. Ou melhor, nenhumação recíproca, que é a arte de inexistir daqui para lá e de lá para cá...

Octávio Paz

sábado, 25 de julho de 2009

A IMAGEM DO UNIVERSO (35/n)

BIG BANG E SUAS PROVAS

(1) O primeiro êxito da teoria do Big Bang veio em 1948, com a chamada nucleossíntese do Big Bang, uma teoria de George Gamow e Robert Alpher, que mostrou como se formaram os elementos naturais leves (principalmente hidrogênio, hélio, lítio e berílio)
, momentos após o Big Bang, em apenas 300 segundos. Pela teoria, o hidrogênio deveria responder por 75 % da massa do Universo e o hélio, 25%, sendo marginais as contribuições dos outros elementos naturais. Essas percentagens correspondem exatamente à participação dos dois elementos no Universo. Em 14 de abril de 1948, o Washington Post publicou matéria alusiva à coincidência dos cálculos da nucleossíntese do Big Bang com os números do Universo real, estampando a seguinte manchete:

"O MUNDO COMEÇOU EM CINCO MINUTOS"

(A nucleossíntese dos elementos pesados foi explicada posteriormente por Fred Hoyle: os elementos mais pesados, até o ferro, são cozidos nas estrelas.; os elementos mais pesados que o ferro são cozidos nas explosões de supernovas.)

(2) Em 1965 houve a constatação, por Penzias e Wilson, da existência da radiação cósmica de fundo, uma radiação resultante do Big Bang , hoje na temperatura de 2,7 graus absolutos, que continua circulando por todo o Universo, prevista por George Gamow, Ralph Alpher e Robert Herman em 1948.

Mapa do céu obtido pelo WMAP

(3) Em 2003 o satélite WMAP fotografou o Universo quando ainda um bebê de 380 mil anos de idade, há cerca de 13,5 bilhões de anos. O Universo, desde o Big Bang, tem 13,73 (mais ou menos 0,12) bilhões de anos.

- Mas o que havia antes do Big Bang?

-
Antes do Big Bang, não havia nada.

- Como, nada?

- Nada é nada mesmo, pois foi com o Big Bang que surgiram a matéria, o espaço e o tempo.

Mudança de Paradigma

Até o início do século XVII, ou seja, antes de Galileu, a ciência fazia-se quase sempre com submissão ao misticismo e aos textos sagrados. As respostas às questões deviam ser procuradas na Bíblia, nos documentos da Igreja ou nos textos ungidos de Aristóteles e São Tomás de Aquino. Caso neles não se achasse a resposta, a pergunta certamente não deveria ter sido formulada.
Com o telescópio, que soube aperfeiçoar e logo apontou para o firmamento, Galileu descobriu as luas de Júpiter, observou as fases de Vênus, as crateras da Lua e as manchas solares, tudo em desacordo com a visão aristotélica de que a Terra era imóvel e plantada no centro de um Universo perfeito. O filósofo Giulio Libri recusou-se a olhar pelo telescópio de Galileu, sob a alegação de que “isso é um instrumento da falsidade, que faz as coisas parecerem como não são.” As questões de Galileu com o Santo Ofício podem ter ido além da sua insistência na concepção heliocêntrica, haja vista que esta foi estabelecida por Copérnico, um clérigo, e que vários cardeais já a aceitavam naquele tempo. O problema real era deixar que a verdade fosse descoberta por um pensador e observador individual, e profano, que, para complicar, insistia em escrever em italiano, não em latim.
Pois a vulgarização dessas coisas só servia para abalar a fé das pessoas comuns.
Acusado em 1633 de duvidar de que “Deus fixou a Terra sobre suas fundações, para que não se movesse nunca mais”, conforme está registrado na Bíblia, Galileu foi submetido a um longo julgamento pelo Santo Ofício, que o condenou ao silêncio e ao isolamento. Uma página negra, sem dúvida, mas com consequências importantes: o processo contra Galileu acabou ensejando um duro golpe no prestígio da Igreja.
Pois a ciência tornou-se independente e foi se afastando cada vez mais da religião, chegando a recusar a adesão desta ao Big Bang. Em 22 de novembro de 1951 o Papa Pio XII fez um discurso na Academia Pontífice de Ciência, no qual endossou o modelo cosmológico do Big Bang, comparando-o ao Fiat Lux do Gênese. Pelos seus líderes mais importantes, a comunidade científica simplesmente repudiou o apoio papal, enfatizando com determinação que modelos científicos nada têm a ver com concepções religiosas.

Ou seja, Galileu venceu a parada, ainda uma vez. Ele que se tornara o mais conhecido dos cientistas, além de símbolo da luta contra o obscurantismo.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

ALTERNÂNCIA E EXPLICAÇÃO

Alternância


A gente alterna...

Um homem ia pela estrada, montado no cavalo, e atrás seguia sua mulher, caminhando.

- Como se justifica, perguntou alguém, que o senhor viaje a cavalo, enquanto sua mulher segue a pé, atrás?

- Nem sempre, respondeu o cavaleiro, pois quando o cavalo cansa eu permito que ela caminhe à nossa frente.


Explicação


Um homem vendia cadeiras na feira por um preço muito inferior ao das lojas. Um dia um rival pôs-se a vender, no mesmo local, cadeiras em tudo semelhantes às do primeiro, mas por um preço muito menor.


-Como pode você vender, por um preço inferior ao meu, cadeiras iguais às que faço, se eu roubo a madeira, roubo o forro, roubo os pregos e roubo a tinta?

- Muito simples, respondeu o outro, eu roubo as cadeiras vendidas por você.

sábado, 18 de julho de 2009

A IMAGEM DO UNIVERSO (34/n)

A VITÓRIA DO BIG BANG

Em 1964, os pesquisadores norte-americanos Arno Penzias e Robert Wilson, que trabalhavam para os Laboratórios Bell, tentavam calibrar, em Nova Jersey, a antena gigantesca de um radiotelescópio, construído para pesquisar os sinais do satélite artificial Echo I, que os captava da estrela Cassiopeia A. Em dado momento perceberam no radiotelescópio um estranho e persistente ruído, vindo de todas as direções do céu e sempre com a mesma intensidade, no momento em que tudo estava desligado. Um ruído sem causa. Em vão procuraram defeitos em todos os componentes do radiotelescópio e de sua antena, chegando mesmo a se preocupar com as fezes (“material dielétrico branco”) depositadas na antena por um casal de pombos que nela se alojaram. Até uma célebre armadilha para pombos foi por eles pendurada na antena.

Armadilha para pombos, na antena de Penzias e Wilson

Na sequência desses eventos, e com o auxílio dos físicos teóricos da Universidade de Princeton, ficou provado que Penzias e Wilson haviam detectado a radiação cósmica de fundo, que está atualmente na forma de ondas de rádio, no espectro conhecido como micro-ondas, à temperatura de 2,7 graus Kelvin, em lugar dos 5,0 graus Kelvin postulados por Gamow.

Penzias e Wilson

Essa descoberta, um caso típico de serendipidade, desferiu um golpe mortal na teoria do Universo Estacionário e representou um argumento decisivo para a teoria do Big Bang. No dia 21 de maio de 1965, o New York Times publicou matéria na primeira página que tinha a seguinte manchete:

"SIGNALS IMPLY A 'BIG BANG' UNIVERSE"
("SINAIS CONFIRMAM A TEORIA DO "BIG BANG")

Penzias escreveria posteriormente:

"Quando você sair hoje à noite, e tirar o chapéu, estará recebendo um pouco do calor do Big Bang no seu couro cabeludo. Se tiver um rádio FM e sintonizá-lo entre duas estações, ouvirá aquele chiado aborrecido. Saiba que meio por cento dele estará vindo dos primeiros momentos da criação do Universo."

O interessante é que no alvoroço motivado pela confirmação do Big Bang, os nomes de Gamow, Alpher e Hermann foram completamente esquecidos e a outros cientistas foi atribuída a teoria da radiação cósmica de fundo. A injustiça (Alpher chegou a sofrer um grave ataque cardíaco) está sendo progressivamente corrigida, nos numerosos livros que reconstituem a trajetória da teoria do Big Bang.


E a idade do Universo?


A velocidade de afastamento das galáxias fora estabelecida por Hubble em cerca de 171 quilômetros por segundo para cada milhão de anos-luz (558 quilômetros por segundo para cada megaparsec). Esse valor desacreditava o Big Bang, pois, aplicando-o em direção ao passado, chegava-se, pelos cálculos, à conclusão de que o Universo teria começado sua expansão e existência há cerca de 1,8 bilhão de anos. Uma contradição com a assertiva dos geólogos de que a Terra tem 4,5 bilhões anos e, sobretudo, um argumento decisivo para os que defendiam um Universo eterno e imutável.

- Como pode a Terra, que é fiha, ser mais velha que a mãe?, perguntava Christopher Impey, da Universidade do Arizona.

Não era bem assim

Tamanhas são as dimensões do Universo que a luz emitida pelos astros, em particular pelas estrelas, pode demorar anos, séculos, milênios, milhões e bilhões de anos até chegar a nós. O Sol está a oito minutos-luz, significando que sua luz leva oito minutos luz para alcançar o observador terrestre; a estrela Alfa, da constelação de Centauro, que é a estrela mais próxima, leva quatro anos; Sirius, da constelação do Cão Maior, a estrela mais brilhante, 8,6 anos; Aldebaran, da constelação de Touro, 65,1 anos; Deneb, da constelação do Cisne, 3.227,7 anos.

-Desse modo, olhando para o céu noturno contemplo todas as épocas do Universo permitidas pelo alcance e capacidade da minha vista. A olho nu, vejo a história mais recente. Com um telescópio, é possível ver partes muito mais antigas. Com um satélite, posso ver a luz de todas as estrelas, ou seja, quase toda a história do Universo.

Satélite WMAP

Em 2003 o satélite WMAP (Sonda Anisotrópica de Micro-Ondas Wilkinson) conseguiu enxergar como era o Universo quando ele tinha apenas 380 mil anos, isso há 13,3 bilhões de anos-luz.

- O Universo tem portanto 13,7 bilhões de anos, com margem de erro de 0,2 bilhão. Uma idade compatível com a idade da Terra, com a idade de todas as estrelas e com a teoria do Big Bang.

- E a velocidade definida pela constante de Hubble?


- O valor da constante de Hubble (171 quilômetros por segundo para cada milhão de anos-luz (558 quilômetros por segundo para cada megaparsec) estava simplesmente errado, o que foi verificado por medições cada vez mais precisas e finalmente comprovado pelo projeto WMAP.
O valor correto da constante é de 71 quilômetros por segundo para cada megaparsec (3.260.000 anos-luz).

Big Bang

13,7 bilhões de anos, para a esquerda


A constatação da existência da radiação cósmica de fundo, mais a nucleossíntese do Big Bang, que explica a abundância de hidrogênio e hélio no Universo, e a confirmação da idade do Universo, de cerca de 13,7 bilhões de anos pelo WMAP, sobre derrotar o Universo Estacionário, colocaram a teoria do Big Bang na rota de uma explicação para o Universo. Nem tudo está resolvido, todavia, conforme se discutirá na próxima postagem.

sábado, 11 de julho de 2009

A IMAGEM DO UNIVERSO (33/n)

BIG BANG OU UNIVERSO ESTACIONÁRIO?

George Lemaître

Constatada a expansão do Universo, pela verificação do contínuo afastamento das galáxias, duas teorias dividiam os cosmólogos na segunda metade do século XX:

(a) Teoria do Big Bang,
concebida pelo belga George Lemaître. Defende que o Universo teve um momento de criação e tem portanto uma idade finita. Uma explosão inicial determinou a expansão.

e

(b) Teoria do Universo Estacionário,
proposta por Fred Hoyle, Hermann Bondi e Thomas Gold, o "Trio de Cambridge". Considera o Universo eterno, embora evolutivo, criando matéria para preencher os espaços entre as galáxias, que se afastam. A expansão decorre de um crescimento espontâneo e contínuo, como o de uma bola de soprar cheia que recebe mais pressão.

Fred Hoyle

Quando perguntavam a Fred Hoyle, como se podia explicar essa criação de matéria, ele respondia:

- O Universo, que pode muito, tem a propriedade de criar um átomo em cada século, no volume correspondente ao do edifício Empire State. Se isso de alguma forma incomodar os defensores do Big Bang, peço-lhes que expliquem o que determinou a explosão primordial e o que havia antes dela.

Foi Fred Hoyle quem cunhou a expressão "Big Bang". Em 1949 houve um debate na BBC entre Gamow, defendendo o átomo primordial de Lemaître, e Fred Hoyle, defendendo o Universo Estacionário. Foi quando Hoyle disse debochadamente:

- Meu adversário defende que o Universo foi criado num Big Bang (Grande Estouro).

O nome pegou, criado
, ironicamente, pelo principal adversário da teoria.

Mais detalhes do Big Bang


George Gamow, infância na Rússia

Pela teoria do Big Bang, tudo começou pela explosão de um ponto extremamente denso e quente, o que fez surgir um Universo em expansão. O físico russo George Gamow e seus assistentes Ralph Alpher e Robert Herman defenderam que a explosão primordial encheu o Universo com uma radiação muito quente (trilhões de graus Celsius, no iniciozinho da expansão do Universo), que acompanha o Universo eternidade adentro. Se fosse possível detectar de algum modo a radiação cósmica de fundo, prevista por Gamow, o Big Bang sairia vitorioso no embate com a teoria do Universo Estacionário.

- Não se vislumbrava, porém, uma maneira de fazer a captura da radiação.


Robert Alpher

Outra contribuição importante à teoria do Big Bang ocorreu na década de 1940, quando o próprio Gamow, Alpher e Hermann conseguiram explicar, no âmbito de uma teoria chamada de nucleossíntese do Big Bang, por que o Universo é composto de 91 % de átomos de hidrogênio e 9 % de átomos de hélio (em massa, 75% de hidrogênio e 25% de hélio), sendo os outro elementos residuais.
Também em apoio do Big Bang, veio depois a Teoria do Universo Inflacionário, de Alan Guth, postulando que, no instante mais inicial do Universo, logo na explosão, uma misteriosa força de antigravidade fez o Universo se expandir de maneira inimaginável, numa velocidade muitas vezes maior do que a da luz.

- Se o Universo visível fosse do tamanho de um átomo, o Universo total seria maior do que o Universo visível.


Ponto fraco da teoria do Big Bang

A Teoria do Big Ban baqueava perante seu ponto fraco: a idade do Universo. A velocidade de afastamento das galáxias fora estabelecida por Hubble em cerca de 171 quilômetros por segundo para cada milhão de anos-luz (558 quilômetros por segundo para cada megaparsec). Aplicando esse valor em direção ao passado, chegava-se, pelos cálculos, à conclusão de que o Universo teria começado sua existência e expansão há cerca de 1,8 bilhão de anos. Uma contradição com a assertiva dos geólogos de que a Terra tem 4,5 bilhões anos e, sobretudo, um argumento decisivo para os que defendiam um Universo eterno e imutável.

- Como pode a Terra ser mais velha que o Universo?

A próxima postagem sobre a Imagem do Universo mostrará como essa polêmica foi resolvida.

sábado, 4 de julho de 2009

A IMAGEM DO UNIVERSO (32/n)

OPOSIÇÃO AO BIG BANG

Em janeiro de 1933, Lemaître apresentou sua teoria do Big Bang a uma plateia de cientistas, nas dependências do Monte Wilson, em Pasadena, na Califórnia. Entre os assistentes estavam Einstein e Edwin Hubble, a saber, o cientista cujas equações previam a expansão do Universo e o astrônomono que comprovou essa expansão com observar o afastamento das galáxias.
Foi então que Einstein, antes defensor do Universo estático, reconheceu sua derrota definitivamente e fez uma homenagem a Lemaître:

- Sua teoria é explicação mais bela que jamais ouvi para a criação.

Um tributo de quem criou as equações da Relatividade a quem soube usá-las melhor que ele, na Cosmologia.

Lemaître e Einstein

Resultado de um exercício de imaginação, a teoria do Big Bang de fato se compatibilizava perfeitamente com a contínua expansão do Universo, apesar de parecer mirabolante e de carecer de provas, o que, sem dúvida, tende a empurrar qualquer teoria científica para o terreno da ficção.
Havia, a favor, a teoria da nucleossíntese do Big Bang. Mas, opondo-se veementemente, uma prova negativa: a constante de Hubble, que exprime a velocidade de afastamento das galáxias, fora estabelecida em cerca de 171 quilômetros por segundo para cada milhão de anos-luz (558 quilômetros por segundo para cada megaparsec). Aplicando-a em direção ao passado, no processo imaginado por Lemaître, chegava-se, pelos cálculos, à conclusão de que, pela teoria do Big Bang, o Universo teria a idade de 1,8 bilhão de anos. Uma contradição com a assertiva dos geólogos de que a Terra tem 4,5 bilhões anos e, sobretudo, com os que defendiam um Universo eterno e imutável.

- Como pode a Terra, que é fiha, ser mais velha que a mãe?, gracejou Christopher Impey, da Universidade do Arizona.

Outro crítico da teoria do Big Bang foi Arthur Eddington, o mais importante astrônomo britânico do século XX:

- Como cientista, não acredito que o Universo tenha começado com uma explosão... isso me deixa desapontado.


Arthur Eddington

Relatividade cinemática e luz cansada

Era natural, portanto, que a teoria do Big Bang fosse contestada e que teorias alternativas surgissem, tentando tomar o seu lugar. Foi o caso da teoria da "relatividade cinemática", do astrofísico britânico Arthur Milne, defendendo que as galáxias mais afastadas naturalmente tinham de ser as mais rápidas e só por isso estavam mais longe, um resultado natural, dispensando qualquer explosão. Outra explicação foi dada pelo físico búlgaro Fritz Zwicky, com sua teoria da "luz cansada", pela qual as galáxias não se moviam. Se havia desvios para o vermelho, é porque a luz ao percorrer grandes distâncias enfrentava a gravidade galática e perdia energia, o que obrigava a esses desvios para o vermelho.

Fritz Zwicky

Eram, porém, teorias inconsistentes e não prosperaram.

Universo Estacionário

Das teorias que se opuseram ao Big Bang, a que conquistou maior número de seguidores foi a teoria do Universo Estacionário, criada pelo chamado "Trio de Cambridge", integrado pelos cientistas Fred Hoyle, Thomas Gold e Hermann Bondi. Os três costumavam se reunir na casa de Bondi para discutir o modelo do Big Bang, quando todos já admitiam que o modelo do Universo eterno e estático não poderia mais prevalecer, depois de constatado que as galáxias se afastam umas das outras com velocidades impressionantes.

Hermann Bondi

Thomas Gold

Chegaram os três à conclusão de que a teoria do Big Bang não era aceitável porque implicava um Universo mais jovem do que as estrelas que nele existem, além do que não solucionava a importante questão de dizer o que existia antes dele.
Foi então que Gold propôs e desenvolveu com os parceiros uma teoria substituta do Big Bang que combinava Universo eterno com Universo em expansão, esta se justificando pela criação, pelo Universo, de matéria adicional para preencher os espaços vazios que cresciam entre as galáxias em fuga.

Fred Hoyle

-
O Universo está sempre se expandindo, mas sua densidade permanece a mesma porque matéria nova vai sendo criada do nada, à razão de um átomo a cada século para cada volume igual ao do edifício Empire State. O Universo é imutável, mas evolutivo.

Para Hoyle, que se tornou o líder do "Trio de Cambridge", não havia essa hipótese de começo com Big Bang, pois, atemporal, o Universo nunca teve começo, nem terá fim.

Comentário

No livro "Big Bang" (Record, 2006), Simon Singh, referindo-se ao surgimento da Teoria do Universo Estacionário, fez o seguinte comentário:

"Agora havia uma escolha clara para os cosmólogos. Eles podiam optar por um Universo do Big Bang, com um momento de criação, uma história finita e um futuro que seria muito diferente do presente. Ou podiam escolher o Universo do Estado Estacionário, com uma criação contínua, uma história eterna e um futuro que seria, na maior parte, igual ao presente."

Essa opção, de fato, dividiu as opiniões na segunda metade do século XX. Qual seria o desfecho?

quarta-feira, 1 de julho de 2009

INTELIGÊNCIA, TEU NOME É MULHER (1/2)

AS DOAÇÕES RECUSADAS

Todo o tempo Cecília esteve sob minha proteção econômica. Eu, que percebia uma elevada remuneração na WED, representava o seu seguro, a cujas coberturas nunca precisou recorrer, pois fez nesses oito anos uma carreira vitoriosa, tanto do ponto de vista profissional como financeiro. Ela percebe as oportunidades e administra seus projetos de forma sempre competente, o que, aliás, explica amplamente por que uma arquiteta interessada em modas decidiu tomar cursos de estatística e de econometria no Department of Business da Universidade do Texas.

Cecília planeja, controla, coordena e comanda tudo, como se fosse um Ford, um Fayol, sei lá. Esforço e muito talento igual a êxito, eis uma lei que justifica muito bem os vencedores do mundo. Em pouco tempo, era natural, passou a ganhar mais do que eu.

Sempre haverei de reconhecer, com exemplos fartos, que Cecília é uma pessoa diferenciada, e ganhar dinheiro com maestria e dedicação é apenas uma das muitas manifestações da sua inteligência superior. Ela prepondera, esta palavra diz tudo, não importa se a causa é grande, influindo na conta bancária ou no destino das pessoas, ou se irrelevante, como na escolha de um guarda-chuva ou na elaboração de uma lista de convidados.
Com muito dinheiro afluindo de ambos os lados, compramos a mansão do Itanhangá e assumimos uma vida de muito conforto material, que incluía carros importados e constantes viagens à Europa. O importante, porém, é que nós nos bastávamos, pois tudo em volta parecia ser, e era, mero complemento na paisagem colorida da nossa existência.

Itanhangá

Cecília sempre terá a minha admiração. Lembro-me, claro, da madrugada inesquecível de Veneza, do colar de Ouro Preto e da vitória do Full Advantage, aquela vez no Jóquei Clube.
Ah, houve também a história dos cobertores, inesquecível... Os que não morreram tentavam salvar suas miudezas, que a correnteza ia arrastando de maneira decidida. As pessoas, se quisessem ajudar, poderiam enviar dinheiro ou levar suprimentos e agasalhos ao depósito da Rua da Constituição, lá no centro da cidade.

- Vamos ajudar essa gente, Carlinhos.



Compramos dez dúzias de cobertores, que, de carro e com algum embaraço no trânsito, levamos à Rua da Constituição. Tivemos uma recepção fria e burocrática, quase grosseira, e fomos instruídos a deixar os cobertores num pátio muito sujo, onde desordenadamente se amontoavam outros donativos. Tudo seria removido para um depósito nos fundos e distribuído aos flagelados, mas a seu tempo.
Um mês depois, superada a urgência da catástrofe, Cecília quis voltar à Rua da Constituição.

- Tenho ordens para abrir o depósito, disse ela ao vigia.

- Abrir o depósito? Ordens de quem?

- Do general Esperantino Tinoco.

Esperantino Tinoco

Lá dentro estavam os nossos cobertores, embrulhados como os deixáramos no dia da tragédia. Por ordem do general Tinoco, nós os resgatamos e os encaminhamos a uma instituição de caridade.

- Não conheço esse general Tinoco, Cecília.

- Nem seria possível conhecê-lo, simplesmente porque ele não existe. Foi a minha maneira de pressionar o vigia.

- Ótima, essa. Por que será que pediram donativos e não os enviaram para as vítimas?

- Esse o ponto. Embolsaram o dinheiro piedoso, esquecendo-se do resto, pois não tinham intenção nenhuma de ajudar ninguém; os suprimentos só entravam na história para dar
credibilidade ao apelo.

- Agora entendo; os outros donativos não lhes interessavam.

- Mas há os chatos, como nós, Carlinhos.

E, entre estes, os espertos, como Cecília.