Lembro-me de ter comparecido a um seminário sobre mecânica quântica no Instituto Santa Fé, na Califórnia. Um evento coordenado por Murray Gell-Mann, Prêmio Nobel de Física de 1969, descobridor do quark, partícula elementar que entra na composição dos prótons e nêutrons, os constituintes fundamentais dos núcleos atômicos. Assisti a todas as palestras, com real proveito. Os físicos da mecânica quântica gostam muito de discutir sobre determinismo e probabilidade, na hora de explicar os fenômenos observados:
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(a) O determinismo é a corrente defendida por Einstein, contrária à ideia dominante de que o mundo subatômico é um reinado das probabilidades. Alguns dos artigos einsteinianos destinavam-se a demonstrar, com argumentos lógicos, que a mecânica quântica, como tem sido entendida, era inconsistente e estava longe de ser uma teoria completa. Postulava Einstein que seria possível substituí-la por outra teoria, clássica e determinística, na qual houvesse um número necessário de “variáveis escondidas”, que explicasse o mundo subatômico como o percebemos, assim probabilístico.
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(b) Os físicos do seminário defendiam, todavia, a prevalência do acaso e da probabilidade e, ao fazê-lo, invocavam seguidamente uma recente confirmação experimental a que chamavam de “desigualdades de Bell”.
- Nesse assunto, Einstein não saiu vitorioso. Por enquanto, pelo menos...
Pensava-se que o átomo fosse indivisível, basta ver que este é o significado de “átomo” em grego. Descobriu-se depois que era formado de três partículas indivisíveis, elétrons, prótons e nêutrons. Sabe-se agora, pelos trabalhos do novaiorquino Gell-Mann, que prótons e nêutrons não são indivisíveis, mas formados por três quarks. Ele, um dos homens mais cultos da atualidade, explicou como surgiu a ideia de atribuir o nome “quark” à partícula que entra na composição do próton e do nêutron.
- Naquela ocasião, 1963, li no Finnegans Wake, de James Joyce, a frase “Three quarks for Muster Mark”, dirigida a um dono de bar. A palavra “quark” significa “pio da gaivota”, mas, no contexto de Joyce, pode-se admitir que tenha sido usada com o sentido de “quart”, uma medida de capacidade para líquidos, em cujo caso a frase tem o significado de “Três quartas para Mestre Mark”. Tive então a ideia de chamar a partícula descoberta por mim de “quark”, uma vez que tanto o próton quanto o nêutron são sempre formados por três quarks.
- Interessante...
- Então, nas minhas aulas posso dizer que a receita para fazer um próton ou um nêutron é “três quarks para Mestre Próton” ou “três quarks para Mestre Nêutron”.
Eis o elo entre James Joyce e a física. Ou seja, mecânica quântica também é cultura...
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