sábado, 10 de abril de 2010

ÓPERAS

TÂNTALO E LA BOHÈME

Meu prestígio aumentou, na companhia, quando descobrimos tântalo, um metal de elevado ponto de fusão, que se usa na fabricação de capacitores eletrolíticos, instrumentos cirúrgicos e circuitos elétricos miniaturizados. Tântalo abundante, numa região do Amazonas, que a diretoria decidira abandonar e só foi pesquisada por causa da minha insistência e obstinação.

Capacitor de tântalo

Recebi uma recompensa, boa para os meus padrões, que usei para fazer uma surpresa para Sílvia, que é
a estrela lá de casa. Conheci-a no Teatro Colón, em Buenos Aires, quando por acaso decidi ver Simon Bocanegra, de Verdi, aliás, a primeira ópera a que assisti. Só depois de casado fiquei sabendo que tinha sido a melhor aluna da universidade, cujos professores souberam premiar seu desempenho com troféus e diplomas variados. Não é por outra razão que faz tanto sucesso nas suas múltiplas atividades profissionais, que exigem cultura e elevado preparo intelectual. Um êxito que me estimula e, exatamente por isso, todo o meu lazer é voltado para a cultura. Tenho de ler muito, e diariamente, para ficar à altura dela. Pois entendo que seria um decidido paradoxo se me orgulhasse dela e, em contrapartida, ela tivesse vergonha de mim. Foi por isso que li, nesses cinco anos, algumas dezenas de livros. Tomei gosto, é verdade. Mas é de ópera que me tornei aficionado maior, sempre incentivado por ela. Gosto de ver a conjugação de música, poesia e às vezes dança, em espetáculos de tanta beleza e encantamento.

George Bernard Shaw

Certa vez Bertram me visitou no exato momento em que assistíamos à Traviata.

- Para Bernard Shaw, comentou com ironia, a ópera pode ser definida como uma tragédia musicada, em que invariavelmente um jovem tenor e uma bela soprano se amam desesperadamente, mas são obstados por um barítono feio e malvado.

- E você, o que acha?

- Acho que o irlandês acertou na mosca, pois é o que acontece na Tosca, Otelo, Baile de Máscara, Trovador, Cavalleria Rusticana, e por aí vai...


Nada respondi, por economia de palavras, e até reconheço que os pensamentos de Bernard Shaw são inteligentes e espirituosos. Mas sei que não é necessariamente assim, pois há óperas que passam ao largo da tragédia, como Fallstaff, Cenerentola, Elixir do Amor, Filha do Regimento, Barbeiro de Sevilha, Fidélio, Bodas de Fígaro, Così Fan Tutte, Flauta Mágica, Eugene Onegin, Cavaleiro da Rosa, Príncipe Igor e dezenas de outras.


Ramon Vargas e Angela Gheorghiu

Recebi a recompensa, aquela do tântalo, no exato dia em que Sílvia me comunicou que iria tirar duas semanas para descansar, afastando-se do trabalho. Decidi fazer o mesmo. Providenciei em segredo a aquisição de duas passagens para Nova York e a de dois ingressos para assistir à opera La Bohème, de Puccini, no Metropolitan, com Angela Gheorghiu, Ainhoa Arteta, Ramon Vargas, Ludovic Tezier e Quinn Kelsey. Ela adorou a surpresa. Nossa alegria foi dupla, pois completamos cinco anos de casados exatamente no dia em que fomos ao Metropolitan. Houve, pois, um Simon Bocanegra no dia em que nos conhecemos e uma La Bohème, de pura celebração, cinco anos depois.

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