A flecha que voa, mas não voa
Tales, Anaximandro, Anaxímedes, Heráclito, Pitágoras, Filolau, Empédocles e Demócrito são considerados tanto cientistas quanto filósofos, caracterizando uma época em que a Física se identificava com a Filosofia, tanto que por muito tempo foi chamada de Filosofia Natural.Zenão de Eléia


Parmênides, que escreveu um poema filosófico,“Sobre a Natureza”, preocupava-se em provar a superioridade racional do mundo e em negar a veracidade das percepções sensoriais, opondo-se ao dualismo pitagórico (ser e não-ser, cheio e vazio, claro e escuro... ) e à fluidez defendida por Heráclito.
O poema, na primeira parte, trata da verdade, e, na segunda parte, da opinião:
"Verdade é a convicção baseada em argumentações racionais, ainda que estas pareçam estar em desacordo com a percepção dos nossos sentidos; opinião é a crença em dados percebidos pelos nossos sentidos, mesmo que nos pareçam certos e evidentes."
Aforismos de Parmênides“O que é, é; o que não é, não é.”
“O não-ser não é jamais pensável.”
ou
“É impossível pensar o nada; logo, a escuridão e o silêncio não existem.”
Movimento
Zenão especializou-se em defender os pensamentos de Parmênides, basicamente negar o que dizem os nossos sentidos. Não existe o movimento, entendido como a passagem de um corpo da situação de “estar em um lugar” para a de “não-estar-mais naquele lugar”, assim como não existem o tempo, a velocidade e o espaço.
Respondia aos críticos com argumentos que mostravam as contradições do pensamento objetivo, mediante aporias (becos sem saída) e paradoxos. A seguir, dois argumentos de Zenão contra o movimento:
(1) Suponhamos que um móvel, saindo do ponto A, se destine a atingir o ponto B. Tarefa impossível! Pois, antes de atingir B, o móvel deve atingir a metade da distância entre A e B, o ponto C; antes de atingir C, o móvel deve atingir a metade do caminho entre A e C; e assim sucessivamente, até o infinito. Ou seja, o móvel não pode cumprir o depois, que é chegar ao ponto B, porque tem infinitas tarefas a cumprir. Infinitas!
(2) Um objeto está em repouso quando ocupa um espaço igual às suas dimensões. Logo, uma flecha que voa está em repouso, porque, no vôo, a flecha ocupa em qualquer instante um espaço igual às suas dimensões.
Os paradoxos de Zenão foram considerados extremamente sutis por Bertrand Russell (um especialista, criador do famoso "paradoxo de Russell"), e alguns filósofos chegaram a afirmar que não podem ser resolvidos. Paul Valery (1871-1945), um poeta que tinha interesse em música, matemática e filosofia, também se encantou com os jogos intelectuais de Zenão. No seu celebrado poema “Le cimetière marin”, Valery invoca o paradoxo da flecha em admiráveis versos decassílabos:
Zénon! Cruel Zénon! Zénon d'Êlée!
M'as-tu percé de cette flèche ailée
Qui vibre, vole, et qui ne vole pas!
Le son m'emporte et la flèche me tue!

Tu me feriste com esta flecha alada,
Que vibra, voa e todavia não voa.
O som me azucrina, e a flecha me mata!)
Absurdo
- Seu paradoxo não tem correspondência na realidade, disse um vizinho a Zenão. Todos sabemos que a flecha disparada sempre sai de um ponto e alcança outro, ou seja, há algo errado no seu raciocínio.
- Não basta apontar o absurdo, temos de explicá-lo. É o que faço nas minhas aporias, demonstrando que a pluralidade não existe e a mudança é impossível.
2 comentários:
Olá Remo, sempre dou uma lida em seu blog.Gosto muito de Filosofia,de Ciência,etc.,etc.Acho interessante a abordagem que vc faz,intermediando com literatura, curiosidades, humor. Comecei a ler "Hermotimo", de Luciano.Você já deve conhecê-lo, nã é? Agora quando tiver dúvidas fiosóficas já sei a quem recorrer! Abraços
Obrigado, Cirandeira. Seja sempre bem-vinda. Abraços.
Postar um comentário