MITRIDATISMO
A ópera “Mitridate, Rei do Ponto” desenvolve-se mediante uma sucessão de árias no mais puro estilo de Mozart, que a compôs durante um passeio pela Itália, quando tinha apenas quatorze anos. O libreto, em italiano, é de Vittorio Amadeo Cigna-Santi, que tomou por base um romance de Racine.
A ópera estreou em 1770, no Teatro Regio Ducal, de Milão, e na ocasião foi exibida 21 vezes. Enquanto Mitridate, o rei, luta lá fora contra os romanos, em casa, seus filhos, Sifare e Farnace, fazem a corte a Aspásia. Cuja é, nada mais, nada menos, que a noiva de Mitridate. Isso mesmo, Mitridate e seus dois filhos estão apaixonados pela mesma mulher. Mitridate, ao regressar, descobre o imbróglio familiar e decide matar a noiva e os filhos, o que não se concretiza porque tem de voltar à guerra. Segue-se que o rei é mortalmente ferido em combate, de modo que Sifare fica com Aspásia, e Farnace, com Ismênia, filha do rei de Pártia.
- Todos se reconciliam perante o rei moribundo.
- Mozart tinha apenas quatorze anos? Eu não era capaz de nada quando tinha essa idade...
- Não soltava pipa, nem jogava pião?
- Jogava futebol, muito mal, tanto que ia sempre para o gol.
- Farnace é um papel para “alto castrato".
- Pensei que esse negócio de cantor castrado era coisa do passado...
- Você tem razão. Desde o início do século XX, não há mais cantores castrados. O papel a eles correspondente é hoje confiado a um contratenor, cantor masculino, adulto, que canta, em falsete, numa tessitura correspondente à do soprano, como o alemão Jochen Kowalski, a que acabamos de assistir. No passado, porém, eram cantores castrados, mesmo, como Farinelli, o maior cantor de ópera do século XVIII, com sua voz de soprano ligeiro.
- Melisande...
- Sim?
- Muito interessante, tudo isso. E surpreendente... Para mim esse negócio de "rei do ponto" sempre foi um epíteto para bicheiros.
- Com certeza. Mas o Ponto a que se refere a ópera é uma região da Anatólia, que se destacou pelas guerras contra os romanos. Mitridate temia morrer envenenado e se acostumou a ingerir doses não letais dos venenos mais conhecidos, que aumentava gradativamente até que fosse capaz de tolerar até mesmo uma quantidade mortal. A isso se chama de "mitridatismo".
-Eu, hein!
sábado, 4 de junho de 2011
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