quarta-feira, 22 de junho de 2011

EPÍLOGO

AS DUAS FACES DE JANO

Estas notas ficariam incompletas se não mencionasse que a Western Exploration and Development, a WED, descobriu recentemente a prevaricação da turma de Sean Forthwhite e me enviou uma carta com um pedido de desculpas e uma proposta para que reassumisse o emprego, que recusei, depois de agradecer.
Ah, enviaram-me também um cheque de 261 mil reais, a quantia correspondente ao bônus de participação que eu lhes havia devolvido, acrescido agora de juros remuneratórios. Meu peito se aqueceu, pois me senti reabilitado, como se tivesse triunfado sobre aquela gente poderosa, que pode muito, mas não pode tudo.

A vida nos propõe um lado afetivo e outro profissional, sendo certo que um se resolve ajudando a resolver o outro, só que as decisões fundamentais começam a ser tomadas quando não temos a necessária maturidade, nem experiência. Ou seja, em regime de incerteza, pois a ninguém é dado aguardar a madureza para escolher sua profissão ou posicionar-se afetivamente.

- Disso decorre que algumas pessoas são bem sucedidas, outras nem tanto, o que introduz a necessidade de considerar uma variável adicional: a sorte.

Sorte foi o que não me faltou. Tive poucas experiências profissionais, mas acredito que me posicionei adequadamente, dedicando-me à atividade que mais se ajustou à minha personalidade, respeitando minhas deficiências e qualidades. No lado afetivo fui mais abundante de peripécias, com a ventura de ter conhecido mulheres maravilhosas, para as quais fui mero coadjuvante e das quais sempre serei inarredável admirador. Não seria o mesmo, nem seria tão feliz, se não as tivesse conhecido, a todas. O melhor é que, a seu tempo, em cada caso tudo se ajustou perfeitamente e, por ter me relacionado antes com elas, as quatro mulheres admiráveis, Cecília, May, Laura e Marisa, pude valorizar ainda mais a querida Melisande, que o destino mirabolante reservou para mim.


O deus Jano, aquele deus romano mencionado pela Hoyle, por seus dois rostos contrapostos pode contemplar lados contrários: passado e futuro, saídas e entradas, direita e esquerda, acima e abaixo, o bem e o mal. Há de saber se houve alguma omissão, ou defeito grave, no relato que acabo de construir sobre meu passado, sendo certo que eventuais imperfeições fariam pouca diferença no resultado final, cujo se reflete na serenidade com que rememoro o que acabo de relatar.

- Afinal, conforme li em Aristóteles, nem Deus consegue modificar o passado.

E o futuro, que pode Jano dizer do meu futuro? Pedro Nava considerava o futuro apenas como uma hipótese, uma mera e incontida expectativa da nossa experiência. O memorialista de Juiz de Fora deve estar com a razão, mas, na inexorável progressão, esse “futuro-hipótese” sempre nos chega, às vezes depressa, às vezes devagarinho, encompridando cada vez mais as nossas memórias. E enriquecendo-as. Hei de receber o que me tocar com tranquilidade, na esperança de que na hora dos desafios me sobrem paixão, para decidir, e serenidade, para reconhecer meus erros com tranquilidade.

- Paixão e serenidade, mais que isso não devo pedir.

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