sábado, 18 de junho de 2011

ENFIM, A VERDADEIRA BORBOLETA

O KURTIS, ORA O KURTIS!

Outro dia, Estênio Florão, conversando comigo sobre amenidades, pôs-se a elogiar o Kurtis, para ele uma pessoa de qualidades excepcionais. Àquela altura até eu tinha simpatia pelo cujo, que me legara suas cadeiras na economia.

- Quando deixou a universidade, o Kurtis mudou-se para a Inglaterra, levando consigo uma sobrinha.

- Uma egiptóloga?

- Acho que sim.

- Sobrinha? Era casado com ela?

- Não, claro que não. Casou-se com uma empresária, mas não cheguei a conhecê-la. A sobrinha, que também não conheci, aproveitou a mudança do tio para fazer um PhD em Cambridge. É tudo que sei.



Ora essa! May era sobrinha do Kurtis, não sua amante, e fora a Londres para estudar! Fazia mais sentido... Fosse o que fosse, isso já não tinha importância, pois havia muito May deixara de existir para mim, vulto, apenas vulto, perambulando esmaecidamente nas entranhas de um passado remoto e amarelado.

- O curioso é que duas ex-namoradas minhas estavam ambas na mesma universidade, em Londres.

Trafalgar Square

Pois tudo se confirmou, numa carta que recebi de Laura na semana passada. Isso mesmo, a Laura lembrou-se de mim! Parabenizava-me pelos meus cincos anos com Melisande e comunicava seu casamento com um professor de Cambridge, mas o que queria contar mesmo era que conhecera em Londres duas dezenas de brasileiros, muitos dos quais se reúnem uma vez por semana em algum bar da Trafalgar Square. Numas dessas reuniões, Laura foi apresentada a May, que também se casou com um professor de Cambridge, fez-se sua amiga e por seu intermédio chegou a conhecer Kurtis e sua mulher, que têm um filho de dez anos, o Nicholas. E esta era a empresária de modas Cecília Lafayette de Castro, não menos que minha ex-mulher!

- Kurtis está casado com a Cecília, ora, pois, pois!


Quando meu nome surgiu, Laura, May e Cecília se deram conta de que tinham namorado o mesmo cidadão do Leblon, o degas aqui, Carlinhos Auvergne, o ex-engenheiro que hoje dá aulas de física e de economia.


Cena

Uma cena que me tem vindo à mente, virtual, claro, é a do Kurtis, jantando num restaurante da Oxford Street com essas três mulheres da minha vida. Faltaria incluir a Marisa, mas esta evaporou...

Eu e elas

Espero que sejam muito felizes, pois há em cada uma um pedaço de mim e, em mim, a doce recordação dos momentos felizes que me proporcionaram.


Uma nova versão

Vou reunindo os fragmentos com o objetivo de obter uma versão da minha pessoa com menos dúvidas e lacunas.

- Quero me conhecer...


Sempre achei, pois bem, que Buenos Aires tinha sido determinante na minha vida. Bingo! Cecília e Kurtis se conheceram em Buenos Aires, durante o congresso de energia, agora não tenho disso nenhuma dúvida! O Nicholas completou dez anos, tendo nascido, portanto, pouco depois que dela me separei.

- Antes da separação, ela, mudando sua posição, insinuou que gostaria de ter um filho, que, sei agora, já estava a caminho, mas fabricado pelo Kurtis.

Posso acrescentar um último ponto, num exercício de especulação.
Tenho para mim, muito para mim, que há uma conexão da Cecília com o escândalo do motel, aquele negócio de “minha cachorrinha”... Cecília deve ter achado que seria desconfortável uma situação de proximidade comigo, o que ocorreria se eu continuasse com May, sobrinha do Kurtis, e armou a confusão. Sei não...

- O efeito-borboleta foi ela, exatamente ela!


Finalmente, justiça se lhe faça, terá havido um dedo seu, e decisivo, na indicação do meu nome, pelo Kurtis, para substituí-lo no departamento de economia. Pois ela sempre prepondera, não erra, nem deixa vestígios. Por que penso assim?

- Cecília e eu temos um pacto de lealdade e generosidade, desde um proveitoso estágio em Austin, capital do Texas, mais de quinze anos atrás.

Nenhum comentário: