Foram três anos de exclusiva dedicação à física, o que também exigiu de mim o estudo da matemática avançada. Ótimo, muito ótimo, pois esta é uma ferramenta que me servirá pelo resto da vida. A física, que não tem assuntos irrelevantes, abrange desde as partículas subatômicas até o Universo incomensurável. Entender um processo elétrico, a formação de uma onda sonora, a dinâmica dos fluidos, a refração da luz, a expansão térmica, a indução eletromagnética, exprimir por meio de equações a órbita de um planeta, medir o tamanho de uma galáxia, descrever matematicamente o comportamento dos gases, saber como relacionar trabalho e energia ou calcular a velocidade de escape de um projétil, conhecer eletricidade, acústica, relatividade, termodinâmica, mecânica quântica, teoria das cordas, teoria dos campos, tudo isso é fascinante, servindo à curiosidade do homem estarrecido diante da grandiosidade do Universo.
- A tarefa dos físicos é buscar sempre um novo patamar de conhecimento, de onde empreenderá nova ascensão, até o patamar seguinte. Patamares infinitos, eis que a obra científica nunca será dada como concluída.
Deu-se mal quem assim não entendeu. Até o início do século XX, os físicos confiavam na sua capacidade de observação e dispunham de um conjunto de leis, a mecânica clássica de Newton, que, conforme se supunha, explicava perfeitamente o Universo. Mecânica, calor, eletricidade, magnetismo, ótica e acústica tinham sido objeto de estudos bem-sucedidos, gerando euforia e superestimação dos êxitos alcançados. Tanto que, em 27 de abril de 1900, o conceituado físico escocês Lorde Kelvin, muito conhecido por haver introduzido o conceito de temperatura absoluta, enviou uma carta às autoridades britânicas informando que a física já conhecia praticamente tudo o que havia de importante no Universo. Aos físicos do futuro caberia, de fato, descobrir os pormenores complementares de uma estrutura perfeitamente conhecida, não mais que isso.
- Bola na arquibancada.
Kelvin
Kelvin morreu poucos anos depois, sem perceber a extensão do seu equívoco, que se pode avaliar pelos eventos a seguir:
- Max Planck descobriu, ainda em 1900, que a energia se apresenta na forma de pacotes (os quanta);
- com sua relatividade especial, já em 1905, Einstein provou que, em termos de espaço e tempo, tudo depende do referencial considerado, o que coloca em xeque as nossas observações, e, com a relatividade geral, em 1915, reformou a teoria newtoniana, cuja lei da gravitação apenas quantifica corretamente o que Newton percebera como uma atração entre corpos materiais;
- o próprio Einstein, naquele "anus miraculous” de 1905, reconheceu a natureza dual da luz, que é, ao mesmo tempo, onda e partícula, sem saber que estava pavimentando caminho para o trânsito da mecânica quântica, a qual se rege pela indeterminação e pela complementaridade e na qual o determinismo de Aristóteles cede lugar ao acaso das probabilidades;
- Ernest Rutherford descobriu em 1911 que o átomo tem um núcleo cheio de prótons, carregados positivamente;
- Werner Heisenberg constatou em 1927 que as partículas subatômicas não podem ter momento e posição definidos simultaneamente, ferindo a reputação da nossa capacidade de observação;
- Em 1928 Niels Bohr percebeu a coexistência de duas descrições diferentes para um mesmo fenômeno físico, que David Bohm mais tarde chamou de ordem implicada e ordem explicada;
- Murray Gell -Mann em 1950 descobriu os “quarks”, que se unem para formar nêutrons, prótons e mésons;
- Richard Feynman juntou relatividade e mecânica quântica, no início da segunda metade do século XX.
- que dizer, finalmente, da nova cosmologia, que surgiu após a constatação de que o Universo nasceu de um Big Bang? Dos buracos negros, consumidores de informações? Da matéria escura e da energia escura, que ninguém nunca viu, mas juntas respondem por noventa e seis por cento do conteúdo do Universo?
Eu estudava até a exaustão, pois tinha a intenção de entender tudo isso. E, na solidão ambiciosa, refletia pretensiosamente:
- Quero ser um observador qualificado do espetáculo soberano do Universo.
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