O Kurtis, ora, o Kurtis!
De Sitter veio à minha sala, numa manhã de segunda-feira.
- Acho que tenho uma novidade boa para você. O Departamento de Economia quer que você dê aulas sobre decisões em regime de incerteza e sobre gerência de contratos, durante este semestre.
- Como? Decisões em regime de incerteza?
- E contratos empresariais, mas não se assuste. O professor Kurtis pediu demissão no ano passado, e o Departamento de Economia encontra-se numa emergência, pois não encontrou nenhum substituto no mercado.
- Kurtis? Eram cadeiras do Kurtis? Nem imagino por que fui lembrado...
- Porque tem experiência em decisões em regime de incerteza e em negociações contratuais.
- Como assim? Como me descobriram?
- Não há outros nomes além do seu, pois esse assunto é muito recente no país. O Kurtis assistiu a uma palestra que você deu em Buenos Aires e indicou-o para substituto, além do fato de sua aula de candidato ter sido considerada excepcional pelos professores da banca.
Em estado de perplexidade, não sabia como reagir, nem o que responder.
- Bem... É que...
- Você será muito bem remunerado.
- Não estava pensando nessa questão, mas na responsabilidade de que estarei investido. Embora razoável conhecedor do assunto, isto é, da parte operacional, falta-me experiência para assumir um compromisso dessa envergadura e magnitude.
- Você tem talento para a missão. Quanto à experiência, não se preocupe, pois ela virá com a prática. Faça como D´Alembert, vá em frente que a fé virá depois.
- Nesse caso...
- Suas aulas terão início dentro de duas semanas. Previno-o, porém, de que não será fácil acumular o doutorado de física com essa carga adicional de trabalho.
No Departamento de Economia, o professor-chefe Estênio Florão tornou a proposta ainda mais abrangente. Se eu fosse bem avaliado naquele primeiro semestre, poderia ser efetivado como professor titular, já no semestre seguinte.
- Sabemos da sua competência nesse assunto, pelos textos que você produziu sobre os métodos de Bailey e de Lenzi, computação contínua de juros, declínios hiperbólicos e raízes perdidas de Descartes. Que nos foram trazidos por um economista da WED, que fez um mestrado conosco. Além disso, veio a recomendação do Kurtis, e os professores da banca de física gostaram da sua aula. Decidimos apostar em você...
- Está claro que não terei de abandonar o curso de física...
- Claríssimo.
Voltei a casa ainda perplexo, consultando-me dos pés à cabeça para ter certeza de que não estava sonhando. Dar aulas remuneradas na Economia e desenvolver minhas idéias sobre incorporação de financiamentos, avaliação dos projetos de investimento com base no perfil de lucro e orientação das decisões tomadas em regime de incerteza. Ah, a estratégia da competência negocial... Sem abandonar a física, isso mesmo, sem abandonar a física. Era encarar a nova situação com naturalidade, pois, inesperada embora, não passava de uma etapa, facilitadora, do caminho que escolhera para mim.
quarta-feira, 13 de abril de 2011
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