Em 1877 o Observatório Astronômico de Harvard, dirigido por Edward Charles Pickering, iniciou um ambicioso programa de fotografia celeste. Decepcionado com a falta de concentração e incapacidade dos homens para dar atenção aos detalhes, Pickering acabou por convocar para auxiliá-lo, nessa empreitada, uma numerosa equipe de mulheres, que, para ele, eram mais responsáveis, precisas e meticulosas.
Lideradas por Williamina Fleming, as mulheres engajadas nesse projeto formaram o que ficou conhecido como o "Harém de Pickering", encarregando-se de examinar as fotos colhidas pelos telescópios e fazer os cálculos relacionados com os dados observados. As mulheres corresponderam plenamente à expectativa de Pickering. Duas delas, em particular, extrapolaram suas atribuições de simples computadoras de dados de estrelas e passaram a ocupar lugar de destaque na história da Astronomia: Annie Jump Cannon e Henrietta Leavitt.
Annie Jump Cannon (1863 - 1941)
Annie Jump Cannon, antes uma professora de Física, ingressou no Harém de Pickering em 1896, onde passou a catalogar cerca de 5 mil estrelas por mês, separando-as por cor, brilho e localização. Ela compensava sua surdez quase total com um extraordinário aumento do sentido da visão. De fato, seu “olho” para estrelas não foi jamais igualado e lhe permitiu examinar cerca de 400.000 estrelas, num trabalho absolutamente individual.
É dela a divisão das estrelas, por massa e luminosidade, em sete classes espectrais - O, B, A, F, G, K e M - uma sequência que gerações de estudantes americanos desde muitos anos memorizam mediante utilização de uma célebre frase mnemônica:
- “Oh, Be A Fine Girl - Kiss Me!”.
Isso equivale a qualquer coisa como “Ó, Seja Uma Garota Bacana - Beije-Me!”.
Annie foi uma campeoníssima no quesito “primeira mulher”, pois foi a primeira mulher a receber um doutorado honorário da Universidade de Oxford, a primeira mulher a receber um título de membro da Sociedade Astronômica Americana e a primeira mulher a receber a Medalha de Ouro Draper, da Academia Americana de Ciências.
Henrietta Leavitt (1868 - 1921)
A exemplo de Annie Jump Cannon, Henrietta Leavitt era totalmente surda, o que lhe dificultava disputar oportunidades no mercado de trabalho. Em 1895 ela se ofereceu para trabalhar, sem nenhuma remuneração, no Observatório Astronômico de Harvard, onde executou tarefas simples até 1902, quando foi admitida como assessora permanente, com o salário de 30 centavos de dólar por hora.
Henrietta Leavitt interessou-se por estrelas variáveis, que são estrelas que aumentam e diminuem de brilho regularmente, como a estrela de Algol, na Constelação de Perseu, por isso mesmo chamada, às vezes, de Demônio Piscante.
Henrietta descobriu mais de 2.400 estrelas variáveis, cerca de metade do total então conhecido. Entre as estrelas variáveis, estão as Cefeidas, que variam entre brilho máximo e brilho mínimo em um intervalo de tempo constante; depois de muito pesquisar, ela fez uma descoberta revolucionária, correlacionando o brilho de uma Cefeida com o logaritmo do tempo em dias entre o brilho aparente máximo e o brilho aparente mínimo da Cefeida considerada.
Bastava determinar o período que decorre entre brilho máximo e brilho mínimo, por inspeção visual, para ter o brilho real de uma Cefeida mediante a utilização da correlação obtida por Henrietta, em contraposição ao seu brilho aparente percebido desde a Terra.
Essa descoberta permitiu aos astrônomos, a partir da década de 1920, calcular a exata distância que nos separa de qualquer estrela Cefeida e, em consequência, descobrir que nossa galáxia não era única do Universo, mas apenas uma no meio de cem bilhões de galáxias, sendo certo que há Cefeidas em todas as galáxias.
As denominações do Asteroide ""5383 Leavitt" e da Cratera Lunar "Leavitt" foram dadas em sua homenagem.
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