domingo, 1 de fevereiro de 2009

A IMAGEM DO UNIVERSO (12/n)

Alexandria

A partir do século terceiro antes de Cristo, a ciência helênica iria deslocar-se de Atenas para Alexandria, onde viveram cientistas importantes na história da imagem que o homem faz do Universo, como Aristarco de Samos, Eratóstenes, Hiparco de Nicéia e Ptolomeu.
Vale mencionar essa história, que começou com a dominação do Egito pelos macedônios no século quarto antes de Cristo, quando Alexandre, então com 21 anos, expulsou os persas que havia dez anos dominava
m o país e coroou-se rei do Egito, na milenar cidade de Mênfis.
Ao visitar logo depois uma vila de pescadores chamada Racótis, na costa do Mediterrâneo, Alexandre examinou seus mananciais de água doce e sua proximidade com o rio Nilo e decidiu construir ali um porto de mar profundo, para servir às atividades tanto de sua armada quanto de sua frota mercante, que fosse parte de uma metrópole que deveria se constituir numa nova e resplandescente capital do Egito.

Alexandre

Era a sua Alexandria.
Lançada a pedra fundamental da cidade em 7 de abril de 331 a. C., Alexandre confiou o seu projeto ao grande arquiteto grego Deinócrates e retomou suas aventuras pelo mundo, falecendo, repentinamente, em 323 a. C.
Seus amigos macedônios e gregos dividiram entre si o mundo que ele conquistara.
O corpo de Alexandre foi resgatado e sepultado em Alexandria, numa luxuosa tumba que recebeu o nome de Soma, por seu sucessor Ptolomeu I Sóter, um macedônio que se coroou rei do Egito em 306 a. C., inaugurando a dinastia dos Ptolomeus. Que se estenderia até 30 a. C., quando Cleópatra, a última dos Ptolomeus, foi derrotada por Otávio, na batalha de Actio, e o Egito passou ao domínio romano.


A Biblioteca


Biblioteca de Alexandria

Ptolomeu I decidiu atrair para Alexandria os intelectuais do mundo grego e aceitou de um destes, Demétrio Falereu, a sugestão de erigir na cidade um centro de cultura semelhante aos que existiam em Atenas, Pérgamo e Cirene e criou um museu e uma biblioteca, que tiveram decisiva importância no progresso da ciência e na preservação do pensamento grego e romano.
Ptolomeu I de pronto adquiriu 500 mil pergaminhos para a nova biblioteca, que se situava no bairro real, próxima do museu, ao lado do qual surgiu uma das primeiras universidades do mundo.

Emissários foram enviados aos centros acadêmicos do Mediterrâneo e do Oriente Médio para comprar, copiar, pedir emprestado ou, se necessário, furtar as obras dos cientistas e literatos. Bibliotecas inteiras foram adquiridas, incluindo boa parte dos livros que pertenceram a Aristóteles; estrangeiros eram revistados e tinham seus livros confiscados, recebendo-os de volta depois de copiados para a biblioteca, de cujo acervo constaram os manuscritos originais de Ésquilo, Eurípedes e Sófocles.
Nela ficaram guardados os rolos de papiro da literatura grega, egpícia, assíria e babilônica.

Os dois primeiros sucessores de Ptolomeu Sóter, a saber, Ptolomeu II Filadelfo e Ptolomeu III Evergeta, ampliaram os investimentos na biblioteca, que chegou a possuir cerca de 700 mil volumes, segundo Aulo Gélio, um gramático latino do século II.

Moradores Ilustres

Euclides

Os sábios emigravam de toda parte para Alexandria, atraídos pela reputação da universidade, mas principalmente para consultar os milhares de livros que a biblioteca colocava à sua disposição. Entre eles, Euclides, natural de Racótis, que, tendo estudado em Atenas com um discípulo de Platão, fundou em Alexandria uma escola de matemática. Por volta de 300 a. C., Euclides escreveu "Os Elementos", o livro-texto mais bem-sucedido da história da humanidade e maior best seller mundial depois da Bíblia, desenvolvendo, pelo método dedutivo e uma criteriosa seleção de postulados, a sua impecável geometria euclidiana. Esse método vitorioso, o de desenvolver teorias a partir de postulados, vem sendo adotado desde então por físicos, como Newton, matemáticos, como Bertrand Russell e Alfred North Whitehead, ou filósofos, como Espinosa.
Outro cientista importante que se transferiu para Alexandria foi Hierófilo de Calcedônia, que revolucionou a medicina com sua técnica de exames post mortem, o primeiro médico que dissecou o olho, seguiu os seios nasais até o torcular herophilie, assim chamado em sua homenagem, e provou que o cérebro era o centro do sistema nervoso, e não o coração, como supusera Aristóteles. Não sem razão, com Hierófilo, Alexandria transformou-se durante séculos num centro mundial de excelência médica.

A lista de moradores ilustres de Alexandria inclui Eratóstenes (276-194 a.C.), que criou um crivo para descobrir números primos, estabeleceu os alicerces da geografia científica e fez medições da circunferência terrestre com extraordinária precisão; Eratóstenes foi o bibliotecário-chefe de Alexandria durante mais de 40 anos, um cargo muito cobiçado pelos intelectuais do mundo antigo.

Plutarco

Vale também mencionar Arquimedes (287 a.C. - 212 a.C.) , o siciliano de Siracusa que foi considerado o maior engenheiro da Antiguidade, famoso por ter corrido pelado pelas ruas de Siracusa, a gritar “eureka!” (“achei!”), depois de descobrir o princípio da física que leva o seu nome: "todo corpo mergulhado num fluido fica inapelavelmente sujeito a um empuxo vertical, de baixo para cima, igual ao peso do fluido deslocado". Dele são também alguns estudos fundamentais da hidrostática, as invenções de dispositivos para levantar pesos, máquinas bélicas, o parafuso d´água, além de estudos sobre a alavanca e o estabelecimento de relações geométricas diversas.
Em Alexandria também viveram Diophante, o pai da álgebra; os poetas Teócrito, Zenódoto e Calímaco; o cientista Aristarco de Samos, que formulou a teoria heliocêntrica do nosso sistema planetário dezoito séculos antes de Copérnico; Apolônio de Perga, o geômetra que estudou as cônicas e criou os termos “elipse”, “parábola” e “hipérbole”; Aristófanes de Bizâncio, o gramático grego que revisou Homero, Píndaro, Hesíodo e outros grandes dramaturgos gregos; Hiparco de Nicéia, que inventou a trigonometria, calculou a duração do ano solar, descobriu a precessão dos equinócios e catalogou 850 estrelas, listando-as por magnitude, longitude e latitude; Cláudio Ptolomeu (que não tinha nenhum parentesco com os Ptolomeus que governavam o Egito), o operador matemático da teoria geocêntrica do nosso sistema planetário, que, equivocada embora, prevaleceu durante 14 séculos; Galeno, o maior médico da Antiguidade, depois de Hipócrates; Plutarco, autor de Vidas Paralelas, a obra que mais influenciou a moderna literatura, até mesmo Shakespeare, e serviu de inspiração para os grandes líderes da Revolução Francesa; Plotino, o expoente do neo-platonismo.

Hipácia, beleza e sabedoria

É justo e pertinente encerrar essa relação de moradores ilustres com Hipácia de Alexandria (370-415 d.C), matemática e filósofa, filha de Theon, que foi cruelmente arrastada pelas ruas da cidade, até a morte, e teve o corpo queimado, por fanáticos religiosos que não aceitavam a independência intelectual da mulher.

3 comentários:

Anônimo disse...

O trabalho dos homens na Biblioteca de Alexandria foi evidênciado muito bem pelo autor, mas querendo delegar às mulheres astrônomas o direito de evidenciar seus esforços para ajudar a evolução da Humanidade passo afazê-lo com orgulho.
Foi criada em 16 de Outubro de 2002 pelo presidente da República Arábica do Egito sob a inspiração a antiga Biblioteca de Alexandria, a nova Biblioteca de Alexandria que pretende simbolizar a disseminação do conhecimento entre os diferentes povos e nações do mundo, sendo um centro educacional científico e cultural, associada a Unesco.
Hipácia de Alexandria presidia a escola neo-platônica e com isso atraiu a inimizade de grupos fanáticos religiosos, morrendo martirizada.(370-415 a.c.)
A egípcia Aganike(1878a.c.) ficou conhecida pelos seus talentos como filósofa e astrônoma durante o reinado de seu pai Sésostus(século XIX (a.c.).
Todavia, foi depois da grega Aglaonike ou Aglaonice de Thessalia(seculo V a.c.)que explicou os eclipses da lua que a situação das mulheres astrônomas começou a ser discutida pela sociedade.
Hildegarda de Bingem(1098-1179) astrônoma alemã, foi associada às bruxas e muitas foram condenadas e queimadas vivas nas fogueiras.
Esta oposição à atividade feminina se prolongou até o Renascimento.
À partir de 1600 as mulheres começaram a aparecer nos anais da astronomia pela habilidade manual, dedicação, paciência e persistência que as salveram do ostracismo.
Destacaram também:
Sophie Brahe astrônoma dinamarquesa.
Silesiana Maria Curritz(1604-1664)
A Polonesa Elizabeth Hevelius(1646-1693)
A alemã Maria Margareth Kirch(1670-1730)
Caroline Herschel(1750-1848)e foi a primeira mulher a receber uma remuneração pelos seus trabalhos.
Mary Fairfax Grieg Somerville(1780-1872).
Entre as mais famosas dentre elas encontravam-se Williamina Fleming(1857-1911)Antonia Maury(1866-1952) e Annie Cannon(1863-1941) astrônomas resposáveis pelos novos sistemas de classifição das estrelas utilizados até hoje.
Na America Latina, existe cerca de 30 a 40% de mulheres na astronomia.
No Brasil a primeira astrônoma profissional foi Ieda Veiga Ferraz Pereira em 1925.
Com a criação dos cursos de astronomia na Universidade do Brasil, o numero de astrônomas cresceu de maneira notável.
Hoje muitas mulheres se dedicam às carreiras científicas, mas foram necessários muitos anos de lutas nessa direção.
No entanto, ainda permanecem muitos preconceitos que precisam ser combatidos e eliminados.

Anônimo disse...

Desculpe-me, no primeiro comentário há três palavras erradas:
(a fazê-lo) com orgulho
que as (salvaram) do ostracismo.
astrônomas (responsáveis.)

cirandeira disse...

São tantas informações preciosas, que sinto-me assim bem pequeninha, menor que um grão de areia!O Universo por si só já é uma imensidão fabulosa, super complexo.Com o aparecimento do Homem, fomos aos poucos desvendando os seus "mistérios".Olhando para trás,retroagindo através da História é que podemos verificar o quanto tem sido longa a caminhada, que, suponho eu,é infinita.Como dizia Einstein, ainda estamos engatinhando, principalmente porque o saber,o conhecimento pressupõe Poder! Ao nos debruçarmos sobre a história da ciência e da filosofia, verificamos que tem se dado de uma forma encastelada, sem a participação da sociedade,até mesmo à sua revelia.E em se tratando da participação da mulher então...O próprio Einstein era um péssimo companheiro no "recinto de seu lar";há relatos até de agressões físicas;Pablo Picasso, um renomadíssimo pintor, Auguste Rodin, escultor famosíssimo, sufocou totalmente a arte da companheira Camille Claudel. A lista é imensa e não é o caso.Percebo é que há um descompasso entre a inteligência, a genialidade e o amadurecimento emocional. Infelizmente.Salvo honrosas e raríssimas exceções!Pero la Nave va! Como dizia Federico Fellini....