sábado, 13 de novembro de 2010

O TRIUNFO DO SUTIL

UM ESTALO: FÍSICA

Tinha de decidir sobre o meu futuro, rapidamente, claro, mas sem desespero. Pensei muito, hesitei muito, recolhido em mim mesmo durante dias seguidos. Até que, num estalo, senti que queria mesmo era ser professor de física, a matéria que sempre me fascinou. Sim, eu seria professor de física. Em nenhum momento esquecera a emoção, no colégio, quando o professor mencionou que o austríaco Wolfgang Pauli, Prêmio Nobel de Física, de 1945, descobriu uma partícula subatômica usando tão-somente as quatro operações aritméticas.

Pauli

Ao observar o que acontece quando um nêutron se desdobra num próton e num elétron, no fenômeno conhecido como decaimento beta, Pauli calculou uma diferença entre a energia das partículas, antes e depois do desdobramento. Postulou, para explicá-la, a existência de uma partícula que não pode ser percebida, por ter massa insignificante e carga elétrica nula, que tudo atravessa e não interfere com nada.

- Somos constantemente atravessados por ela, em quantidades avassaladoras e à velocidade da luz.

- Não seria essa partícula fantasmal uma metáfora matemática, considerando que ninguém teve, ainda, o privilégio de vê-la, nem de senti-la?


Pauli confiava nos princípios da física.

- Ela existe. Se não existir, estará violado o princípio da conservação da energia.

Fermi

Foi o físico italiano Enrico Fermi que propôs dar a essa partícula o nome afetuoso de neutrino, que em italiano vale por “neutronzinho”, em virtude de sua neutralidade excepcional. Em 1956, físicos experimentais detetaram o neutrino no reator Hanford, em Washington, e publicaram, na revista Science, o artigo "Deteção do neutrino livre: uma confirmação".

- O neutrino é o triunfo do sutil, conformou-se o astrofísico francês Michel Cassé.

Histórias como a de Pauli contribuíram para aumentar meu entusiasmo pela física, o que me levou a estudar engenharia, que era, agora, uma etapa a ser esquecida. Sim, eu queria ser professor, com a vantagem adicional, perante minhas idiossincrasias, de que a atividade implica pouco ou nenhum envolvimento com outras pessoas, sendo o único compromisso do professor o de ensinar e ser entendido pelos alunos.

- Ninguém pode obrigar um professor a ensinar uma fórmula errada ou fazer a quadratura do círculo.

Achava, além disso, que possuía inclinação para a cátedra, principalmente após o congresso de Buenos Aires, no qual, três anos antes, eu tinha dado uma palestra sobre contratos de risco, por determinação da WED. Explico como foi. Desde a última década do século passado, o Governo deixara de atuar em caráter exclusivo na área de infraestrutura, substituindo-se nessa tarefa por companhias nacionais e estrangeiras, contratadas no regime das concessões. As agências regulam a atividade e licitam os projetos, as companhias assumem o risco e executam as operações e o governo recolhe generosos impostos e participações. Telecomunicações, petróleo, energia elétrica e mineração, tudo agora se desenvolvia sob a égide da competição.

Joint-venture

Os que não conviveram com esse modelo, queriam saber, e rapidamente, como funcionam os contratos e como se toma uma decisão quando há risco de empreitadas malsucedidas. Tudo bem, pensei, é a minha praia, mas havia o inconveniente de que não tinha nenhuma experiência como palestrante, nem paticipara de nenhum congresso.
Cecília decidiu viajar comigo, uma pausa no ritmo frenético que levava à frente dos seus negócios, cada dia mais diversificados, prósperos e exaustivos. Viajávamos juntos frequentemente nas férias, é verdade, mas essa foi a única vez em que me acompanhou numa viagem de negócios no exterior.

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