quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A ESCOLHA (parte 4/4)

Show me the money

Dinheiro no bolso, férias excelentes. A nota triste foi a morte de um amigo querido, cuja missa de sétimo dia iria ser na igreja de Santa Luzia. Foi então que me lembrei das ações da Vale, cuja sede ficava perto da igreja. Assisti à missa com a cautela indesejada no bolso do paletó.
No departamento de acionistas me instruíram para retornar dentro de uma semana e assim receber o papel na forma desejada pelo mercado.


Igreja de Santa Luzia

Continuei pelo resto das férias a minha carreira de dissipador, pois poupar não era preciso, trabalhava num projeto bem-sucedido, granjeara um excelente conceito, ninguém disputava o meu lugar e esperava não testemunhar mais crime nenhum. Para dizer numa palavra: dois mil dólares já não faziam importância no meu orçamento. Por isso quase viajei para Teófilo Otoni sem buscar as ações. Mas o acaso me aproximou novamente da Vale, à qual acabei retornando, pois fui convidado pelo doutor Eurico para almoçar no Clube Militar, que fica a uma centena de metros da mineradora.

Uma cautela atualizada

Nada do que me sucedera anteriormente pode ser comparado ao que me esperava: recebi das mãos do chefe do departamento de acionistas uma cautela atualizada que me fazia possuidor de 73.500 ações preferenciais ao portador da mui leal e digna Companhia Vale do Rio Doce.
A cautela que eu entregara era de 1947 e fazia jus, ao longo de mais de vinte anos de esquecimento, a vastíssimas bonificações, que não haviam sido entregues por serem títulos ao portador, cujo a Vale não tivera como identificar.
Fui levado à presença do presidente da companhia, que fez questão de me conhecer, pois eu era um dos seus principais acionistas.

Inicialmente eu havia estimado que minha herança era de 500 dólares. Na festa do doutor Eurico, depois, esse valor saltara para 2 mil dólares. Fazendo mentalmente os cálculos com base em 73.500 ações, considerada a cotação de 41 dólares por unidade, saí do encontro com o presidente certo de que herdara cerca de três milhões de dólares!
Felizmente, mais uma vez
eu estava enganado: o papel já estava com cotação acima de cem dólares por ação. Autorizei a venda e, 48 horas depois, recebi um cheque de pouco mais de 7,5 milhões de dólares.

Sou, desse modo, um milionário acidental. Graças à generosa escolha que fizeram para mim os que partilharam comigo o espólio do tio Dilermando.
Pedi demissão do meu emprego diretamente ao doutor Eurico, a quem sempre haverei de tributar minhas melhores homenagens, pelo grande senso empresarial e pela justiça com que distribuía os dividendos do seu projeto vitorioso.


Minha fortuna, não sei como, tornou-se conhecida de muita gente. Doutor Eusébio, o inventariante, procurou-me para dizer que havia convencido os herdeiros a aceitar minha sugestão de rever a partilha dos bens do Dilermando. A Cidinha me escreveu para informar que estava disposta a casar-se comigo, ela que brigara com o jogador, o qual, a bem da verdade, não era lá essas coisas e já passara para o time reserva. O irmão do juiz assassinado, que por acaso se tornara o gerente da minha loja de aparelhos de televisão, deslocou-se lá de Maceió e me propôs uma sociedade para criação de uma cadeia de lojas de eletrodomésticos no Nordeste. Até um alemão, representando uma companhia geofísica de Frankfurt Am Main, tentou vender-me interesses de participação num contrato de exploração de petróleo na Guatemala.

Escolhas profissionais

Movimento, porém, foi o que decidi evitar. Comprei vinte apartamentos de luxo na Zona Sul do Rio de Janeiro e entreguei sua administração a uma empresa idônea que deposita os rendimentos líquidos na minha conta bancária, cujo gerente exclusivo os vai aplicando segundo modernos critérios de escolha e gerenciamento de portfólios. Que funcionam muito bem, técnicas de Cambridge e de Oxford, sei lá.

- Pois eu, forçoso é reconhecer com humildade, costumo me sair melhor quando outros escolhem por mim.
(fim)

2 comentários:

Anônimo disse...

Este Blogger é muito interessante. Gostei da Cidinha porque voltou atrás. Eu também voltaria com um partido deste. Gosto de sombra e agua fresca, quem não gosta?
Quer dividir comigo um pouco destes apartamentos? O Grajaú já era pois eu escolheria tudo para você como gosta. Boa historia e imaginação fertil, mas ficará meu convite à partilha. Sua socia.

Anônimo disse...

Deixo a vida me levar meu socio.Gina