sábado, 17 de setembro de 2011

O NOVO DEQUINHA (parte 3/5)

OS TREINAMENTOS

A vida de Dedeu passou a ser exclusivamente o futebol, pois Nicanor fazia questão da total dedicação do filho aos treinamentos. Sentia re
morso, pois o ônus de bancá-lo no Flamengo, com aquele desperdício de dinheiro em passagens de ônibus e de trem, assoberbava a vida do pai.
Gostava da Gávea. Aquele gramado lhe parecia abençoado
, pois pisava onde pisaram semideuses, Zico, Zizinho, Fausto, Leônidas e Dida. Uma história de êxitos e de consagrações, que começavam exatamente ali.

-E Friendereich? O Friendereich também jogou no Flamengo, não jogou?

- Jogou em 1917 e em 1935.

O certo é que aos poucos Dedeu foi se entusiasmando com a idéia de que poderia se tornar, de fato, um jogador profissional. Terminados os exercícios, ele se demorava para ver o treinamento dos profissionais. Muito se encantava com o desempenho do Romário, que batia na bola de frente, de lado, de calcanhar, de ombro, de nuca e até de costas. O craque, notando aquele interesse, passou a conversar com ele, a dar-lhe esperança, a incentivá-lo. O Dedeu, no carro bonito, todo prosa, ao lado do ídolo, quando certa vez Romário lhe deu uma carona até a Central do Brasil.

- O Flamengo é o sonho de todo jogador.

Na sua turma, a da batalha, a amizade era com o Fabiano, o Juan, o Athirson, o Carijó e o Bruno, que, aliás, é filho do Raul Quadros, naquela ocasião um frequentador constante do chope da Gávea. Tinham todos a mesma ambição, a de joga
r profissionalmente pelo Flamengo.
Eles se animavam mutuamente,
elogiavam-se, protegiam-se, exorcizando o fantasma da degola, a angustiante síndrome do 15 de dezembro. Carijó fingia tranqüilidade quando escalava, com voz empostada de locutor, o sistema defensivo do Flamengo no ano 2000.

- Carlos Alberto, Dedeu, Fabiano, Juan e Athirson, com Carijó na cabeça da área.

- Cabeça de quê?

- Cabeça da área.
Isiane

Uma conversa frequente era sobre o que fazer com o dinheiro do primeiro contrato. A maioria pensava numa casa para a mãe, mas havia os que eram pelo carro do ano. O Suélio, um baixinho cheio de marra, o que queria mesmo era casar com a Isiane. Dedeu, que nunca se imaginou possuindo carro nenhum, nem mesmo de segunda mão, dizia que seu desejo era comprar um apartamento para os pais, lá para os lados de Realengo ou, quem sabe, da Tijuca. E vinha o Carijó, sempre ele, com alguma tirada extravagante.

- Vou comprar uma casa e um carro. Mas antes quero ir a um restaurante lá de Bonsucesso, o "Sustança Real", e pedir dois filés com batatas fritas. O primeiro é para matar a fome.

- E o outro?

- De sobremesa, ora essa!

Dequinha

Certa vez, num domingo, houve um jogo-treino com um time de Petrópolis, e Dedeu entrou no segundo tempo. Foi uma festa, com todos se saindo muito bem. Dedeu, que chegou a fazer um gol de falta, foi muito elogiado pelo treinador.
Melhor que tudo, Nicanor assistiu ao jogo no meio de uma pequena torcida.

- Vai, Dedeu! Isso, Dedeu!

- Esse Dedeu é o novo Dequinha!

Mas tinham de esperar o 15 de dezembro, sem outro recurso. Pois os técnicos, muito profissionais, não antecipavam nenhuma opinião, exacerbando a dúvida e aflição de cada um.
(continua)

Nenhum comentário: