sexta-feira, 10 de agosto de 2007

RETALHOS DO QUOTIDIANO (parte final: 26/26)

Epílogo

Depois de encerrada a pesquisa em resistência dos materiais, Laura deu um curso para alunos, não graduados, sobre campos eletromagnéticos, no qual se houve muito bem. Tanto que, vencido um período experimental de 12 meses, o King´s College lhe propôs um contrato de trabalho definitivo. Ou seja, tinha diante de si a perspectiva e oportunidade de construir uma carreira vitoriosa numa das mais conceituadas universidades do mundo.
Foi nesse ponto que ela voltou ao Rio de Janeiro, para três semanas de férias. Pensei muito, antes de propor-lhe que viesse para o meu apartamento, pois já não nos tratávamos como namorados. Ela, porém, aceitou o convite com muita alegria. Já no aeroporto, abraçou-me emocionadamente, e ambos nos pusemos a chorar.

- Você assinou o contrato definitivo, claro.


- Ainda não, pois pedi um tempo.

Senti que estava no epicentro dessa indecisão. Tínhamos muita coisa para construir, não separadamente, mas juntos - foi o que pensei naquele momento crucial. Posso errar, e erro muito mais do que o necessário, mas não por falta de iniciativa. Pelo sim, pelo não, decidi procurar o De Sitter.

- Aquele convite para a Laura ser professora de Física ainda prevalece?

- Agora e sempre, respondeu o chefe do departamento.

Eu estava disposto a pedi-la em casamento, nem que tivéssemos de ser um casal separado por mais de 10 mil quilômetros, que grande assim deve ser a distância entre o Canal do Leblon e a Trafalgar Square.
Naquele mesmo dia levei-a para jantar no Humphrey´s, o local preferido dos professores de Física.

- Estive hoje com o De Sitter. Ele me informou que o emprego de professor para você na Física está de pé.


- Que acha que devo fazer?


- Rejeitar a Inglaterra, aceitar a oferta do De Sitter e casar-se comigo.

Felizes

Professores ambos, estamos casados há dez meses. Nós nos entendemos, nós nos completamos e nós nos bastamos. Ou seja, somos felizes.

Reabilitação

Este relato ficaria incompleto se eu omitisse que a Western Energy Development, a WED, descobriu a prevaricação da turma de Sean Forthwhite e me enviou, no mês passado, uma carta com um pedido de desculpas e uma proposta para que eu reassumisse o emprego. Ah, enviaram-me também um cheque de R$ 261.120,00, tal a quantia correspondente ao bônus de participação que eu lhes havia devolvido, acrescido agora de juros remuneratórios.

Surpresa

Laura sempre me relata alguma coisa sobre sua passagem pela Universidade de Londres. Onde, no seu tempo, havia meia centena de brasileiros, muitos dos quais se reuniam duas ou três vezes a cada mês em algum bar da Oxford Street. Numas dessas reuniões Laura foi apresentada a May e por seu intermédio chegou a conhecer Kurtis e sua mulher. E esta era a empresária de modas Cecília Lafayette de Castro, não menos que a minha ex-mulher!
Kurtis casado com a Cecília, ora, pois, pois!
Sempre achei que Buenos Aires tinha sido determinante na minha vida! Bingo! Cecília e Kurtis se conheceram em Buenos Aires, durante um Congresso Mundial de energia!

Cecília

Uma cena que me vem sempre à mente é a do Kurtis, jantando, em Londres, com as três mulheres da minha vida: Cecília, May e Laura. Se ninguém acreditar, minha resposta há de ser:

- Tem gente que acerta na sena, sabia?

Está na hora de encerrar este relato, mas quero acrescentar um último ponto. Tenho, muito para mim, que há alguma conexão da Cecília com o escândalo do motel... Igualmente, justiça se lhe faça, com a minha indicação, pelo Kurtis, para substituí-lo no Departamento de Economia. Pois ela sempre prepondera, não erra, nem deixa vestígios.


FIM

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