POR QUE O MENINO CHOROU?
Jano, o deus romano de duas cabeças, era considerado o deus das indecisões, pois, enquanto uma cabeça pensava uma coisa, a outra cabeça pensava a coisa contrária - uma metáfora poderosa para simbolizar as dificuldades que enfrentamos quando temos de decidir sobre alguma coisa.
Sem falar que há questões que são realmente indecidíveis.
Um exemplo parece ser o da história do filme Nós Que Nos Amávamos Tanto, do Ettore Scola, em que o personagem Nicola responde sobre Vittorio De Sica, habilitando-se a um prêmio milionário, num quadro televisivo que se chamava "Lascia o raddoppia" ("Perde ou dobra").
No programa decisivo, ao candidato foi dirigida a seguinte pergunta:
- Por que o menino chorou no final do filme Ladrões de Bicicleta, de Vittorio De Sica?
Qualquer pessoa normal que tivesse visto o filme responderia que o menino chorou porque viu o pai sendo espancado; o candidato não era, porém, uma pessoa normal, mas alguém que sabia tudo sobre De Sica. Sabia, por exemplo, que, para fazer chorar o ator amador Enzo Staiola, que fazia o menino Bruno, De Sica ordenou aos assessores que colocassem cigarros em seu bolso e o acusassem de roubo. Ofendido, o menino começou a chorar de verdade, aparecendo assim no filme imortal.
Não iriam perguntar-me o que todos sabem, pensou Nicole. Foi por isso que o personagem de Scola respondeu:
- O menino chorou porque o acusaram de haver roubado os cigarros que estavam no seu bolso.
A resposta foi considerada errada, e o candidato perdeu o prêmio, pois, segundo a produção do programa, o menino chorou porque viu o pai ser espancado.
Nicola nunca se conformou com esse desfecho, acreditando que, se tivesse optado por esta outra resposta, perderia do mesmo jeito, porque nesse caso a televisão diria que o choro ocorreu por causa dos cigarros.
Um exemplo de questão indecidível.
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
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