Desde 1897, quando o elétron foi descoberto pelo britânico Joseph John Thomson (1856-1940), os cientistas foram paulatinamente revelando a existência de muitas outras partículas subatômicas, algumas delas exóticas.
Glória e façanha é pintar o teto da Capela Sistina, compor uma sinfonia de Mahler, como também (por que não?) descobrir uma partícula subatômica usando apenas as quatro operações aritméticas. Foi o que fez o austríaco Wolfgang Pauli (1900-1958), Prêmio Nobel de Física, de 1945: ao observar o que acontece quando um nêutron se desdobra num próton e num elétron, no fenômeno conhecido como decaimento beta, Pauli calculou que havia uma diferença entre a energia das partículas, antes e depois do desdobramento, e para explicá-la postulou, em 1930, a existência de uma partícula que não pode ser percebida, por ter massa insignificante e carga elétrica nula, que tudo atravessa e que não interfere com nada.
- Somos constantemente atravessados por ela, em quantidades avassaladoras e à velocidade da luz.
- Não seria essa partícula fantasmal uma metáfora matemática, considerando que ninguém teve, ainda, o privilégio de vê-la, nem de senti-la?
Pauli confiava nos princípios da Física.
- Ela existe. Se não existir, estará violado o princípio da conservação da energia.
O físico italiano Enrico Fermi propôs dar a essa partícula o nome afetuoso de neutrino (neutronzinho), em virtude da sua neutralidade excepcional.Em 1956 os físicos Clyde Cowan, Frederick Reines, F. B. Harrison, H. W. Kruse e A. D. McGuire detetaram o neutrino no reator Hanford, em Washington, o que foi comunicado pela publicação, na revista Science, do artigo "Deteção do neutrino livre: uma confirmação".
- O neutrino é o triunfo do sutil, conformou-se o astrofísico francês Michel Cassé.
Um toureiro, vá lá...
Há cientistas que têm o hábito de desdenhar dos profissionais de outras áreas. O físico Ernest Rutherford (1871-1937) disse certa vez:
- Ciência é Física. O resto, coleção de selos.
Só por ironia Rutherford, que era um brilhante experimentador, ganhou o Prêmio Nobel de Química, em 1908. Não o de Física, mas o de Química!
Wolfgang Pauli, o gênio capaz de uma Capela Sistina, ou melhor, de descobrir partículas desconhecidas fazendo continhas, pautava-se por sentimentos análogos aos de Rutherford em relação aos outros cientistas. Até nas suas desilusões amorosas. Ao saber que sua esposa, Käthe Margarethe Deppner, o trocara por um químico, reagiu com as seguintes palavras:
- Se tivesse escolhido um toureiro, tudo bem. Mas, um químico... Não posso entender!
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