sábado, 21 de maio de 2011

GIORDANO BRUNO (II)

MÁRTIR GENUÍNO DA CIÊNCIA

A ambição de Giordano Bruno era construir um embasamento filosófico que se coadunasse com as grandes descobertas científicas de seu tempo. Por sua intuição extraordinária, estava séculos adiante de seu tempo e é considerado um pioneiro da filosofia moderna, tendo influenciado Descartes, Espinosa e Leibniz.
Para ele, as ideias de Aristóteles deveriam ser abandonadas sempre que fossem incompatíveis com a realidade observada.
Aos que estranhavam suas opiniões discordantes, perguntava:

- Quais são os fundamentos da certeza?


Quando o advertiam da incompatibilidade de suas ideias com o que se preconizava nas Escrituras, Giordano Bruno respondia que os textos religiosos não eram referências infalíveis ou obrigatórias, tanto que neles se omitiam completamente as Américas e seus povos, cuja existência dizia ser incompatível com o relato bíblico da Arca de Noé.

- A Biblia deve ser observada por seus ensinamentos religiosos, não por suas declarações sobre Astronomia.


Com pensamentos assim ousados, Giordano Bruno iria pagar um preço elevado, sobretudo porque, excelente orador, tinha capacidade para atrair e convencer multidões. Regressou à Itália para instalar-se em Veneza, convidado por um nobre chamado Giovanni Moncenigo, sem perceber que se tratava de uma armadilha. Foi preso e encarcerado pelo Santo Ofício, permanecendo sete anos sob tortura e humilhação, até ser levado a julgamento perante o Tribunal da Inquisição.
Em sua defesa, apelou para sua condição de filósofo, tal como Aristóteles e Platão, cujas ideias nem sempre coincidiam com o que se continha nos textos sagrados. O cardeal Roberto Bellarmino, consultor do Santo Ofício, propôs-lhe que se retratasse de suas ideias, para, desse modo, escapar da condenação. Bruno respondeu:


- Não tenho motivos para retratar-me.

Clemente VIII

O papa Clemente VIII não se conteve diante dessas palavras e determinou que as autoridades seculares cuidassem do seu caso, tratando-o de "forma tão misericordiosa quanto possível, evitando derramamento de sangue." Uma senha cheia de eufemismo, perversa e irônica, que significava morte na fogueira.
Alguns dias antes da execução, Giordano Bruno teria dito a seus carrascos:


- Essa sentença, pronunciada em nome do Deus da misericórdia, assusta mais a vocês do que a mim!


Queimado vivo, aos 52 anos de idade, em Roma, no Campo das Flores, no ano de 1600, com a boca amordaçada para que não pudesse dirigir-se à multidão, Giordano Bruno imolou-se em nome do livre-pensamento. Morreu sem olhar o crucifixo colocado à sua frente para infligir-lhe uma derradeira humilhação.

- Com ele, a filosofia começaria a libertar-se da religião, favorecendo o nascimento da ciência moderna.

Certa vez Maria Hoyle e eu trocamos impressões sobre as ideias, a importância, a motivação, a coragem e a dignidade de Giordano Bruno, que aceitou o sacrifício em nome da verdade. Um homem que ela gostaria de ter abraçado. Na solidão do seu gabinete, decidimos fazer um minuto de silêncio em sua homenagem, um ato de contrição e respeito, atrasado de 400 anos.


- Giordano Bruno, mártir genuíno da ciência.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente post. Podemos ver em http://www.alexanderpolzin.de/html/sculptures.html
a escultura de Alexander Polzin de Giordano fortemente simbólica.
Gastão