quarta-feira, 18 de maio de 2011

GIORDANO BRUNO (I)

RELIGIÃO E CIÊNCIA

Maria Hoyle aprovava minha iniciativa de mostrar aos alunos o lado humano dos físicos. Ela própria me deu informações sobre Empédocles, Hipácia, Madame Curie, Lavoisier... Assim estimulado, passei a comentar cada vez mais sobre fatos da vida dos cientistas, mostrando nas aulas seu sofrimento, idiossincrasias e excentricidades. Animava-me também a aceitação positiva por parte dos alunos.
Até que um dia cheguei a Giordano Bruno, o filósofo que se opôs à opressão da ciência pela religião. Uma história emocionante, que começou no século XIII, quando os intelectuais religiosos Tomás de Aquino e Alberto Magno fizeram uma combinação do aristotelismo com o cristianismo, a que se costuma chamar de "escolástica", formulando uma visão do mundo que deveria ser aceita por imposição da Igreja Católica. Aquela coisa de Terra imóvel, no centro do Universo, todos os astros girando à sua volta, com órbitas circulares e velocidades constantes.


- Pois Deus, perfeito, não admitiria senão órbitas perfeitas, como o círculo, e movimentos perfeitos, de velocidades constantes.

Roger Bacon


A primeira voz discordante foi a do franciscano Roger Bacon, de Oxford, que chegou a escrever:

- Se dependesse de mim, queimaria todos os livros de Aristóteles, cuja leitura é pura perda de tempo e só nos leva ao erro e à ignorância.

Roger Bacon descrevia o método científico como um ciclo repetido de observação, hipótese, experimentação e necessidade de verificação independente, acreditando que a ciência, construída mediante leis matemáticas, poderia resolver muitos problemas do homem, que, no futuro, seria capaz de deslocar-se em carros motorizados e, quem sabe, até voasse. Seus argumentos contra as ideias de Aristóteles foram reunidos nos livros Opus Majus, Opus Minor e Opus Tertium, que ingenuamente enviou ao papa Nicolau IV, belamente encadernados. Em vez de elogiado, Roger Bacon foi acusado de fabricar "novidades perigosas" e condenado a quatorze anos de prisão.

Giordano Bruno


Sorte ainda pior estava reservada para Giordano Bruno, um intelectual italiano que nasceu em Nola, no sul da Itália, e estudou no Convento Domicano de Nápoles, ordenando-se padre em 1572. Bruno sofreu influência das ideias de Lucrécio, que defendia o atomismo, contra os quatro elementos, de Empédocles, tanto quanto das ideias de Nicolau de Cusa, que, como Roger Bacon, se opunha ao sistema geocêntrico e defendia a prevalência dos cálculos matemáticos para descrição das verdades científicas.

Bruno perambulou pela França, Inglaterra, Suíça, Alemanha e Tchecoeslováquia, dando aulas de filosofia e tudo contestando, o que sempre acarretava reações exacerbadas que o obrigavam a fugir em busca de novos abrigos. Um dos primeiros copernicanos da Itália, Giordano rejeitou a teoria geocêntrica e pelas suas ideias avançadas colocou-se à frente de Copérnico, que, ao tirar a Terra do centro do Universo, continuou, não obstante, a admitir que o Universo era limitado por uma esfera de estrelas fixas, como preconizado vinte séculos antes por Aristóteles. Nas concepções de Giordano, o Universo seria infinito e povoado por milhares de sistemas solares, integrados por planetas, muitos dos quais com vida inteligente.

- Deus e o Universo são uma única e mesma coisa. Tudo é Deus, e Deus está em todas as coisas.

Na Inglaterra, Giordano Bruno foi apresentado por John Florio a Shakespeare, que teria aludido às suas ideias no Hamlet, Cena II do Segundo Ato, quando o príncipe da Dinamarca exclama:

- Oh, Deus! Eu poderia estar encerrado numa casca de noz e, ainda assim, considerar-me rei do espaço infinito, se a mim não me coubesse ter tantos pesadelos.

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