Faça de conta que você está num barzinho do Baixo e a moça mais bonita da General San Martin de uma só vez lhe pergunta se você curte o Al Pacino e o que é Termodinâmica. Isso mesmo, você vai dar essa aula para a moça mais bonita da San Martin, a Elisa, segurando o giz como quem segura um copo de uísque.
- Sim, sim, também curto o Al Pacino.
Treinando o discurso
Lembre-se, Carlinhos idiota, nada de integrais ou de logaritmos neperianos, nem de médias harmônicas ou de transformadas de Laplace. Ensinar por meio de equações matemáticas é muito cômodo, mas tem o pequeno inconveniente de que os alunos ficam sem entender. Exercite, em vez, aquele seu velho aforismo:
- A melhor álgebra é a das palavras, verborrágica.
Devo citar Charles Percy Snow? "Poucos cientistas leem Charles Dickens ou uma peça de Shakespeare; poucos artistas conhecem o Segundo Princípio da Termodinâmica; assim fica muito difícil resolver os problemas do mundo." E acrescento: "fica mesmo".
Não, não, soa muito pretensioso, insinuando que entendo alguma coisa de arte.
O Primeiro Princípio da Termodinâmica garante a conservação da energia, é preciso que isso fique muito claro. Não posso esquecer, na hora, de mencionar que o Universo é um sistema fechado e portanto de energia constante, distribuída no petróleo, na luz do sol, nas plantas, nas barragens - energia nuclear, energia mecânica, energia química, energia elétrica... Energia por toda parte, mudando de uma forma para outra, mas conservando-se durante todo o processo.
Segundo Princípio
O Segundo Princípio da Termodinâmica limita as transformações entre calor e trabalho, pois é impossível que uma máquina térmica isolada e independente transfira calor de um corpo frio para um corpo quente, isto é, o moto contínuo de primeira espécie é inviável, assim agora e assim eternidade adentro. O Segundo Princípio pressupõe a morte térmica do Universo, pelo aumento incessante e irreversível de entropia, até que esta atinja seu nível máximo. Todo o Universo na mesma temperatura!
Terceiro Princípio
Mas há também um Terceiro Princípio da Termodinâmica, pelo qual não é possível atingir o zero absoluto utilizando uma sequência finita de processos termodinâmicos. Ou, dizendo melhor, é impossível alcançar a temperatura correspondente ao zero absoluto.
Montaigne
Claro que, ao citar os pioneiros da Termodinâmica, Mayer e Carnot, devo dizer como foi que eles morreram, de acordo com as informações que recolhi em minhas pesquisas na Biblioteca Nacional. Para avaliar se uma pessoa foi feliz, isto é, se valeu a pena ter vivido, é preciso saber como foi que ela morreu, e quem ensina isso é Montaigne. Se tais coisas não ficarem esclarecidas, isto é, se não se conhece o lado humano e doloroso dos físicos, os alunos podem pensar que a ciência se faz num céu de brigadeiro, sem alma, sem angústia e sem sofrimento. Que a Física surge do nada, como a noite, a chuva, as manhãs de outono, o vento leste, ou pelas artimanhas de alguma máquina, bastando ligá-la na tomada ou alimentá-la de petróleo numa planta de gasolina.
Ricardo III
Vou seguir esse roteiro. Problema, se houver, será responder às perguntas da banca, inesperadas, surpreendentes e ameaçadoras. Mas isso está fora do meu controle. Seja como for, lembre-se de que o professor é um ator num palco, fazendo o Ricardo III. Cinco salários mínimos! Cinco salários mínimos! Meu reino por cinco salários mínimos!
- Concluo, senhoras e senhores, confessando-lhes toda a verdade: eu sou o Al Pacino!
Um comentário:
Caramba! Al Pacino...!
E os termos da dinâmica humana?
"Meu reino" pela Física!!!
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