Devo fingir que sou intelectual, sem errar nem pestanejar, antes que Pascale se levante da minha cama, decida ir embora e me deixe no ora-veja. O negócio é manter a calma, Estevinho, e falar com naturalidade e sem afetação. Tudo bem, mas falar sobre o quê? René Clair e Truffaut... Não, não, que ela é francesa, e disso deve saber muito mais do que eu. Quem sabe a expansão do Universo? As Vésperas Sicilianas, de Verdi? O paradoxo de Abilene?
- Estevinho, você se formou em quê?
Ela foi mais rápida, ou seja, falhei...
- Em nada, Pascale. Pode-se viver de muitos modos, sem precisar da universidade. Conclua a Inacabada de Schubert, invente o motor de combustão externa, procure libelático no dicionário, plante uma bananeira no alto do Himalaia, compre o bilhete que será contemplado com o grande prêmio, aprenda a cabecear no ângulo, dedique-se à alta costura.
- Até mais mais ver, Estevinho.
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