sábado, 19 de maio de 2012

CONTOS DE 150 PALAVRAS (8)

INOCÊNCIA PUTATIVA


Regininha foi encontrada morta. Ao lado da cama, o bilhete que me incriminava:

"Devo informar aos meus familiares, à polícia e a quem mais interessar que fui assassinada por José Cláudio Antônio Nicola Estradivário Pastasciutta, conhecido como Estevinho, que mora no 800 da Visconde de Albuquerque."

Revólver na mão, quarto fechado por dentro, tudo indicava suicídio irrevogável e irretratável, dos categóricos e inapeláveis.
Mas o bilhete, como explicar o bilhete?
Por que me envolveu, se não tivemos nenhum relacionamento?
Sacana, que Deus a tenha.
Meu nome nos jornais, aquele trabalhão para provar a inocência, a revista interminável do apartamento, os numerosos comparecimentos à delegacia, os risinhos do escrivão, o mau humor do delegado, as despesas impossíveis. Citações, agravo de instrumento, apelação, habeas data, mandado de injunção, preclusão, certidões. Não exigiram incunábulos, nem palimpsestos, que talvez nem se apliquem nestes casos mais bodosos.

- Inocência putativa, sentenciou o juiz.
Putativa!

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