quarta-feira, 18 de abril de 2012

LAVOISIER (1/2)

UMA GRANDE TRAGÉDIA

Lavoisier, o pai da química moderna, morreu guilhotinado, vítima do regime que se instalou na França entre 1793 e 1794, ao tempo de Robespierre. Por ser cobrador oficial de impostos de Luiz XVI, uma função tornada mais impopular porque o clero e a nobreza gozavam do privilégio da isenção, Lavoisier acabou sendo injustamente acusado de peculato. A esse respeito, um antigo funcionário da Receita, Nicolas François Count Mollien, relatou na ocasião que não havia nenhuma dúvida quanto à inocência de Lavoisier, que não deixou "uma única objeção sem resposta, um único cálculo sem refutação, uma única justificativa sem prova."


De fato, as alegações contra Lavoisier eram irrelevantes, configurando um revanchismo dos que se viram prejudicados por sua atuação como coletor de impostos ou a sanha dos que lhe tinham inveja por sua fortuna e seus êxitos pessoais.
Tinha também contra si o ódio de Jean Paul Marat, que era médico e cientista, antes de se tornar o panfletário da Revolução Francesa. Em 1780, ou seja, antes do Terror, Marat submetera à Academia Real das Ciências um trabalho científico, pretensioso e equivocado, a que deu o nome de "Pesquisas Físicas sobre o Fogo"; nele Marat
defendia ingenuamente que o fogo era a manifestação de um fluido especial, o fluido ígneo, cujas sombras produziriam as formas trêmulas das chamas.

- Uma vela, defendia ele, confinada num espaço limitado, apaga-se porque o ar, dilatado pela chama, comprime-a e a abafa.


Esse trabalho, primário e despropositado, foi recusado por orientação de Lavoisier
.
Embora corriqueiro, o fato foi decisivo para levar Lavoisier à guilhotina. Pois Marat assumiu o papel de principal acusador, com seus artigos raivosos e desproporcionais. Para além de outros textos injustos e grosseiros sobre Lavoisier, eis o que Marat escreveu no seu jornal “L’Ami du Peuple”, em setembro de 1791:

“Denuncio-lhes o corifeu dos charlatães, o senhor Lavoisier, filho de um sovina, aprendiz de químico, aluno do agiota genebrino, coletor-geral de impostos, diretor da pólvora e do salitre, administrador da Caixa de Descontos, secretário do Rei, membro da Academia de Ciências, íntimo de Vauvilliers, administrador infiel da subsistência e o maior intrigante do século.”

Jean-Paul Marat: competindo com Lavoisier

Marat discutindo a capacidade de Lavoisier, veja só que comédia! Que redundou numa grande tragédia: o grande cientista foi condenado, e sua execução ocorreu em 8 de maio de 1794.

- A república não precisa de gênios, teria dito o juiz que o condenou.

Lagrange

Lavoisier não recebeu nenhuma solidariedade de antigos colaboradores e colegas acadêmicos, com a corajosa exceção do matemático Joseph Louis de Lagrange. No dia seguinte à execução, Lagrange expressou sua mágoa com as seguintes palavras, que se tornariam célebres:

- Bastaram alguns instantes para cortar sua cabeça; mas cem anos talvez não sejam bastantes para produzir outra igual.

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