sábado, 16 de julho de 2011

MEU PROFESSOR DE INGLÊS

VACA-RAPAZ

Yrves Vacaria

Não me lembro de nenhum professor especialmente preparado, nem de colegas muito inteligentes. Éramos, de fato, uma assembleia de mediocridades, considerados ambos os lados da mesa. Eu, pobre de mim, sempre gostei de problemas de aritmética, palavras cruzadas e quebra-cabeças e tinha um desempenho saliente em Inglês, o que não chegava a ser nenhuma façanha, nem podia ser avaliado, pois o professor era daqueles que traduziam “cowboy” por “vaca-rapaz” e “what does he do?” por “que faz ele fazer?”
- Doutor Vacaria, não seria melhor traduzir “cowboy” por “vaqueiro” e “what does he do?” por “o que ele faz?”

"Vaca-rapaz"

Como o professor nada respondeu, entendi que havia sido grosseiro e inconveniente. Mais uma vez, sim, mais uma vez. Para minha surpresa, porém, ele voltou ao assunto na aula do dia seguinte, embora de forma indireta e metafórica. Elogiou o padre Eleutério, que sempre se penitenciava dos seus erros, a inteligência de Santo Agostinho, que na fé conheceu a razão e a felicidade, e a humildade de Francisco de Assis, que se dedicou a um ideal de pobreza e por isso recebeu os estigmas das chagas de Cristo.
- À estupidez sempre há de contrapor-se o discernimento, e só os idiotas não mudam. Prevaleçam, pois, a razão e a verdade, mas também a inteligência, para reconhecer os equívocos, e a humildade, para proclamá-los sem nenhum constrangimento. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

A
custo consegui entender que Yrves Vacaria de Bastos Viamão estava aceitando a minha sugestão. Desde então “vaca-rapaz” e “o que faz ele fazer?” perderam a vez para “vaqueiro” e “o que ele faz?”, nas aulas de Inglês de Barro Verde. E, mais, fui dispensado dos exames finais e aprovado com nota oito, vírgula três. Assim foi. Acho, porém, um exagero a afirmativa de que sou o responsável pelo epíteto de "professor Vaca-Rapaz" que foi atribuído a Yrves Vacaria.

O resto é silêncio

Disseram-me anos depois que minha intervenção, um show-offismo banal que ajudou a corrigir os rumos anglo-saxônicos dos meus estudos ginasiais, despertou a ternura da Bianca Averróis, conforme na ocasião andou confessando às suas amigas mais íntimas. Ela, que era a moça mais bonita da minha adolescência, viria a ser a musa de todas as colunas sociais, depois que se casou com o milionário Richard Lloyd.


- Apaixonada por mim! E eu sem saber de nada, na inocência dos meus 15 anos.
..

- The rest is silence.
(O nome deste animal é Hamlet)

Sempre foi assim, pois um dos meus defeitos fundamentais tem sido a de desconhecer todas as oportunidades. Elas existem, e eu, o desatento, navegando nas águas profundas da minha ingenuidade. Dizer o quê? Nada.

- The rest is silence.

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