quarta-feira, 13 de julho de 2011

CONFISSÕES DE UM VISIONÁRIO

Sucessos de agosto

A terceira e última guerra mundial
ocorrerá num 17 de agosto. Guerra instantânea, total, datilográfica, como explicava o doutor Crisóstomo, nas suas elucubrações intermináveis. Um datilógrafo apertará a tecla "Londres", simplesmente isso, e Londres derreterá. E, assim, sem deferências nem contemplações, Rio de Janeiro, Paris, Moscou, Roma, Berlim, Espera Feliz, Tegucigalpa e Nova York.

- Perderá a guerra menos rapidamente quem se apresentar com melhores datilógrafos e máquinas de belo consolo e retrocesso decidido.


Uma datilógrafa excelente...

16 de agosto.


Amanhã teremos um encontro inevitável com o desenlace. Somos quase sete bilhões de morituros, ávidos de viver, nessas (nossas) 24 horas. É preciso viver, viver muito, enquanto não chega
o canhoneio alucinado. Cada segundo terá de durar uma boa eternidade. Entremos, pois, no melhor restaurante, assistamos ao melhor teatro e descansemos no melhor apartamento. Deitemos fora os termômetros, as pastas de engraxar que lustram sem ressecar, os pregadores de gravatas, os oito primeiros números da série de Fibonacci, os abridores de latas e os carnês de prestações a juros favorecidos.

- Hoje eu não vou fazer a barba.

- Tum-tum, escatungararibê, escatungatinga. Soê, sooê, ererebá,
escatungararibê, escatungatinga!

- Quer dançar comigo?


Aqueles que tiverem bom gosto subirão comigo ao Pão de Açúcar, e juntos lançaremos aviões de papel sobre a Baía da Guanabara. Depois, nós nos consumiremos de amor. Por favor, não nos fale de Bush, nem de Bin Laden, que estes estarão fugindo de si mesmos e de suas biografias, as quais serão todas não autorizadas, agora e sempre.

- Não desembuche o debuxo do bruxo.

Nesse (nosso) dia todo discurso será absolutamente desnecessário. O poliglota, dançando conosco a infatigável valsa da despedida, gritará para as pessoas:

- Folks!

Todos entenderemos "Volks!". Mas ninguém quer saber de Volks porque há Mercedes sobrando. Mercedes e Marias sobrando.

- Ora, Volks!

Mercedes e Maria

Alguns, os corruptos (sempre os há), permanecerão graves, mas quase todos estarão se despedindo alegremente. Mães de uns e filhos de outras se abraçarão emocionados, os olhos absolutamente auspiciosos. Pois hoje, 16 de agosto, é o nosso domingo, dia dos pobres iguais aos ricos e dos ricos iguais a todos. Nem importa que a humanidade tenha uma sobrevida de apenas 24 horas - um instantezinho de felicidade é bastante para realizar a criação, humana e desumana, de uma só vez e completamente.

- Ei, esperem por mim!

Primeiras informações adicionais


No dia 16 não haverá chaves, dinheiro valendo e família, porque chaves dinheiro valendo e família são entidades úteis nas coletividades que não esperam morrer amanhã, e apenas nestas. De minha parte, jogarei fora a doçura sem açúcar que não engorda e rasgarei, enfim, o soneto que tive vergonha de mostrar.



17 de agosto

A felicidade foi ontem. Teremos hoje alucinações maiores que as do recoveiro de Púchkin, varridos da Terra pela nossa própria tecnologia. Que não penses que esta odisseia no chão (re-odisseia) é algum elevado ou shopping center caindo sobre tua cabeça. Pois é fim do mundo mesmo. Na hora da morte, homens e animais, apartamentos de cobertura da Delfim Moreira e falsos profetas vestidos de azul, tudo, absolutamente tudo, desmoronará num único baque.
Os nossos gritos serão abafados pelo troar infernal das bombas deles, e todos viveremos a enorme aventura, inerme, de morrer igualitariamente. É a expiação...

- Expiação?

- É a expiação, pelas nossas guerras convencionais, químicas, de quadrilhas, púnicas, de nervos, mundiais, santas, sem quartel, bacteriológicas, injustas, de preços, atômicas, frias, econômicas, de cem anos, localizadas, sujas, totais e de torcidas.

Outras informações adicionais

Na verdade, salvam-se um homem e uma mulher, que isso aqui é bom demais para ficar desabitado. O homem será escolhido por sorteio, essa a tua chance, caro amigo, mas da mulher serão exigidas qualidades várias, como a beleza da Jeanne Moreau, a coragem de Eneida de Morais e a inteligência da Dione. Engana-se quem pensou em Cláudia Cardinale, cuja não poderá ser salva, lamentavelmente.

- E a
Vera Fischer?

- Também não...

A escolhida, uma latina, formará com outro latino um casal sem nenhuma propensão marginal, nem para consumir nem para guerrear. Uma história a ser contada, um dia, quem sabe...

Consolo

Não teremos missa de sétimo dia
, mas nossos prótons são eternos.

- Adeus!

3 comentários:

cirandeira disse...

"Adeus", Remo !!!!!?

Remo Mannarino disse...

Calma, Cirandeira. É a despedida da personagem, não minha. Pretendo seguir em frente, que isto aqui é muito bom para ficar desabitado.
Um grande abraço!

cirandeira disse...

Que gracinha, Remo, meu adeus foi entre aspas("Adeus", Remo!)Foi somente uma forma que encontrei para expressar o que sentí sobre o que escreveste...achei tão insólito,meio futurista,que fiquei sem palavras...
Quanto a teu comentário sobre o texto de Schopenhauer,talvez concorde contigo, embora tenha minhas dúvidas sobre valer a pena qualquer tipo de leitura.Também acho que ele sabia a quem estava se dirigindo, mesmo falando genericamente.Havia muita rivalidade,muitas divergências entre as cabeças pensantes daquela época(como ainda hoje,também)Divergências à parte,polemizar, discutir, conversar é sempre enriquecedor.
Com relação ao desenvolvimento da ciência,é evidente que tem havido progressos, não resta a menor dúvida.Mas nos séculos anteriores os cientistas estudavam com muito mais afinco e com dificulcades exponencialmente maiores. E tem mais:quem usufrui, de fato, os progressos da ciência atual? À quoi ce sert? Infelizmente a teoria da relatividade resultou na bomba atômica e os donos do poder é que são os detentores da ciência, manipulando-a a seu bel prazer.Será que isso não é verdade?
A própria tecnologia, a internet(que somente uma pequenina parcela da população usufrui, é preciso que se diga)está aí a nos informar sobre o que vem acontecendo por este mundão a fora.Os investimentos na indústria armamentista é assustadoramente muito maior do que na ciência.E se formos averiguar quanto se investe em saúde,em educação,em saneamento,na cura de doenças como o câncer, a AIDS, o mal de Parckinson, o de Alzheimer, a lista é interminável.Para mim, o progresso de uma sociedade só tem sentido se for para beneficiar a população desta mesma sociedade.Se não,é pura teoria.Pode parecer pessimismo de minha parte(ou até ignorãncia sobre o assunto,pq sou totalmente leiga), mas falo como cidadã que se sente alijada, como milhões de outras pessoas do mundo inteiro.
Estou achando ótimo estar trocando ideias contigo.
Recebí uma "provocação" a partir do texto de Schopenhauer, de um mineiro, de BH.´Será que ele te conhece? Estou começando a achar interessante este espaço.
Um abração