sábado, 26 de dezembro de 2009

DUAS POESIAS FUNDAMENTAIS

Argila

Raul de Leoni (1895 - 1926)


Nascemos um para o outro, dessa argila
De que são feitas as criaturas raras;

Tens legendas pagãs nas carnes claras

E eu tenho a alma dos faunos na pupila...


Às belezas heroicas te comparas

E em mim a luz olímpica cintila,

Gritam em nós todas as nobres taras

Daquela Grécia esplêndida e tranquila...


É tanta a glória que nos encaminha

Em nosso amor de seleção, profundo,

Que (ouço de longe o oráculo de Elêusis)


Se um dia eu fosse teu e fosses minha,

O nosso amor conceberia um mundo

E do teu ventre nasceriam deuses...


Preparação para a Morte

Manuel Bandeira (1886 - 1968)


A vida é um milagre.
Cada flor, com sua forma, sua cor, seu aroma,

Cada flor é um milagre.

Cada pássaro, com sua plumagem, seu voo, seu canto,

Cada pássaro é um milagre.


O espaço, infinito, o espaço é um milagre.

O tempo, infinito, o tempo é um milagre.

A memória é um milagre.

A consciência é um milagre.

Tudo é milagre.

Tudo, menos a morte.


— Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.


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