sábado, 19 de dezembro de 2009

Duas poesias de Adélia Prado

Amor Feinho

Eu quero amor feinho.

Amor feinho não olha um pro outro.

Uma vez encontrado é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.

Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca, da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem e você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança: eu quero amor feinho.


Exausto

Eu quero uma licença de dormir,

perdão pra descansar horas a fio,

sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.

Semente.

Muito mais que raízes.


Adélia Prado (nascida em 1935), em "Bagagem"

2 comentários:

cirandeira disse...

Obrigada por esse lindo presente!
Dois poemas maravilhosos de Adélia
Prado, nessa virada de calendário, desanuvia bastante nossos horizontes!
Vim desejar-te muitas alegrias,muito amor ("feinho"!)e coragem para continuar labutando
nessa vida...!
Um grande abraço e obrigada pelo estímulo que me deste durante todo esse tempo que estou na blogosfera.
"Vou indo, caminhando, sem saber onde chegar"...

Anônimo disse...
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