Com o zero, diferentemente, qualquer número imaginável passou a ser facilmente representado, adotando-se a numeração indo-arábica, que requer apenas nove algarismos significativos, para além do zero.
O valor representado por qualquer algarismo na numeração com o zero depende da sua posição dentro do número, que define a potência de 10 pela qual deve ser multiplicado para obter o seu valor na composição do número. Por exemplo, no número 827, só o 7 mantém o seu valor nominal, pois o algarismo 2 representa duas vezes 10 e o algarismo 8, oito vezes 100, com o respectiva potência de 10 escolhida pela posição relativa de cada algarismo no número.
Além disso, o zero, se presente diretamente no número, estará indicando uma potência de dez a ser considerada, mas vazia, permitindo distinguir, por exemplo, 12 de 102 ou de 1020.
Um sistema de numeração assim concebido permite operações aritméticas sem auxílio de nenhum instrumento, o que não era possível com numerações baseadas em outras concepções, como os algarismos romanos. Com efeito, é muito fácil e prático dividir 817 por 43 para obter 19, mas dividir DCCCXVII por XLIII para obter XIX, na representação com algarismos romanos, é tarefa situada para além das nossas habilidades e capacitação.
Por isso mesmo, antes do zero essas operações eram feitas com auxílio de ábacos.
Onde surgiu
A formulação do conceito de zero e sua introdução como base do sistema de numeração parece terem ocorrido em torno do ano 500 da nossa era. A proeza, uma das mais importantes da matemática, é geralmente atribuída aos indianos.
Os árabes tomaram conhecimento desse sistema de numeração por volta do ano 710, nas suas incursões islâmicas pela Índia.
Por volta de 860 o árabe Al-Khowarizmi estabeleceu regras orientadoras para facilitar as quatro operações com base na numeração indo-arábica. A palavra “algoritmo” deriva de Al-khowarizmi, e “álgebra”, de “al-jahr”, palavra árabe que significa "equação".
Outro árabe importante na formulação do sistema de numeração baseado no zero foi Omar Khayam, matemático, poeta e autor dos 75 poemas do Rubayat. Khayam desenvolveu métodos que ampliaram as técnicas de Al-Khowarizmi e formulou uma disposição triangular dos números para facilitar o cálculo das potências matemáticas.
Popularização
Não foi nada fácil disseminar o conceito de zero, num passado em que a necessidade das pessoas não ultrapassava as tarefas de contar suas plantas e animais ou definir a extensão de suas terras. Seja como for, o zero entrou na Europa por volta do ano 1000, pela via das universidades mouras, na Espanha, e com os sarracenos, na Sicília. Consta que o estudioso francês Gerbert de Aurillac aprendeu o novo sistema com os mouros e depois, já como Papa Silvestre II, estimulou sua introdução nas escolas e universidades de diversos países europeus.
A popularização do sistema de numeração indo-arábico só se tornaria efetiva a partir de 1202, o ano em que Leonardo Pisano, o Fibonacci, depois de aprender essa numeração na Argélia, publicou o Liber Abaci (Livro dos Ábacos, em Latim), um livro que mostrava como as operações aritméticas poderiam ser feitas, a partir dela, sem recorrer aos ábacos.
Cardinal civilizado
Não sem razão, o filósofo e matemático inglês Alfred North Whitehead (1861 - 1947) considerou o zero o mais civilizado dos cardinais, por ter surgido em decorrência e por necessidade das formas cultas de pensamento.
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