quarta-feira, 7 de outubro de 2009

RAINHA MORTA

INÊS DE CASTRO

Dom Pedro (1320-1367), filho de Afonso IV e príncipe herdeiro do trono de Portugal, casou-se secretamente com a dama espanhola Inês de Castro, após ficar viúvo de Constância de Aragão, falecida em 1349. Pedro e Inês viveram seus amores no Paço de Santa Clara, às margens do rio Mondego, em Coimbra.

Paço de Santa Clara

Rio Mondego

Afonso IV, o Rei Benigno, aconselhado por cortesãos, que temiam uma influência espanhola sobre o trono de Portugal, determinou a morte de Inês, em 1355, aproveitando-se do fato de que o filho Pedro estava ausente, ou lutando pelo Reino de Castilha, segundo uns, ou numa estação de caça, segundo outros.

- Benigno e pusilâmine.

Três cortesãos, Pero Coelho, Diego Lopes Pacheco e Álvaro Gonçalves, foram encarregados de executar a pobre dama, missão que teriam cumprido com requintes de crueldade, degolando Inês sem nenhuma piedade. Segundo a tradição popular, o sangue de Inês ficou gravado numa rocha e nela permanecerá para sempre.


Morte de Inês (óleo sobre tela, de Columbano Bordalo Pinheiro)

Rei Cruel

Desvairado com o ocorrido, Dom Pedro insurgiu-se contra o pai, derrotou-o, corou-se rei de Portugal e perseguiu os carrascos de Inês, torturando dois deles até a morte, Pero Coelho e Álvaro Gonçalves. Isso ocorreu em 1358.
O cronista Fernão Peres fez um relato da vingança, consumada nos Paços de Santarém:

- D. Pedro mandou amarrar as vítimas, cada uma a seu poste de suplício, enquanto os cozinheiros de sua Corte preparavam um lauto banquete de cerimônia. O rei
não poupou requintes de horror no castigo implacável. Mandou o carrasco tirar a um o coração pelas costas e a outro, o coração pelo peito. Por fim, como sentisse que não bastava a tortura tremenda, ainda teve coragem para trincar aqueles corações que, para ele, seriam malditos para sempre.

Pedro, considerado como Pedro I em Portugal, passou à história com os epítetos de Rei Justiceiro e de Rei Cruel. Reza uma das versões que em 1361 mandou exumar o cadáver de Inês, coroando-a rainha depois de morta e obrigou a nobreza a beijar-lhe a mão de rainha.

Mosteiro de Alcobaça

Os restos mortais de Pedro e Inês estão em túmulos suntuosos no Mosteiro de Alcobaça, cidade que fica a 109 quilômetros de Lisboa.


Mosteiro de Alcobaça

Inês nos Lusíadas

Inês de Castro é o tema das estrofes de 118 a 135 do Canto III dos Lusíadas, o qual reproduz a história de Portugal como narrada por Vasco da Gama ao rei de Melinde (uma cidade que hoje pertence ao Quênia, na costa do Índico). Abaixo, quatro estrofes do Canto III alusivas ao episódio de Inês:

Estrofe 120

Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.



Camões

Estrofe 127

Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar uma donzela
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.

Inês e o Rei Justiceiro

Estrofe 129

Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
Ali, com o amor intrínseco e vontade
Naquele por quem morro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.

Estrofe 135

As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram;
O nome lhe puseram, que inda dura,
"Dos amores de Inês", que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água, e o nome Amores!

Universidade de Coimbra

2 comentários:

Francisco disse...

Gosto dessas intertextualidades

cirandeira disse...

"Agora é tarde, Inês é morta"! Crescí ouvindo dizerem esta frase... Quantas estórias foram criadas, poemas foram cantados em homenagem àquela cujo "crime" cometido foi apaixonar-se por um homem envolvido com o poder...!?
Acredito que ainda hoje, a maioria
das pessoas não conhece a estória de Inês de Castro. A história universal está repleta de casos semelhantes. Lamentavelmente.
Acho que é sempre bom voltarmos ao passado para revermos fatos que jamais deveriam ter acontecido. E fazes isso muito bem
Um bom feriado