Dom Pedro (1320-1367), filho de Afonso IV e príncipe herdeiro do trono de Portugal, casou-se secretamente com a dama espanhola Inês de Castro, após ficar viúvo de Constância de Aragão, falecida em 1349. Pedro e Inês viveram seus amores no Paço de Santa Clara, às margens do rio Mondego, em Coimbra.
- Benigno e pusilâmine.
Três cortesãos, Pero Coelho, Diego Lopes Pacheco e Álvaro Gonçalves, foram encarregados de executar a pobre dama, missão que teriam cumprido com requintes de crueldade, degolando Inês sem nenhuma piedade. Segundo a tradição popular, o sangue de Inês ficou gravado numa rocha e nela permanecerá para sempre.
Desvairado com o ocorrido, Dom Pedro insurgiu-se contra o pai, derrotou-o, corou-se rei de Portugal e perseguiu os carrascos de Inês, torturando dois deles até a morte, Pero Coelho e Álvaro Gonçalves. Isso ocorreu em 1358.
O cronista Fernão Peres fez um relato da vingança, consumada nos Paços de Santarém:
- D. Pedro mandou amarrar as vítimas, cada uma a seu poste de suplício, enquanto os cozinheiros de sua Corte preparavam um lauto banquete de cerimônia. O rei não poupou requintes de horror no castigo implacável. Mandou o carrasco tirar a um o coração pelas costas e a outro, o coração pelo peito. Por fim, como sentisse que não bastava a tortura tremenda, ainda teve coragem para trincar aqueles corações que, para ele, seriam malditos para sempre.
Pedro, considerado como Pedro I em Portugal, passou à história com os epítetos de Rei Justiceiro e de Rei Cruel. Reza uma das versões que em 1361 mandou exumar o cadáver de Inês, coroando-a rainha depois de morta e obrigou a nobreza a beijar-lhe a mão de rainha.
Mosteiro de Alcobaça
Os restos mortais de Pedro e Inês estão em túmulos suntuosos no Mosteiro de Alcobaça, cidade que fica a 109 quilômetros de Lisboa.
Inês nos Lusíadas
Inês de Castro é o tema das estrofes de 118 a 135 do Canto III dos Lusíadas, o qual reproduz a história de Portugal como narrada por Vasco da Gama ao rei de Melinde (uma cidade que hoje pertence ao Quênia, na costa do Índico). Abaixo, quatro estrofes do Canto III alusivas ao episódio de Inês:
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
Estrofe 127
Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar uma donzela
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.
Estrofe 129
Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
Ali, com o amor intrínseco e vontade
Naquele por quem morro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.
Estrofe 135
As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram;
O nome lhe puseram, que inda dura,
"Dos amores de Inês", que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água, e o nome Amores!
De teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
Camões
Estrofe 127
Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar uma donzela
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.
Estrofe 129
Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
Ali, com o amor intrínseco e vontade
Naquele por quem morro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.
Estrofe 135
As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram;
O nome lhe puseram, que inda dura,
"Dos amores de Inês", que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água, e o nome Amores!
Universidade de Coimbra
2 comentários:
Gosto dessas intertextualidades
"Agora é tarde, Inês é morta"! Crescí ouvindo dizerem esta frase... Quantas estórias foram criadas, poemas foram cantados em homenagem àquela cujo "crime" cometido foi apaixonar-se por um homem envolvido com o poder...!?
Acredito que ainda hoje, a maioria
das pessoas não conhece a estória de Inês de Castro. A história universal está repleta de casos semelhantes. Lamentavelmente.
Acho que é sempre bom voltarmos ao passado para revermos fatos que jamais deveriam ter acontecido. E fazes isso muito bem
Um bom feriado
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