CEM CIENTISTAS CONTRA EINSTEIN
Em sua juventude, Einstein, nascido na Alemanha, desligou-se da família quando esta transferiu-se para Milão e decidiu estudar na Suíça. No mesmo ano em que recebeu um doutorado de Física na Universidade de Zurique, apresentou, em 1905, suas teorias sobre o caráter dual da luz, sobre o efeito fotoelétrico, sobre o movimento browniano e sobre a relatividade especial, quando tinha 26 anos.
Resumidamente
Caráter dual da luz: a luz pode apresentar-se ou como onda ou como partícula, dependendo da experiência que estiver sendo conduzida pelo observador. A Física Quântica surgiu a partir dessa constatação, e muitos dizem que a natureza tem dois modelos mutuamente excludentes, apenas um apresentando-se para o observador.
Efeito fotoelétrico: a incidência da luz de alta energia sobre um metal desloca seus elétrons, criando eletricidade.
Movimento browniano: grãos de pólen boiando num copo de água se movimentam constantemente, como consequência dos choques dos grãos com as moléculas da água.
Relatividade especial: a velocidade da luz é máxima e tem caráter absoluto; o espaço e o tempo não são absolutos, nem independentes, constituindo uma única entidade geométrica, o espaço-tempo, com quatro dimensões (as três dimensões do espaço mais a dimensão do tempo). A velocidade da luz não é afetada pela velocidade da fonte, que a produz, nem pela velocidade do observador, que a recebe, contrariando frontalmente a mecânica clássica; a passagem do tempo ocorre em diferentes velocidades para observadores em diferentes esquemas em movimento.
A teoria da relatividade espacial mudou inteiramente a noção que se tinha de espaço e de tempo e seria complementada, pelo próprio Einstein, em 1915, com a teoria da relatividade geral, na qual se introduziu a gravidade. A relatividade geral esclarece que a matéria não atrai matéria, mas deforma o espaço; este, deformado, indica o caminho a ser seguido pela matéria.
Campanha
A campanha contra os judeus na Alemanha começou muito antes da ascensão de Hitler ao poder, em 1933. Desde 1920 a teoria da relatividade, de Albert Einstein, era tachada pelo partido nazista como parte da “física judia”. A partir de 1930, Einstein e outros intelectuais judeus começaram a ser efetivamente perseguidos. Foi publicado na Alemanha, em 1931, um livro chamado “Cem Cientistas Contra Einstein”, que não passava de um panfleto anti-semita. Einstein reagiu ao mesmo com as seguintes palavras:
- Se eu estivesse errado, bastaria um.
No ano seguinte, com a cabeça a prêmio, Einstein mudou-se com a segunda mulher, a prima Elsa Löwenthal, para os EUA.
Nunca mais voltou à Europa.
Queima de livros, obscurantismo total e absoluto
No dia 10 de maio de 1933, os nazistas da Liga dos Estudantes Alemães fizeram em Berlim a queima espetacular de 10 mil livros, diante da Universidade Humboldt, na atual praça Bebelplatz, que abriga hoje "o memorial da queima de livros". Entre os livros queimados, estavam os de Albert Einstein, Stefan Zweig, Heinrich e Thomas Mann, Sigmund Freud, Kafka e Heine.
sábado, 26 de setembro de 2009
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
A VELHINHA DA ANTERO DE QUENTAL
SOU CANDIDATO AO PRÊMIO NOBEL?
Acabo de ser aprovado no vestibular de Física, eu que voltei aos estudos há apenas oito meses. E, por ser mais velho que meus colegas, tenho medo de ter passado do ponto. Foi esse o motivo que me levou a pesquisar sobre a idade produtiva de Newton, Einstein, Maxwell, Bohr, Heisenberg e Gödel, os fundadores da ciência moderna.
Embora não seja candidato a gênio, constatei o que não queria: a precocidade dos iluminados da ciência. É só conferir:
(1) Os principais trabalhos de Isaac Newton foram concluídos antes dos 25 anos, uma boa parte no tempo em que ficou isolado em Woolsthorpe, uma vila rural, ao abrigo da peste que assolou a Inglaterra em 1665 e obrigou ao fechamento da Universidade de Cambridge. Não sem razão, 1665 é chamado de "anus miraculous" de Newton.
- A peste grassando, avassaladora, e Newton, numa boa, navegando no seu "anus miraculous" e formulando a Lei da Gravitação Universal.
(2) Albert Einstein apresentou em 1905, "anus miraculous" que lhe coube, as teorias sobre a natureza dual da luz, sobre o efeito fotoelétrico, sobre o movimento browniano e sobre a relatividade especial. Tinha então 26 anos. No seu trabalho burocrático, entre examinar uma e outra patente, Einstein reformulou as noções de espaço e tempo e pautou uma nova era para a ciência.
- Fora da Física, Einstein só pensava em Mileva Maric, a sua "Boneca".
(3) James Clerk Maxwell, cujas equações uniram a eletricidade ao magnetismo e à ótica, foi considerado gênio aos 24 anos; Werner Heisenberg estabeleceu o princípio da incerteza com 26 anos; Niels Bohr ganhou a medalha de ouro da Academia de Ciências da Dinamarca aos 22 anos, por seus trabalhos sobre tensão superficial da água, antes de enunciar o princípio da complementaridade; Kurt Gödel abalou os alicerces da Matemática quando tinha apenas 25 anos.
Necessidade financeira
Muito simples, pensei, com a minha mania de induções e generalizações rápidas. Entre os 20 e os 30 anos situa-se a idade do casamento, e surge a necessidade de conseguir o sustento da família. Não resta ao gênio senão fazer o que sabe, que é colocar em prática a sua genialidade. Einstein, por exemplo, casou-se em 1903 com a sérvia Mileva Maric, pouco antes de impor-se ao mundo, e o conjunto de façanhas de 1905 foi necessário para conseguir o dinheiro do aluguel, sendo certo, entretanto, que o Prêmio Nobel de Einstein só viria em 1921, no valor de 32.250 dólares da época.
- Se o negócio for movido a necessidade estou do lado bom, que é o lado de dentro. Apesar dos meus 32 anos...
Cabe, portanto, um adendo à minha indução. A consolidação do gênio ocorre entre os 25 e os 30 anos e resulta de uma necessidade financeira, que era essa a situação de Einstein e Gödel; uma forma alternativa de motivação de genialidade também pode ter lugar, em qualquer idade, se o gênio estiver se afirmando perante a amada, como na situação de Shrödinger nos Alpes, o qual, aliás, nunca teve nenhum problema financeiro.
- Continuo dentro. Falta só a Dama de Arosa...
Sou candidato ao Prêmio Nobel?
Um amigo me perguntou se tenho pretensão de ser um Bohr, um Einstein ou, considerando a minha idade, um Schrödinger, pois estranhou essa pesquisa de idades e amantes.
- Acho que você está querendo ganhar um Prêmio Nobel!
Edith Pastoril
Informei-lhe que meu só desejo é ser um bom professor de Física. Quanto ao Prêmio Nobel, dou a mesma resposta de Dona Edith Pastoril, a nonagenária da Antero de Quental, quando lhe perguntam se acha possível receber uma proposta de casamento:
- Por que não? A gente nunca sabe...
Acabo de ser aprovado no vestibular de Física, eu que voltei aos estudos há apenas oito meses. E, por ser mais velho que meus colegas, tenho medo de ter passado do ponto. Foi esse o motivo que me levou a pesquisar sobre a idade produtiva de Newton, Einstein, Maxwell, Bohr, Heisenberg e Gödel, os fundadores da ciência moderna.
Embora não seja candidato a gênio, constatei o que não queria: a precocidade dos iluminados da ciência. É só conferir:
(1) Os principais trabalhos de Isaac Newton foram concluídos antes dos 25 anos, uma boa parte no tempo em que ficou isolado em Woolsthorpe, uma vila rural, ao abrigo da peste que assolou a Inglaterra em 1665 e obrigou ao fechamento da Universidade de Cambridge. Não sem razão, 1665 é chamado de "anus miraculous" de Newton.
- A peste grassando, avassaladora, e Newton, numa boa, navegando no seu "anus miraculous" e formulando a Lei da Gravitação Universal.
(2) Albert Einstein apresentou em 1905, "anus miraculous" que lhe coube, as teorias sobre a natureza dual da luz, sobre o efeito fotoelétrico, sobre o movimento browniano e sobre a relatividade especial. Tinha então 26 anos. No seu trabalho burocrático, entre examinar uma e outra patente, Einstein reformulou as noções de espaço e tempo e pautou uma nova era para a ciência.
- Fora da Física, Einstein só pensava em Mileva Maric, a sua "Boneca".
(3) James Clerk Maxwell, cujas equações uniram a eletricidade ao magnetismo e à ótica, foi considerado gênio aos 24 anos; Werner Heisenberg estabeleceu o princípio da incerteza com 26 anos; Niels Bohr ganhou a medalha de ouro da Academia de Ciências da Dinamarca aos 22 anos, por seus trabalhos sobre tensão superficial da água, antes de enunciar o princípio da complementaridade; Kurt Gödel abalou os alicerces da Matemática quando tinha apenas 25 anos.
Necessidade financeira
Muito simples, pensei, com a minha mania de induções e generalizações rápidas. Entre os 20 e os 30 anos situa-se a idade do casamento, e surge a necessidade de conseguir o sustento da família. Não resta ao gênio senão fazer o que sabe, que é colocar em prática a sua genialidade. Einstein, por exemplo, casou-se em 1903 com a sérvia Mileva Maric, pouco antes de impor-se ao mundo, e o conjunto de façanhas de 1905 foi necessário para conseguir o dinheiro do aluguel, sendo certo, entretanto, que o Prêmio Nobel de Einstein só viria em 1921, no valor de 32.250 dólares da época.
- Se o negócio for movido a necessidade estou do lado bom, que é o lado de dentro. Apesar dos meus 32 anos...
Uma coisa ou outra
Examinei depois o caso de Erwin Schrödinger, descobridor de que o comportamento do elétron pode ser explicado por uma equação de onda, que o situa em diferentes posições no espaço. Ao mesmo tempo! Muito complicado e, não obstante, uma vitória da inteligência humana. Pois bem, Schrödinger formulou essa teoria em 1926, quando tinha já 39 anos, e esse fato pode ser um argumento a meu favor, que só serei físico aos 35 anos. O bravo Schrödinger elaborou seu trabalho quando passava uma temporada com uma amante misteriosa nos Alpes suíços, a qual ficou conhecida nos meios científicos como a Dama de Arosa.
- Querida, veja a equaçãozinha que eu criei...
- Querida, veja a equaçãozinha que eu criei...
Cabe, portanto, um adendo à minha indução. A consolidação do gênio ocorre entre os 25 e os 30 anos e resulta de uma necessidade financeira, que era essa a situação de Einstein e Gödel; uma forma alternativa de motivação de genialidade também pode ter lugar, em qualquer idade, se o gênio estiver se afirmando perante a amada, como na situação de Shrödinger nos Alpes, o qual, aliás, nunca teve nenhum problema financeiro.
- Continuo dentro. Falta só a Dama de Arosa...
Um amigo me perguntou se tenho pretensão de ser um Bohr, um Einstein ou, considerando a minha idade, um Schrödinger, pois estranhou essa pesquisa de idades e amantes.
- Acho que você está querendo ganhar um Prêmio Nobel!
Edith Pastoril
Informei-lhe que meu só desejo é ser um bom professor de Física. Quanto ao Prêmio Nobel, dou a mesma resposta de Dona Edith Pastoril, a nonagenária da Antero de Quental, quando lhe perguntam se acha possível receber uma proposta de casamento:
- Por que não? A gente nunca sabe...
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
QUATRO POETAS DE NOME MANUEL
IDENTIFIQUE O MANUEL PELOS VERSOS
Manuel I
Para entender a poesia nós temos dois caminhos:
O da sensibilidade, que é o entendimento do corpo,
E o da inteligência, que é o entendimento do espírito.
Eu escrevo com o corpo;
Poesia não é para compreender, mas para incorporar.
Manuel II
- Não posso crer que se conceba
Do amor senão o gozo físico!
O meu amante morreu bêbado,
E meu marido morreu tísico!
Manuel III
Íamos viver toda a vida juntos.
Íamos morrer toda a morte juntos.
Não sei se sabes o que significa a palavra adeus.
Adeus quer dizer já não olhar-se nunca mais,
Viver entre outras gentes,
Rir-se de outras coisas,
Morrer-se de outras penas.
Adeus é separar-se, entende?
Separar-se, esquecendo a juventude, como traje inútil.
Adeus.
Manuel IV
- Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fanático corria:
Outro Aretino fui... A santidade
Manchei! Oh!, se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
Confira
II: Manuel Bandeira
III: Manuel Scorza
IV: Manuel Maria Barbosa du Bocage
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Já beócio não sou!
Gorki e Camus
Foi do Museu que May me ligou.
- Quero convidá-lo para ver uma peça.
- Peça, sobre o quê? Quando?
- "Pequenos Burgueses", de Máximo Gorki, hoje à noite. Sobre os Bessemenovs, uma família russa em decadência.
- Mas...
- Nem pense em recusar, pois já adquiri os ingressos.
Tudo foi, para mim, um alumbramento: o teatro, o ambiente, o ritual. E a peça, não sei se tinha visto alguma assim densa e interessante. Um pai arbitrário, uma filha deprimida, um filho pretensioso e Nill, o trombeta de Deus! Era a classe média assoberbada pelo tédio, numa sociedade em plena e decidida decomposição.
Modelo idiota
Saí do teatro ainda mais convencido de que era necessário introduzir o viés da cultura em minha vida, jogando na lata do lixo aquele modelo idiota em que eu só pensava em integrais, vetores, transformadas de Laplace, eletricidade e mecânica. Nesse processo de ruminar minha inferioridade, lembrei-me de Charles Percy Snow, o intelectual inglês para o qual poucos cientistas leem Charles Dickens ou uma peça de Shakespeare, e poucos artistas conhecem o Segundo Princípio da Termodinâmica.
- Assim, concluía Snow, fica muito difícil resolver os problemas do mundo.
- Fica mesmo, concordo, aqui do meu cantinho. Não que eu me considere um cientista na acepção integral da palavra, mas não posso continuar sendo um analfabeto cultural em plena cidade do Rio de Janeiro.
- Já tenho os ingressos.
- Mas qual o filme?
- Isso também é importante. "O Estrangeiro", baseado num romance de Albert Camus.
- Albert Camus?
Ora, pois. O senhor Meursault decide ir ao enterro da mãe, cuja idade desconhece. Sei lá, sessenta anos. Encontra-se depois com Marie Cardona e vê um filme de Fernandel; Mersault relaciona-se com um vizinho, Salamano, que tem um cachorro nojento; e com outro, Raymond Sintès, que é cafetão e tem o hábito de espancar a mulher até o sangramento.
No domingo, Meursault, Marie Cardona e Raymond vão para a casa de praia de Masson, um amigo de Raymond. Dois árabes atacam Raymond na praia, pois querem vingar-se da surra que ele deu na prostituta. São repelidos por Raymond e Masson, que, a seguir, voltam para casa.
Meursault passeia pela praia sozinho e avista um dos árabes, que exibe a faca, mas sem nenhuma atitude agressiva. Era só Meursault voltar também para casa, e tudo estaria terminado. Mas havia o sol na cara. Mersault atira, e o árabe tomba, fulminado. Depois atira mais quatro vezes contra o corpo inerte do homem caído.
O advogado, o juiz e o promotor tentam entender o gesto de Mersault, que, de fato, nunca se arrepende de nada porque é dominado pelo que vai acontecer.
- Eu matei o árabe por causa do sol.
O capelão insiste em falar com o senhor Meursault, pois precisa conquistar sua alma de condenado à morte.
- Deus irá ajudá-lo, Meursault.
- Não quero que ninguém me ajude, e falta-me tempo para me interessar pelo que não me interessa.
Indiferença perante a vida. desdém por todas as circunstâncias. Uma obra de Camus, mostrando, numa reflexão sobre o absurdo, um homem que se estranha, estrangeiro de si próprio.
- Muito esquisito.
- Bota esquisito nisso, Carlinhos.
Dar mais atenção aos cadernos internos do jornal,
ler Proust, a Divina Comédia e o Dom Quixote,
ir ao Municipal,
ser capaz de reconhecer uma ária da Traviata ou uma sonata de Beethoven,
aprender Francês, que isso de só saber Inglês já está ficando ridículo, e jogar bridge.
Ilíada, Finnegans Wake,
mitologia grega e escandinava,
Noberto Bobbio, Kierkegaard e Condillac.
E, claro, vinhos, filosofia e economia política.
Ficar atento às oportunidades culturais.
E gritar, como um Bocage desvairado do Baixo Leblon:
- Gente ímpia, rasgai os meus versos e crede na eternidade, que já beócio não sou!
Ou não estarei à altura da May.
Foi do Museu que May me ligou.
- Quero convidá-lo para ver uma peça.
- Peça, sobre o quê? Quando?
- "Pequenos Burgueses", de Máximo Gorki, hoje à noite. Sobre os Bessemenovs, uma família russa em decadência.
- Mas...
- Nem pense em recusar, pois já adquiri os ingressos.
Pequenos burgueses
May, ao volante, tomou o rumo do Teatro Villa-Lobos. Foi durante o percurso que ela me explicou que Máximo Gorki teve uma vida miserável, trabalhando como lavador de pratos, pescador, vendedor de frutas, muitas vezes sobrevivendo até como vagabundo. Chegou a tentar o suicídio, no desespero de quem se sente perdido, no meio de muita gente corrupta e miserável. Ele se consagrou, porém, ao escrever os "Pequenos Burgueses", pois a decadência dos Bessemenovs, com todas as suas contradições, era uma amostra do que acontecia na Rússia que antecedeu a Revolução Comunista.Tudo foi, para mim, um alumbramento: o teatro, o ambiente, o ritual. E a peça, não sei se tinha visto alguma assim densa e interessante. Um pai arbitrário, uma filha deprimida, um filho pretensioso e Nill, o trombeta de Deus! Era a classe média assoberbada pelo tédio, numa sociedade em plena e decidida decomposição.
Modelo idiota
Saí do teatro ainda mais convencido de que era necessário introduzir o viés da cultura em minha vida, jogando na lata do lixo aquele modelo idiota em que eu só pensava em integrais, vetores, transformadas de Laplace, eletricidade e mecânica. Nesse processo de ruminar minha inferioridade, lembrei-me de Charles Percy Snow, o intelectual inglês para o qual poucos cientistas leem Charles Dickens ou uma peça de Shakespeare, e poucos artistas conhecem o Segundo Princípio da Termodinâmica.
- Assim, concluía Snow, fica muito difícil resolver os problemas do mundo.
- Fica mesmo, concordo, aqui do meu cantinho. Não que eu me considere um cientista na acepção integral da palavra, mas não posso continuar sendo um analfabeto cultural em plena cidade do Rio de Janeiro.
O estrangeiro
- Já tenho os ingressos.
- Mas qual o filme?
- Isso também é importante. "O Estrangeiro", baseado num romance de Albert Camus.
- Albert Camus?
Ora, pois. O senhor Meursault decide ir ao enterro da mãe, cuja idade desconhece. Sei lá, sessenta anos. Encontra-se depois com Marie Cardona e vê um filme de Fernandel; Mersault relaciona-se com um vizinho, Salamano, que tem um cachorro nojento; e com outro, Raymond Sintès, que é cafetão e tem o hábito de espancar a mulher até o sangramento.
No domingo, Meursault, Marie Cardona e Raymond vão para a casa de praia de Masson, um amigo de Raymond. Dois árabes atacam Raymond na praia, pois querem vingar-se da surra que ele deu na prostituta. São repelidos por Raymond e Masson, que, a seguir, voltam para casa.
Meursault passeia pela praia sozinho e avista um dos árabes, que exibe a faca, mas sem nenhuma atitude agressiva. Era só Meursault voltar também para casa, e tudo estaria terminado. Mas havia o sol na cara. Mersault atira, e o árabe tomba, fulminado. Depois atira mais quatro vezes contra o corpo inerte do homem caído.
O advogado, o juiz e o promotor tentam entender o gesto de Mersault, que, de fato, nunca se arrepende de nada porque é dominado pelo que vai acontecer.
- Eu matei o árabe por causa do sol.
O capelão insiste em falar com o senhor Meursault, pois precisa conquistar sua alma de condenado à morte.
- Deus irá ajudá-lo, Meursault.
- Não quero que ninguém me ajude, e falta-me tempo para me interessar pelo que não me interessa.
Indiferença perante a vida. desdém por todas as circunstâncias. Uma obra de Camus, mostrando, numa reflexão sobre o absurdo, um homem que se estranha, estrangeiro de si próprio.
- Muito esquisito.
- Bota esquisito nisso, Carlinhos.
Minha opção
Dar mais atenção aos cadernos internos do jornal,
ler Proust, a Divina Comédia e o Dom Quixote,
ir ao Municipal,
ser capaz de reconhecer uma ária da Traviata ou uma sonata de Beethoven,
aprender Francês, que isso de só saber Inglês já está ficando ridículo, e jogar bridge.
Ilíada, Finnegans Wake,
mitologia grega e escandinava,
Noberto Bobbio, Kierkegaard e Condillac.
E, claro, vinhos, filosofia e economia política.
Ficar atento às oportunidades culturais.
E gritar, como um Bocage desvairado do Baixo Leblon:
- Gente ímpia, rasgai os meus versos e crede na eternidade, que já beócio não sou!
Ou não estarei à altura da May.
sábado, 5 de setembro de 2009
IMAGEM DO UNIVERSO (39/n)
BURACOS NEGROS
Se um corpo for lançado para o alto, com velocidade de lançamento não superior a 11,2 quilômetros por segundo, o progresso do seu movimento é obstruído pelo campo gravitacional da Terra e o corpo cai sobre a superfície da mesma. Se superior a 11,2 km/s, o corpo escapa à ação gravitacional da Terra e a esta não volta mais. Todos os objetos na Terra sujeitam-se à mesma velocidade de escape de 11,2 km/s, independentemente de sua massa, seja esta de um quilograma ou de uma tonelada.
A velocidade de escape depende da massa e do campo gravitacional do corpo celeste e da distância do objeto a ser lançado ao centro de gravidade do referido corpo celeste.
- A velocidade de escape da da Lua é de de 2,4 km/s, a de Júpiter, de 61 km/s, e a do Sol, de 620 km/s.
Nem a luz
Chama-se de "buraco negro" ao corpo celeste cuja velocidade de escape é igual à velocidade da luz; como nada pode superar a velocidade da luz, segue-se que nada escapa do buraco negro, nem mesmo a própria luz. Torna-se impossível ver um astro desse tipo, pois sua luz não nos alcança, o que explica o nome que lhe foi atribuído.
- Os buracos negros são consumidores de informações.
Os buracos negros podem ter vários tamanhos. Alguns, nos centros das galáxias, teriam se formado pelo colapso do núcleo galático e podem pesar bilhões de massas solares. São buracos negros supermaciços. Há também buracos negros estelares, que resultam da última etapa da evolução das estrelas, sempre que sua massa for suficientemente elevada (superior a duas massas solares), na sua evolução para gigantes vermelhas e supernovas. As estrelas de nêutrons resultam das supernovas e, ao fim e ao cabo, transformam-se em buracos negros.
Se um corpo for lançado para o alto, com velocidade de lançamento não superior a 11,2 quilômetros por segundo, o progresso do seu movimento é obstruído pelo campo gravitacional da Terra e o corpo cai sobre a superfície da mesma. Se superior a 11,2 km/s, o corpo escapa à ação gravitacional da Terra e a esta não volta mais. Todos os objetos na Terra sujeitam-se à mesma velocidade de escape de 11,2 km/s, independentemente de sua massa, seja esta de um quilograma ou de uma tonelada.
A velocidade de escape depende da massa e do campo gravitacional do corpo celeste e da distância do objeto a ser lançado ao centro de gravidade do referido corpo celeste.
- A velocidade de escape da da Lua é de de 2,4 km/s, a de Júpiter, de 61 km/s, e a do Sol, de 620 km/s.
Nem a luz
Chama-se de "buraco negro" ao corpo celeste cuja velocidade de escape é igual à velocidade da luz; como nada pode superar a velocidade da luz, segue-se que nada escapa do buraco negro, nem mesmo a própria luz. Torna-se impossível ver um astro desse tipo, pois sua luz não nos alcança, o que explica o nome que lhe foi atribuído.
- Os buracos negros são consumidores de informações.
Os buracos negros podem ter vários tamanhos. Alguns, nos centros das galáxias, teriam se formado pelo colapso do núcleo galático e podem pesar bilhões de massas solares. São buracos negros supermaciços. Há também buracos negros estelares, que resultam da última etapa da evolução das estrelas, sempre que sua massa for suficientemente elevada (superior a duas massas solares), na sua evolução para gigantes vermelhas e supernovas. As estrelas de nêutrons resultam das supernovas e, ao fim e ao cabo, transformam-se em buracos negros.
Estrelas de nêutrons
Os buracos negros foram previstos pelo astrônomo inglês John Michell (1724-1793), em 1793, numa suposição baseada na lei da gravitação de Newton. Em 1795, Pierre-Simon de Laplace (1749-1827), em seu livro de divulgação "Exposição do Sistema do Mundo" manifestou a convicção de que a gravidade atua sobre a luz, da mesma forma que atua sobre os outros corpos. Eis o que escreveu Laplace:
Perplexidade
" Uma estrela brilhante que tenha densidade igual à da Terra e um diâmetro equivalente a 250 vezes o diâmetro do Sol, por causa de sua gravidade, não permite que os raios de sua luz viajem para nos alcançar; é muito possível que os corpos celestes mais brilhantes do Universo nos sejam totalmente invisíveis."
Laplace acertou na mosca, ele que era muito bom matemático. Pois a estrela brilhante do seu exemplo teria uma velocidade de escape igual a 27 mil vezes a velocidade de escape da Terra, isto é, v. e. = 27.000 x 11,2 = 302, 4 mil k/s (maior que a velocidade da luz).
Laplace acertou na mosca, ele que era muito bom matemático. Pois a estrela brilhante do seu exemplo teria uma velocidade de escape igual a 27 mil vezes a velocidade de escape da Terra, isto é, v. e. = 27.000 x 11,2 = 302, 4 mil k/s (maior que a velocidade da luz).
Karl Schwarzschild
Foi, entretanto, o alemão Karl Schwarzschild (1873-1916) quem construiu a solução matemática do buraco negro, com base na relatividade de Einstein. Pelas suas equações, apresentadas em 1915, nada impede que o buraco negro continue a contrair-se até sua implosão em um ponto no centro do buraco negro. A esse ponto de infinita pressão, densidade e curvatura do espaço-tempo chama-se de "singularidade".
Perplexidade
A mistura impossível de Relatividade e Física Quântica
Recua no tempo e converge para o Big Bang,
O qual tudo acomoda, constrangendo todas as teorias.
Trata-se, como dizem, de uma singularidade,
De muita gravidade e pouca conversa,
Onde o espaço, envergonhado, põe-se a ferver,
E as hipotenusas ficam abraçadinhas com seus catetos.
Avassalado pelo espetáculo soberano da Natureza,
Não vislumbro a Nebulosa de Andrômeda,
Odeio a precessão dos equinócios
E tudo que sei é a Segunda Lei de Newton.
Desentendo com muita competência o grande,
o pequeno e o veloz,
o pequeno e o veloz,
Mas tenho pena e medo dos buracos negros,
Que tudo sabem, mas não dizem.
Que tudo sabem, mas não dizem.
Já me alertaram, porém, que nada se perde,
Nada se cria, tudo se transforma.
Nada se cria, tudo se transforma.
Dizer o quê? Honorificabilitudinitatibus...
Confesso, afinal e muito tristemente,
Confesso, afinal e muito tristemente,
Que sou culpado, muito culpado, de não ter nascido Deus.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
PALAVRAS IMORTAIS
PELA FRASE, DESCUBRA O PERSONAGEM
(1)
- Aos vencedores, as batatas.
(2)
- Eu poderia estar encerrado numa casca de noz e ainda assim
considerar-me rei do espaço infinito, se a mim não me coubessem tantos pesadelos.
(3)
- Cada qual cuide do seu enterro, impossível não há.
(4)
- Melhor me fica, a mim, uma foice na mão que um cetro de governador.
(5)
- Um cavalo! Um cavalo! Meu reino por um cavalo!
- Eu poderia estar encerrado numa casca de noz e ainda assim
considerar-me rei do espaço infinito, se a mim não me coubessem tantos pesadelos.
(3)
- Cada qual cuide do seu enterro, impossível não há.
(4)
- Melhor me fica, a mim, uma foice na mão que um cetro de governador.
(5)
- Um cavalo! Um cavalo! Meu reino por um cavalo!
(6)
- Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
(7)
Confira aqui:
- Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
(7)
- Quem é a bola?
(8)
- Se querer fosse poder, as choupanas se tornariam mansões e as capelas, catedrais exuberantes.
(9)
- Não tem dúvida, não tem dúvida, estou na idade da razão.
(10)
- Maiores são os poderes do povo!
- Se querer fosse poder, as choupanas se tornariam mansões e as capelas, catedrais exuberantes.
(9)
- Não tem dúvida, não tem dúvida, estou na idade da razão.
(10)
- Maiores são os poderes do povo!
Confira aqui:
(1) "Quincas Borba" (em "Quincas Borba", de Machado de Assis)
(2) "Hamlet" (em "Hamlet, o Príncipe da Dinamarca", de Shakespeare)
(3) "Quincas Berro Dágua" (em "Velhos Marinheiros", de Jorge Amado).
(4) "Sancho Panza" (em "Dom Quixote De La Mancha", de Cervantes).
(5) "Ricardo III" (em "A Tragédia de Ricardo III", de Shakespeare)
(6) "Brás Cubas" (em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis)
(7)"Grã-fina das Narinas de Cadáver" (em "Panorama das Chuteiras Imortais", de Nélson Rodrigues)
(8) "Portia" (em "Mercador de Veneza", de Shakespeare)
(9) "Mathieu" (em "A Idade da Razão", de Sartre)
(10) "Corisco" (em "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha)
(2) "Hamlet" (em "Hamlet, o Príncipe da Dinamarca", de Shakespeare)
(3) "Quincas Berro Dágua" (em "Velhos Marinheiros", de Jorge Amado).
(4) "Sancho Panza" (em "Dom Quixote De La Mancha", de Cervantes).
(5) "Ricardo III" (em "A Tragédia de Ricardo III", de Shakespeare)
(6) "Brás Cubas" (em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis)
(7)"Grã-fina das Narinas de Cadáver" (em "Panorama das Chuteiras Imortais", de Nélson Rodrigues)
(8) "Portia" (em "Mercador de Veneza", de Shakespeare)
(9) "Mathieu" (em "A Idade da Razão", de Sartre)
(10) "Corisco" (em "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha)
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