quarta-feira, 25 de julho de 2012

PÍLULAS (2)

(1) O jogador Dedeu terá o salário de um milhão de reais por mês. Quinze vezes o que ganha Barack Obama para tutelar o mundo.

(2) Não sou nenhum Garcia Lorca, que isso fique bem claro. Muito me agrada, porém, a ideia de morrer decentemente na minha cama.

(3)
Viver na Terra proporciona o privilégio de uma viagem anual em torno do Sol.
Inteiramente gratuita.


(4) Jesus de Nazaré, Duque de Caxias, Noca da Portela, Antônio de Pádua, Visconde de Ouro Preto, Xangô da Mangueira e Elvira do Ipiranga.

sábado, 21 de julho de 2012

PÍLULAS (1)



(1) Óperas para misóginos: Aída, La Bohème, Traviata, Trovador, Manon, Rigoletto, Taís, Força do Destino, Tosca. As mulheres morrem no final.

(2) Retas paralelas configuram um namoro bem-sucedido. Elas se casarão no infinito.

(3) Que é que o Piquet tem que eu não tenho? 1,92 m e a Shakira.

(4) Você tem alguma coisa contra a segunda lei de Newton? Força, rapaz, força!

sábado, 14 de julho de 2012

CONTOS DE 150 PALAVRAS (24)

INTELECTUAIS

Certa vez, no início do nosso namoro, Margot me levou a uma festa de intelectuais. Sobravam no ambiente elegância e refinamento:

- Angelina Soares declamou a poesia “Congresso no Polígono das Secas (ritmo senador; sotaque sulista)”, de João Cabral de Melo Neto.

- Os líricos Beniamino Prior e Katia Ricciareli, que então visitavam o Rio de Janeiro, cantaram, à capela, “Parigi, o cara, noi lasceremo”, da Traviata.

- Houve um torneio de mágicas, muito divertido, e até hoje não sei explicar por quê, nem como, a dama de ouros, dividida em quatro, foi parar, toda reconstituída, na bolsa da Valéria Castegliani.

Valéria

A festa encerrou-se depois de algumas projeções coloridas do sítio arqueológico de Epidauro, um santuário situado a nordeste do Peloponeso.

-Margot...

- Vai me perguntar onde fica o Peloponeso?

- Não, não. Quero apenas dizer que essa turma sabe se divertir. O Peloponeso é uma península situada no sul da Grécia.

Angelina

quarta-feira, 11 de julho de 2012

CONTOS DE 150 PALAVRAS (23)

MINHA NAMORADA INTELECTUAL


Uma mulher bonita e esclarecida, egiptóloga, veja só! Sabe tudo sobre o Egito! E eu, idiota que sou, pagando o preço de não poder contribuir para o assunto e concorrendo decisivamente para a banalização dos diálogos: “muito interessante”, “os egípcios eram precoces” e “com que idade ele morreu?” Tinha até me esquecido de que existiu alguém chamado Tutancâmon. E, se me lembro, o que o meu professor de história dizia era "Tutancamon", e não Tutancâmon.


- Um vexame total e absoluto!


Catherine Zeta-Jones, uma bela Cleópatra


Preciso estudar mais, porque essa coisa de só saber física e ler alguma poesia inferioriza e dificulta minha vida como pessoa. Enunciar o teorema das forças vivas e recitar Pásargada ou Confidências de um Itabirano, mais que isso não sei. Que devo fazer?


- Padecer sobre os livros de filosofia, arte, música, história, em vez de ficar perambulando, prevaricando ou malbaratando por aí meu escasso tempo de lazer.

domingo, 8 de julho de 2012

A VAIA DO JULINHO

A VAIA QUE NÃO HOUVE

Naquele Brasil versus Inglaterra de 1959, cento e trinta mil pessoas se comprimiam no Maracanã para ver e homenagear os heróis da Copa do Mundo de 1958. Heróis que no ano anterior haviam acabado com aquela história de que o jogador brasileiro, por causa do complexo de vira-latas de que falava Nélson Rodrigues, sempre se acorvadava nos momentos importantes. Um sentimento de inferioridade que também predominava fora das quatro linhas: quando, em 1949, o Fluminense enfrentou o Arsenal, nas Laranjeiras, o técnico Zezé Moreira instruiu o ponteiro Róbson para não se exceder nos dribles sobre os ingleses, que eram seres superiores e não podiam ser desrespeitados. Resultado do jogo: Arsenal 5x1 Fluminense.
Veio a Copa de 1958 e o desempenho dos nossos craques superou o complexo e resgatou a autoestima dos brasileiros. 
Aquele Brasil versus Inglaterra, primeiro jogo após a grande conquista na Suécia, era, pois, uma celebração. A surpresa veio quando o alto-falante do estádio anunciou que na ponta direita jogaria Julinho, e não Garrincha.
Houve então a vaia, que passou à história como a “vaia do Julinho”.
De fato bom jogador, Julinho, que atuava pelo Fiorentina, da Itália, havia declinado da sua convocação para a mencionada seleção de 1958, com a inusitada alegação de que era necessário ceder a vez para os que jogavam no Brasil. Na verdade, jogar na seleção brasileira, antes da Copa de 1958, era uma empreitada de alto risco, tratando-se de uma seleção até então estigmatizada como perdedora. Por causa da Copa de 1950, Zizinho seis anos depois ainda era vaiado no Maracanã, como aconteceu no jogo Brasil 2x0 Itália, de julho de 1956, em que teve de ser substituído. Além disso, em 1958 teríamos como adversários iniciais a Áustria e as então temíveis seleções da Inglaterra e da União Soviética. Seja como for, a recusa de Julinho, cuja suplência estava reservada para Joel, permitiu a convocação de Garrincha.

No fundo, e sem ironia, Julinho deveria ser aplaudido por esse gesto de recusa, que, ao fim e ao cabo, redundou em tantos benefícios para o Brasil.

Voltemos, porém, à questão da vaia.

Pelo alto-falante, para surpresa de todos, foi anunciado que o ponta direita seria Julinho, e não Garrincha, que, sobre ter sido um dos responsáveis pela conquista de 58, era ídolo do Maracanã desde 1953. Se esse anúncio tivesse sido feito na véspera, metade do público não estaria ali presente .
Ora, faça-me o favor... Escalar Julinho naquele jogo foi um ato de burrice, insensibilidade e covardia. Um resquício do complexo de vira-latas, uma vassalagem ao jogador que jogava na Europa, que não podia ser preterido por um Zé Mané tupiniquim. Só que esse não era um Zé Mané qualquer: era Garrincha, ídolo e alegria do povo, e, de todos os jogadores, o que mais merecia dos cariocas aquelas homenagens.
Veio então a vaia estrondosa: a vaia pela ausência de Garrincha. Ninguém se importou com o substituto, mas com o substituído. Fosse escalado nessa ponta direita o Papa, ou Luther King, ou o Presidente Juscelino, ou Madre Teresa de Calcutá, a vaia teria sido a mesma. Desse modo, Julinho entra nessa história meio de lado, pois ninguém estava interessado em vaiá-lo. 

A “vaia do Julinho” é como a Batalha de Itararé, aquela que nunca houve. Pois o que houve foi a vaia pela inacreditável ausência do Garrincha. O Maracanã não vaiou Julinho porque não tinha nenhuma razão para fazê-lo. Seria dar a Julinho uma importância que ele não teve no episódio.
O jogo foi Brasil 2x0 Inglaterra. Julinho jogou bem, fez um dos gols e deu passe para o outro, o do Henrique Frade. Foi aplaudido por ter jogado bem, não porque os 130 mil torcedores decidiram redimir-se da vaia do Julinho, o que nem faria sentido, tratando-se de uma vaia que não houve.

sábado, 7 de julho de 2012

CONTOS DE 150 PALAVRAS (22)

QUEM É O KURTIS?


Estou lendo Albert Camus, que, ao contrário daquele seu estrangeiro, repudia a depressão e ama a vida:

- Amo a vida, eis a minha verdadeira fraqueza. Amo-a tanto, que não tenho nenhuma imaginação para o que não for vida.


Também amo a vida, pensei, deve ser isso. Amo a vida e quero me reconciliar com a May.


- Tanto tempo passado e esgotado o ressentimento, ela não se recusará a me atender.


Meu coração acelerou quando decidi telefonar.


- May? Despediu-se do Museu há cerca de um mês.


- Foi demitida?


- Não, não, pediu demissão. Casou-se com o Kurtis e se mudou para Paris.


- Kurtis, quem é Kurtis?


- Você é mais um namorado dela?



- Kurtis, quem é o Kurtis?

quarta-feira, 4 de julho de 2012

CONTOS DE 150 PALAVRAS (21)

BIOGRAFIAS

- Li outro dia uma biografia do Aldo Leviatã.

- O senador?

- Sim, escrita pela Aurora Leviatã, sua filha.

- Uma versão filial.

- Ela não sabia que Leviatã tinha uma amante. Possuindo essa informação, teria escrito uma biografia diferente.

- Se quisesse.

- Nem que seus discursos eram escritos por assessores. Ele os decorava, treinando horas a fio diante do espelho.


- Um ingrediente interessante para a biografia.

- E se eu lhe disser que Aurora Leviatã não é filha dele, mas do amante de sua mãe, de cuja existência nem pai nem filha jamais chegaram a saber?

- Isso complica a coisa toda, exigindo reformulação total da biografia lida por você.

- É praticamente impossível saber sobre a vida de alguém de maneira integral, nem o saberia a própria pessoa a ser biografada.

- O que há são versões...

- Boca de Ouro...