(3) Viver na Terra proporciona o privilégio de uma viagem anual em torno do Sol. Inteiramente gratuita.
(4) Jesus de Nazaré, Duque de Caxias, Noca da Portela, Antônio de Pádua, Visconde de Ouro Preto, Xangô da Mangueira e Elvira do Ipiranga.
(1) Óperas para misóginos: Aída, La Bohème, Traviata, Trovador, Manon, Rigoletto, Taís, Força do Destino, Tosca. As mulheres morrem no final.
(2) Retas paralelas configuram um namoro bem-sucedido. Elas se casarão no infinito.
(3) Que é que o Piquet tem que eu não tenho? 1,92 m e a Shakira.
(4) Você tem alguma coisa contra a segunda lei de Newton? Força, rapaz, força!
Certa vez, no início do nosso namoro, Margot me levou a uma festa de intelectuais. Sobravam no ambiente elegância e refinamento:
- Angelina Soares declamou a poesia “Congresso no Polígono das Secas (ritmo senador; sotaque sulista)”, de João Cabral de Melo Neto.
- Os líricos Beniamino Prior e Katia Ricciareli, que então visitavam o Rio de Janeiro, cantaram, à capela, “Parigi, o cara, noi lasceremo”, da Traviata.
- Houve um torneio de mágicas, muito divertido, e até hoje não sei explicar por quê, nem como, a dama de ouros, dividida em quatro, foi parar, toda reconstituída, na bolsa da Valéria Castegliani.
Valéria
A festa encerrou-se depois de algumas projeções coloridas do sítio arqueológico de Epidauro, um santuário situado a nordeste do Peloponeso.
-Margot...
- Vai me perguntar onde fica o Peloponeso?
- Não, não. Quero apenas dizer que essa turma sabe se divertir. O Peloponeso é uma península situada no sul da Grécia.
Angelina
MINHA NAMORADA INTELECTUAL
Uma mulher bonita e esclarecida, egiptóloga, veja só! Sabe tudo sobre o Egito! E eu, idiota que sou, pagando o preço de não poder contribuir para o assunto e concorrendo decisivamente para a banalização dos diálogos: “muito interessante”, “os egípcios eram precoces” e “com que idade ele morreu?” Tinha até me esquecido de que existiu alguém chamado Tutancâmon. E, se me lembro, o que o meu professor de história dizia era "Tutancamon", e não Tutancâmon.
- Um vexame total e absoluto!
Catherine Zeta-Jones, uma bela Cleópatra
Preciso estudar mais, porque essa coisa de só saber física e ler alguma poesia inferioriza e dificulta minha vida como pessoa. Enunciar o teorema das forças vivas e recitar Pásargada ou Confidências de um Itabirano, mais que isso não sei. Que devo fazer?
- Padecer sobre os livros de filosofia, arte, música, história, em vez de ficar perambulando, prevaricando ou malbaratando por aí meu escasso tempo de lazer.
Estou lendo Albert Camus, que, ao contrário daquele seu estrangeiro, repudia a depressão e ama a vida:
- Amo a vida, eis a minha verdadeira fraqueza. Amo-a tanto, que não tenho nenhuma imaginação para o que não for vida.
Também amo a vida, pensei, deve ser isso. Amo a vida e quero me reconciliar com a May.
- Tanto tempo passado e esgotado o ressentimento, ela não se recusará a me atender.
Meu coração acelerou quando decidi telefonar.
- May? Despediu-se do Museu há cerca de um mês.
- Foi demitida?
- Não, não, pediu demissão. Casou-se com o Kurtis e se mudou para Paris.
- Kurtis, quem é Kurtis?
- Você é mais um namorado dela?
- Li outro dia uma biografia do Aldo Leviatã.
- O senador?
- Sim, escrita pela Aurora Leviatã, sua filha.
- Uma versão filial.
- Ela não sabia que Leviatã tinha uma amante. Possuindo essa informação, teria escrito uma biografia diferente.
- Se quisesse.
- Nem que seus discursos eram escritos por assessores. Ele os decorava, treinando horas a fio diante do espelho.
- Um ingrediente interessante para a biografia.
- E se eu lhe disser que Aurora Leviatã não é filha dele, mas do amante de sua mãe, de cuja existência nem pai nem filha jamais chegaram a saber?
- Isso complica a coisa toda, exigindo reformulação total da biografia lida por você.
- É praticamente impossível saber sobre a vida de alguém de maneira integral, nem o saberia a própria pessoa a ser biografada.
- O que há são versões...
- Boca de Ouro...