Dessa vez, com Laura, foi uma despedida consentida, embora emocionada. As partes entendiam que se separavam para cumprir seus destinos. Para além dos nossos momentos inesquecíveis, ficaram-me dela um resumo da teoria da relatividade e um arrazoado que produziu sobre Shakespeare.
- Confortou-me a ideia de que daquela data em diante pesquisaria sobre tudo isso na própria Inglaterra, sem ter de consumir boa parte do salário na importação de livros a câmbio desfavorecido.
Aliás, todos os desenlaces deveriam ser serenos e gentis, assim, pois as partes ficam com saudades recíprocas e nenhum ódio no coração. Resumindo tudo numa única e dolorosa palavra, eu estava só, mais uma vez. Com a Cecília, vencera-nos o tédio; com a May, nem sei direito, tudo ruiu no âmbito de uma confusão para lá de inexplicável; com a Laura, separou-nos o voo do pássaro, na busca do seu destino.
- L’oiseau vole, como no conto do Maupassant.
Drummond nos ensinou que de tudo fica um pouco, e, de um homem e uma mulher, esse pouco que fica é doce resíduo...
Prêmio Nobel
Uma semana após sua partida, escreveu-me, dando conta de que estava se sentindo muito bem no Departamento de Física do Kings College, que tem reputação internacional e recebe profissionais de todas as partes do mundo. Seu trabalho implicaria inicialmente a participação numa pesquisa sobre resistência de materiais, que interessava à cadeira de Mecânica Vibratória, da qual inicialmente seria assistente e, depois, professora adjunta.
A carta terminava mencionando quatro professores do Kings College laureados, no século XX, com o Prêmio Nobel de Física, a saber, Charles G.. Barkla, em 1917, pelos seus trabalhos sobre raios-X; Owen Richardson, em 1928, pelo seu trabalho sobre emissão termiônica; Edward Appleton, em 1947, pelo seus estudos sobre a atmosfera; e Maurice Wilkins, em 1962, que dividiu o prêmio com James Watson e Francis Crick, pela determinação da estrutura do DNA.
Das próximas vezes, acrescentou, poderíamos nos comunicar por email, quando tivesse se organizado minimamente e dispusesse de um computador.
Respondi imediatamente, garantindo-lhe que ficaria torcendo para que fosse para ela o quinto Prêmio Nobel do King’s College, o que, sobre aumentar o prestígio da Universidade de Londres, haveria de deixar mais alegre e mais aquecido este meu peito solitário.
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