sábado, 1 de agosto de 2009

Minha pátria

Sobre camas e guarda-chuvas

Um homem e uma mulher que se conhecem num bar do Leblon e optam no ato pelo uísque de oito anos são cumplíces de um ideal inexorável: a cama. É necessário valorizar cada evento como se fosse o último. Com emoção, Estevinho admirou longamente a beleza de Pascale, deitada a seu lado. Se Aristóteles, que se meteu em tudo, esqueceu-se de dizer que a mulher é a perfeição, eis aí mais um imperdoável erro de Aristóteles. Uma mulher bonita começa pelos olhos, continua nos lábios, prossegue por vales insondáveis e só vai acabar... Não, não acaba não, isso mesmo, uma mulher bonita não acaba nunca. Nua assim, magnífica assim!
Volúpia, entrega, alegria, prazer, apoteoses à primeira potência, apoteoses ao quadrado, apoteoses ao cubo, todas recíprocas e bem fundamentadas, eis os derivativos do amor, que é a melhor das faculdades humanas.

- Um instante de amor, Estevinho, vale por uma boa eternidade...

Depois, o repouso do guerreiro, que é hora boa para filosofar. Quanta obra-prima, livros, filmes, peças e canções há sobre mesas, pianos, luvas, colares, retratos e outras variadas entidades. Um texto de Rubem Braga exalta o guarda-chuva, veja só, um objeto que tem a particularidade de ser esquecido na primeira estiada.


- Amei a sua cama, Estevinho...

Sobre cama, porém, tudo que Estevinho conhecia era a história do homem traído que, ao separar-se da mulher, doou-lhe tudo o que possuía, menos a cama. Pois se a cama tivesse ido com ela,
além da mulher teria perdido a própria alma.

- Pascale?

- Sim?

- Minha pátria é minha cama.

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